Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

30/11/2007

Vim, vi, venci e continuo aqui...
Hoje, 30/11/2007 conclui todas as disciplinas obrigatórias do Curso de Direito da USP, portanto, o canudo está garantido. Contudo, não irei colar grau este ano, pois, mesmo não sendo obrigatório para mim, irei fazer o trabalho de conclusão de curso. Este trabalho é importante para a pós-graduação que pretendo fazer aqui na USP.

Além de apresentar e defender a tese de láurea o ano que vem, também farei algumas optativas que considero importante para o tema que estou estudando, assim como as provas da pós-graduação e o exame da OAB. Logo, será uma ano de estudos intensos e aprofundados.

Mas as coisas ainda não irão acabar depois da pós. As coisas só acabam quando eu chegar a Professor Titular da USP na Faculdade de Direito do Largo São Francisco... Alguns dirão que isso é impossível, mas eu não acredito em impossibilidades. Certamente, sei que terei que enfrentar uma forte e intensa oposição, a máfia da USP e dos arredores, pois hoje o Largo São Francisco é um reduto da classe dominante...

Contudo, isso não me amedronta... Assim como Milton Santos, Florestan Fernandes e muitos outros entraram e contaminaram esta Universidade com suas idéias e suas visões, eu também entrarei e contaminarei a Universidade e as futuras gerações com as minhas idéias e visões.

E a minha meta é puxar, virar, a Faculdade e a Universidade de São Paulo para o lado social, para o lado coletivo. Os grupos dominantes podem ir estudar nos EUA ou na Europa, mas a maioria dos brasileiros não pode. E é nestes brasileiros que eu penso... Brasileiros como eu !!!

Portanto, vim, vi, venci e continuo aqui...

PS: Eu concordo profundamente com Florestan Fernandes que dizia que uma das coisas mais difíceis de fazer é se manter fiel à classe de origem, mas assim como Florestan se manteve fiel, eu também me manterei... A minha causa, portanto, como dizia o Professor Milton Santos, é a causa dos debaixo.

Mais sabotagem na USP...
Foi eu escrever um texto falando dos nazistas, da mídia e da propaganda que a USPnet saiu do ar. Problemas nos servidores, alegaram os técnicos macunaímas. Para mim, o acesso ainda está bloqueado. Neste momento estou usando os computadores que usam rede a cabo. Então, será que podemos concluir que há nazistas na USP e que eles ficaram revoltados, ou seja, não gostaram da revelação ? Eu acho que não. A questão é mais complexa e envolve outras variáveis.

Por exemplo, o próximo passo que irei dar na pesquisa, relacionando a ditadura no Brasil com a mídia e a propaganda brasileira. Talvez eu vá bem mais fundo e queira descobrir a relação da ditadura com as corporações e organizações da sociedade civil, assim como os colaboradores civis do autoritarismo. Sabemos que estão todos aqui. Sabemos que continuam agindo e trabalhando como se nada tivesse acontecido, porém carregam nas costas uma história podre.

Contudo, esses desgraçados jamais irão me vencer. Podem bloquear a rede, comer os servidores, morder as árvores do campus, beberem água do Tietê, etc... Podem fazer tudo que não me afetam e nem me atingem. Eu continuo firme no meu propósito. Certamente, se passarem dos limites posso buscar o apoio da multidão e iniciar um levante popular contra esses grupos dominantes, contra esses exploradores e parasitas da coletividade.

27/11/2007

Seminário preparatório do Fórum Social Mundial defende liberdade de conhecimento
Discutir tecnologia e as mudanças dos meios de produção do conhecimento, relacionando-as com o capitalismo, é o tema do seminário Ciência e capitalismo hoje, que acontece no Centro Universitário Maria Antônia (Ceuma) da USP, entre quarta (28) e quinta (29).

O seminário também visa preparar a contribuição dos pensadores brasileiros ao Fórum Social Mundial (FSM), que, com o tema Ciência e Democracia, ocorrerá em Belém, em 2009. O FSM é organizado, desde 2001, por movimentos sociais com objetivo de ressaltar a diversidade e buscar alternativas para questões sociais.

Pablo Mariconda, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e um organizador de uma das mesas de discussão, resume o objetivo do evento: "discutir algumas das questões cruciais para a relação ciência e sociedade. Dessa forma, discutiremos quatro tópicos: sementes, medicamentos, tecnologias de informação e universidade pública".

O professor Sérgio Amadeu da Silveira, da Faculdade Cásper Líbero, que é e um dos palestrantes do evento, afirma que “as discussões de um ritmo científico adequado ao mundo dependem de fatores, como a propriedade intelectual e a autonomia do conhecimento, e a autonomia está intimamente relacionada com democracia”.

A ciência, segundo ele, sempre cresceu pelo compartilhamento das informações, e não pelo bloqueio. “Estamos sob um ataque. A rede cresceu mais do que os grandes grupos previram. Hoje querem restringir o uso”, lembra o professor, que também recorda o recente episódio de acordo do governo francês com os provedores de internet para barrar o compartilhamento de músicas.

A idéia é corroborada por Mariconda, que explica que "a única maneira em que se pode ter esperança de algum controle social sobre a ciência, é mediante o controle democrático das decisões concernentes a implementação dos produtos e resultados científicos e tecnológicos".

Silveira diz que “nunca se teve tanta capacidade de compartilhar conhecimento e informações, mas os grandes grupos internacionais bloqueiam a internet para manter os fluxos de riqueza”. Uma das formas de manter os lucros, segundo o professor, é a negação de acesso às informações, como ocorre com as patentes e copyrights.

A relação com o FSM mora, para o professor da Cásper, na similaridade das metas, já que os movimentos que participam do Fórum querem uma outra globalização, a autonomia do saber. “A liberdade depende do conhecimento. Não queremos ser meros consumidores dos produtos dos países do primeiro mundo”, fala Silveira.

Para a discussão na USP, estarão presentes, além dos professores da Universidade, membros de outras instituições de ensino do país e do exterior, como José Luís Garcia, da Universidade de Lisboa, e Terry Schinn, do Maison des Sciences de l’Homme, da França.

Serviço:


Veja a programação completa:

26/11/2007

Chavez, as FARC e a cabeça do Uribe

A primeira coisa que eu pensei quando li sobre a "suposta" mediação do Chavez na questão das Farc foi: "o Chavez não vai negociar a troca de reféns, mas sim a cabeça do Uribe". Isso porque as FARC e o Chavez tem o mesmo inimigo: o Uribe. Ambos o consideram um filhote dos EUA, ambos são de esquerda, etc.

Certamente, essa história ainda vai feder muito, principalmente agora que o Chavez diz que vai cortar relações com a Colômbia porque foi excluído da negociação. Possivelmente, o Uribe agiu antes que o Chavez acordasse com as Farc o preço pela cabeça deles.

E cortar relações diplomáticas porque a Colômbia não quer mais a mediação do Chavez é uma estupidez que tinha que sair da cabeça de um ditador. Ele quer se impor até como mediador nos conflitos alheios.

Mas o perigo não é só a negociação com as Farc. O Chavez também contatou um dos comandantes militares da Colômbia. Caso o negócio não evolua com as Farc, o Chavez deve propor que os militares deêm um golpe no Uribe e juntem a Colômbia com a Venezuela...

É a tal história da "Gran Colômbia", sonho do Simón Bolívar e do Chavez ditador...
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A última pérola do autoritarismo do séc. XXI é a ameaça do Chavez de prender religiosos que estão contestando as suas reformas autoritárias. Ele disse que vai mandar os religiosos direto para a prisão se continuarem criticando seus projetos. Vejam que não é a Justiça venezuelana que condena mais. Agora quem manda direto para a prisão é Sua Magestade, o Rei e Imperador da Venezuela, o Huguito Chavez.
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Enfim, como diz o Rei da Espanha: Chavez, "¿Por qué no te callas?"
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Como usar a CPMF em 2010
Os tucanos e os demos abominam a CPMF que eles criaram e que lhes serviu bem, enquanto governaram. Contudo, como perderam o poder e o controle do Brasil, agora querem tirar a CPMF para prejudicar os programas sociais do governo, atingindo, assim, a imagem do Presidente Lula e do governo de esquerda moderada que está levando o Brasil para o primeiro mundo.

Imagine só... Lula, o homem que tinha parte com o diabo e com os comunistas, de repente será o Presidente que levou o Brasil para o primeiro mundo. Coisa que a orda autoritário não conseguiu. Será que não conseguiu ou nunca quiserem levar o Brasil para o primeiro mundo ? Percebam que é sempre mais fácil explorar um país subdesenvolvido e pobre do que um país de primeiro mundo.

Isto é um prato cheio para 2010, pois, usando a CPMF, é possível mostrar para o povo a ação direta dos tucanos e dos demos contra o povo, contra os programas sociais que beneficiam a maioria pobre do país. E a ação dos mesmos a favor dos ricos e da elite dominante. Quem paga CPMF é quem movimenta muito dinheiro e quem movimenta muito dinheiro é rico, é elite, é dominante.

Para os ricos, deixar de pagar CPMF, é uma economia que fazem para investir em algum supérfluo ou consumir alguma porcaria. Eles tem muito dinheiro, o pouco capturado pela CPMF não faz diferença.

Para os pobres que dependem, temporariamente, dos programas sociais do governo, a CPMF é a salvação. É pouco, mas ajuda a proteger e a educar a próxima geração. Ajuda a dar estudo e renda para aqueles que estão abaixo da linha da pobreza.

Enfim, a CPMF pode ser mostrada por este lado, principalmente através de sua ligação com os programas sociais do governo. Pode ser mostrada como os inimigos da coletividade e da maioria da população atuam para beneficiar os ricos, aumentando a opressão e a exploração dos pobres.

Certamente, essa idéia pode ser melhorada com dados estatísticos e técnicos do governo, assim como idéias de marketeiros políticos.

25/11/2007

Precisamos de novas teorias

Vocês já perceberam que a maioria dos estudos são repetições de coisas antigas. Pior, juntam coisas antigas para formar uma terceira coisa, que também é antiga. Não há novas explicações para nada.

A culpa disso é a falta de criatividade e o excesso de informação. Também podemos culpar o método das citações, os tais argumentos de autoridade e o monte de paradigmas que povoam a realidade.

Não há nada no passado que se pareça com o mundo atual. Por isso, a História e os pensadores antigos não podem ser usados para explicar o presente ou revelar-nos o futuro. Certamente, algumas teorias podem ser aproveitadas, e devem ser trazidas do passado, porque elas possuem valores que são inerentes aos seres humanos e à humanidade. Valores que são fundamentais na preservação da sociedade. Contudo, o resto, ou seja, a maior parte, deve ser tratada como História.

E a minha recomendação é fulminante: precisamos de nova teorias que expliquem o presente e nos revelem o futuro. Precisamos agir, neste momento, como agiram os gregos ou outros filósofos e pensadores antigos que não tinham nada diante de si, a não ser a realidade nua e crua. Temos que agir como eles e buscar criar uma explicação plausível para a realidade. Concatenandos os fatos e as idéias para formar novas teorias.

Heródoto, não o Barbeiro, mas o Historiador Grego, não tinha Boris Fausto ou Hobsbawm para consultar, não tinha nada. E, mesmo assim, fez o que fez. O mesmo se aplica a outros filósofos, pensadores e cientistas... Não tinham nada, ou seja, partiram do zero para explicar tudo. E disso que nós precisamos: partir do zero para explicar tudo.

Hoje, estamos presos a dogmas, paradigmas e métodos. O nosso pensamento está sendo formatado pelo sistema de ensino. A nossa criatividade está sendo destruída pela mediocridade de pseudo-pensadores e professores. Eles não conseguem pensar nada diferente, não conseguem criar nada diferente e, por isso, tentam nos impedir de expressar a nossa criatividade, de mostrar um novo caminho, uma solução inovadora.

Temos que revidar e denunciar a mediocridade que nos impede de evouir e de fazer a humanidade evoluir. Nós temos o germe e o poder da evolução e estamos sendo inibidos pelos medíocres que não querem a evolução. Não querem porque ela não pertence a eles. Ela pertence a nós. Nós somos os escolhidos para fazer a humanidade avançar, não eles.

Por isso, a minha recomendação para todos aqueles que possuem idéias e teorias na cabeça e que não a revelam porque elas contrariam coisas antigas , pensadores antigos, etc, é só uma: revelem tudo, escrevam tudo, mostrem abertamente o que vocês pensam e como concebem a realidade e explicam o mundo. Façam isto porque tudo aquilo que se pensou e escreveu até hoje , as coisas antigas, os pensadores antigos, podem estar completamente errados, ou então, aquilo que fizeram foi válido e verdadeiro para o tempo deles, mas não para o nosso tempo. Aquilo explicava a realidade e o mundo deles, pode, e na maioria das vezes isto acontece, não explicar o mundo atual.

Nós evoluimos como uma cebola, de dentro para fora. Cada século é uma casca que se sobrepõem a outras cascas. Cada casca, cada século, tem os seus pensadores, as suas teorias, os seus paradigmas, etc. Contudo, a casca de fora, aquilo que já passou e virou passado não tem o poder de interferir no centro da cebola, onde novas casca estão se formando e se estruturando. Onde novos pensadores, novas idéias e novas teorias estão sendo forjadas, estão se estruturando e caminhando para a consolidação.

Precisamos questionar, levantar dúvidas e, acima de tudo, criar novas explicações. Temos usar o nosso poder de fogo, expresso pela maquinaria tecnológica que reproduzem e medem a realidade, para formar novas teorias. Precisamos fazer isto para promover a evolução, a nossa própria evolução. A humanidade somente avança e evolui com novas idéias, teorias e criatividade.

23/11/2007

Curtas, rápidas, diretas e certeiras
Mensagem do Rei da Espanha para o FHC, interceptada pelo Leonildo: "¿Por qué no te callas?"
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As provocações do ex-presidente FHC tem uma finalidade: desviar as atenções do mensalão tucano. Será que vai funcionar ?
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Qual mensalão durou mais e pagou mais, ou seja, roubou mais o povo: o tucano ou o petista ? Mas o que eu quero saber mesmo é: e o dinheiro ??? Cadê o dinheiro que os mensaleiros embolsaram ? O Brasil e o povo brasileiro querem o dinheiro de volta, com juros e correções.
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Primeiro o ex-presidente FHC diz que o PSDB tem que se aproximar do povo. Depois o ex-presidente diz que um líder deve falar o bom português. Pelo visto ele não sabe qual língua o povo fala. Não só isto, ele não sabe que a língua culta é a lingua dos ricos, da classe dominante. Não é a lingua da maioria dos brasileiros. Um lider só é líder se falar a língua do povo.

Certamente, isto não significa que o povo não deve receber educação. Significa que um líder do povo fala a língua do povo. Só isso !!!
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Eu conclui que o PSDB não é um partido de republicanos. É um partido que vive lapsos, ou seja, pequenos momentos de republicanismo, mas, dois minutos depois, já esqueceram tudo. A decisão dos tucanos de sabotar a CPMF foi estúpida e interesseira...

Ela visava atingir o Brasil e o povo brasileiro e, dessa forma, enfraquecer o governo Lula, possibilitando a vitória de um tucano em 2010.

O plano funcionaria bem se não fosse um problema: os tucanos têm o rabo preso. Na hora em que eles mostraram as garras, o rabo foi puxado e deu no que deu... Talvez se tivessem negociado tudo e aceito a proposta possível, apresentada pelo governo, sem o extremismo estúpido e sabotador, muita coisa teria sido evitada.
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Os governadores tucanos apoiavam a CPMF porque são do executivo, estão em contato direto com o povo, têm que tomar decisões rápida, executar projetos, enfim, tem que governar. E ninguém governa sem dinheiro.

Já os senadores fazem parte do órgão corrupto e desnecessário chamado Senado. Esse órgão não serve para nada, a não ser dar prejuízo para o Brasil. Se já tem a Câmara com tantos deputados, por que um Senado ?

Mas, continuando, os senadores não tem compromisso em governar, em executar projetos, em dar uma resposta rápida para o povo. Por isso, eles podem sabotar a CPMF quase sem se sujar. O problema é que eles estão mais sujos do que pau de galinheiro e tem o rabo completamente preso... Logo, a sabotagem tende a não prosperar, pois quando eles sabotam, alguém puxa o rabo até eles gritarem...
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Falta republicanismo no Brasil... Falta inteligência... Falta comprometimento com o interesse público e com o povo. Os políticos querem o poder para exercê-lo em benefício pessoal. Não para exercê-lo em benefício do Brasil e do povo brasileiro... Por isso, estamos no caos político.
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Contudo, para mim, tudo isto está servindo de lição. Vejo tudo. Ouço tudo. Anoto tudo. Analiso, penso, aprendo e crio. Em cima daquilo que estão fazendo, em cima desses erros grosseiros, dessas ações corruptas e negligentes é que vou montar o meu discurso político... Um discurso republicano ao pé da letra.

O que você é capaz de fazer pela República ? Talvez o Professor Renato Janine da USP lhe dê uma idéia disso...
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Pai e filhos

Site do Professor Renato Janine

Este trecho faz parte do livro A República (Publifolha, 2001).

No Salão de 1789, em Paris, o pintor Jacques Louis David (1748-1825) expõe seu quadro Os Litores Levam ao Cônsul Brutus os Corpos de seus Filhos, que hoje está no Museu do Louvre. Todo espectador culto entende de imediato o sentido da obra. Refere-se a um episódio de Roma antiga, depois de expulso o último rei e proclamada a República. Brutus era um dos dois cônsules eleitos anualmente e que exerciam, em conjunto, o poder executivo. Seus filhos, porém, conspiraram para restaurar a dinastia dos Tarqüínios – uma dinastia etrusca, portanto de origem externa à cidade – e foram presos.

O próprio pai os condena à morte. Na sua função pública, não poderia agir de outro modo. No quadro, vemos ao fundo os cadáveres, com as mulheres soltando todo o desespero, toda a dor pela morte dos rapazes. No primeiro plano, o cônsul, em silêncio, meditando – e na sua forma discreta, máscula, condensada, sentindo imensa dor.

Este quadro diz muito sobre a República, e isso meses antes da Revolução Francesa e alguns anos antes que a França adotasse essa forma de governo. Muitos comentam a influência que terá tido a jovem República dos Estados Unidos da América sobre a francesa: afinal, a independência norte-americana contou com apoio financeiro e militar da França. E Thomas Jefferson, que redigiu a Declaração de Independência das treze colônias, foi embaixador de seu país em Paris, de 1785 até o início da Revolução.

Mas pensemos um pouco. Os homens da Revolução Francesa eram cultos, estudados, assim como, aliás, os da Americana. Conheciam a tradição clássica. O que levariam mais em conta, a experiência recente e ainda pouco testada de um punhado de colonos numa terra distante – ou séculos de sucesso num dos maiores centros da civilização européia? Roma e o neoclássico estavam em voga, naquele fim do século 18.

O que nos diz o quadro de David? Antes de mais nada, que o bem público se sobrepõe ao privado. Essa frase, que geralmente tomamos por mero lugar-comum, tem nos valores da República um claro significado: devemos sacrificar as vantagens e até os afetos pessoais ao bem comum. O pai executa o filho, como o filho eventualmente mataria o pai, em nome da Cidade. O custo dessa ação não é negado nem mesmo ocultado. Ninguém ignora a dor de Brutus – seria tão fácil apresentá-lo como um político desumano, que ao poder sacrifica o amor! – mas ele não podia agir decentemente de outro modo.

A República tem custo alto, mas é justo pagá-lo. Para sairmos, porém, da facilidade com que estas palavras são ditas, vamos a um episódio mais recente, também gerador de vasta iconografia, e que enche de horror quem o conhece. É o caso do pequeno Pavel Morozov, um adolescente russo que denunciou o próprio pai ao poder soviético, no começo dos anos 30, por esconder cereais. O pai foi condenado a uma longa pena num campo de concentração, onde provavelmente morreu; já o garoto acabou assassinado na vila em que vivia. Pois Pavel foi instituído como o grande herói do Konsomol, a organização da juventude comunista, e estátuas em sua honra se espalharam por toda a União Soviética

A estátua do pequeno Pavel, que reinava sobre o parque Morozov, em Moscou, foi derrubada pelo povo da capital em meio às manifestações contra o golpe de 21 de agosto de 1991, que tentara depor Gorbatchev.

O verdadeiro inimigo da República: a corrupção

Qual a sua idéia de corrupção? É quase certo que você fale em desvio, por um administrador desonesto, do dinheiro público. É a idéia que se firmou hoje em dia. Mas, antes disso, a corrupção era termo mais abrangente, designando a degradação dos costumes em geral.

Como a corrupção veio a se confinar no furto do bem comum? Talvez seja porque, numa sociedade capitalista, o bem e o mal, a legalidade e o crime acabam referidos à propriedade. Por analogia à propriedade privada, o bem comum é entendido como propriedade coletiva – e até como bem condominial, aquele do qual cada um tem uma parcela, uma cota, uma ação.

Mas o bem comum é diferente, por natureza, do bem privado. No estatuto de uma sociedade é obrigatório incluir o destino a dar aos bens, caso ela se dissolva. Se constituo uma firma com um sócio, caso a fechemos repartiremos os bens que pertencem a ela. Mas isso é impossível, tratando-se da coisa pública. Há certos "bens" que só ela produz, e que não podem ser divididos: virtudes, direitos e uma socialização que não só respeita o outro como enriquece, humanamente, a nós mesmos.

Pensar o mau político como corrupto e, portanto, como ladrão simplifica demais as coisas. É sinal de que não se entende o que é a vida em sociedade. O corrupto não furta apenas: ao desviar dinheiro, ele mata gente. Mais que isso, ele elimina a confiança de um no outro, que talvez seja o maior bem público. A indignação hoje tão difundida com a corrupção, no Brasil, tem esse vício enorme: reduzindo tudo a roubo (do "nosso dinheiro"), a mídia ignora – e faz ignorar – o que é a confiança, o que é o elo social, o que é a vida republicana.

República e democracia

A idéia deste livro e de seu irmão gêmeo, Democracia, nasceu de uma observação: é cada vez mais difícil manter a idéia de que exista um povo, um demos, para usar a palavra grega, inteiro e íntegro. Aliás, a democracia moderna nasce com uma visão romântica do povo, que se expressaria por uma identidade nacional marcada em sentimentos fortes, e depois se orienta para a esquerda adotando uma visão marxista – que identifica o povo com os trabalhadores, os explorados e seus aliados. Nos dois casos, nem todo o mundo é povo. Há também o anti-povo, que pode ser o estrangeirado, no primeiro caso, ou o explorador de classe, no segundo. Mas o problema é que essas duas concepções de povo deixaram de ser funcionais. A economia está complexa demais para distinguirmos nela os trabalhadores, e a cultura, rica demais para identificarmos uma cultura nacional pura.

As características do povo migraram, do povo como um todo, brasileiro, francês ou o que for, para o que podemos chamar de sub-povos – grupos menores, porém mais intensos em suas relações. Podem ser os sem-terra, que guardam a caracterização marxista, pois se definem pelo lugar na economia, mas igualmente os militantes negros, feministas ou gays.

Esses grupos assumem traços que eram tradicionalmente os do povo. Mal restaram os laços fortes que, no modelo romântico ou marxista, uniam os membros do povo como um todo. Numa sociedade complexa, é dificil eu sempre amar o compatriota ou o companheiro de classe. Mas essa intensidade afetiva migrou para os elos entre membros de grupos menores e mobilizados.

Aqui é preciso falar – sem sectarismo – da política brasileira. O partido que mais aposta em vínculos fortes ou sociabilidades aquecidas é o PT. Sua prática é das mais democráticas. Mas, com sua ênfase em agrupamentos que não são o povo como um todo – e isso porque não há mais povo como um todo – ele se presta à crítica de favorecer interesses particulares, que seus adversários chamam de corporativistas.

Veja-se o paradoxo. A prática democrática subsiste, mas ela não diz mais respeito ao demos como um todo. Ela sobrevive, intensificada, em grupos menores, e por isso mesmo pode voltar-se contra outras partes do povo. O que a direita fez, sobretudo na presidência Collor, foi jogar essas parcelas desmobilizadas contra os grupos organizados, aqueles em que o PT melhor navega.

Mas há outra crítica, mais séria e pertinente que a da direita. É a que se encarna entre nós no PSDB. O discurso dele é republicano. Basta ver que ele critica o PT porque esse último favoreceria interesses de grupos. É o que o PSDB chama de corporativismo – a defesa de uma corporação, em detrimento do interesse comum, a ênfase no meio (no caso, o funcionalismo público) mais que no fim (o povo, o público como um todo). O discurso do PSDB é o mais consistente que temos na defesa da res publica.

Aqui, porém, também há um custo. Defendendo a coisa pública, o PSDB formula uma questão fundamental – mas ao mesmo tempo se vê condenado a atacar as práticas mais democráticas que há em nossa sociedade, que mobilizam os grupos à esquerda. Ou seja, nossos republicanos se vêem obrigados a criticar a democracia. E enquanto isso nossos democráticos não conseguem ter uma visão abrangente da coisa pública, estando limitados a práticas importantes, mas que ficam na organização de grupos parciais. É o que desespera a minoria de marxistas dentro do PT, que obviamente deseja uma visão totalizante da sociedade, mas se vê condenada a uma dura alternativa: ou totaliza, mas não enxerga a sociedade de hoje, ou leva em conta a sociedade atual, e aí vai-se embora a totalização que Marx elaborou no século 19.

22/11/2007

O Brasil deveria propor na ONU

Erradicação das plantações de coca da Bolívia e demais países produtores. Se o etanol prejudica a produção de alimentos, a coca nem se fala. E as áreas plantadas são muito grande, pois é necessário uma grande quantidade de folhas de coca para se produzir cocaína. Qual será o tamanho da área produtora de coca na Bolívia ? A produção do Evo Morales chega a quanto ?

Enfim, se a preocupação da Bolívia é com a produção de alimentos, deve começar erradicando as suas plantações de coca e plantando alimentos nestes locais. Principalmente porque a coca ocasiona grande mal em todos os países do mundo.

Além disso, o consumo de folha de coca pelos indígenas é pequeno e desprezível. Não há necessidade de grandes plantation cocaleros. Certamente, a maior parte da produção de coca da Bolívia, do Peru e da Colômbia destina-se ao narcotráfico internacional.

Portanto, já que o Evo está preocupado com a produção de alimentos, cabe ao Brasil ajudá-lo nesta tarefa, propondo na ONU a erradicação e substituição dos platation cocaleros por fazendas que produzam alimentos. Arrancar a coca para plantar comida.

Esta acerta o Evo Morales na lata !!!

Mais hostilidade da Bolívia contra o Brasil

O Presidente Lula precisa reconhecer que a Bolívia, a Venezuela e Cuba trabalham, na surdina, contra o Brasil e os interesses brsileiros. Estes três castelhanos estão nos apunhalando pelas costas e, mesmo assim, o Brasil continua sorrindo e ajudando eles. Será que o Brasil é masoquista ?

A moratória que a Bolívia vai propor na ONU visa inibir o desenvolvimento do Brasil. Portanto, a primeira coisa que o Brasil deve fazer é suspender os investimentos da Petrobrás em território boliviano. Além disso, a Bolívia não produz nada de etanol, então vem a pergunta: por que vai propor a moratória ? A resposta, certamente, está na Venezuela e em Cuba...

E se a ONU aprovar este tipo de moratória ao Brasil e ao etanol devemos fazer igual os EUA fazem quando seus interesses são afetados pelas Organizações Internacionais: vira as costas e ignora... Passa por cima da resolução.
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Governo Evo pretende ir à ONU para atacar etanol


Depois de lançar uma polêmica com o Brasil por causa do gás, a Bolívia pode agora atacar o etanol. O governo do presidente Evo Morales pretende propor à ONU uma moratória na expansão do etanol no mundo por cinco anos.

As informações foram reveladas ao Estado pelo relator da ONU pelo direito à Alimentação, Jean Ziegler. "Eles entraram em contato comigo e me informaram que estão preparando a resolução", afirmou Ziegler. Ele não soube dizer quando a resolução seria apresentada.

Os contatos foram feitos em Nova York. Diplomatas bolivianos confirmaram que, em Genebra, outra reunião deverá ocorrer na próxima semana. Foi o próprio Ziegler que, em um relatório publicado há duas semanas, alertou sobre os riscos do etanol para a alimentação das populações mais pobres.

Em seu documento, o relator sugere a moratória. Nos próximos cinco anos, estudos poderiam desenvolver produtos que fossem mais eficientes para a fabricação do etanol. Além disso, seria avaliado até que ponto o custo dos alimentos de fato é afetado pelo biocombustível.

O governo brasileiro respondeu ao relatório, alegando que o etanol gerou desenvolvimento no País nos últimos 30 anos. Em carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, os produtores brasileiros rejeitaram o documento.

19/11/2007

A paralisação das Ciências Humanas

Inegavelmente as Ciências Humanas estão estagnadas, ou seja, paralisadas há um bom tempo. Nada de novo, de inovador, é produzido. Tudo é repetição de pensadores antigos e de idéias antigas. Repetem de forma diferente, usando sinônimos e novas estruturas gramaticais, mas o cerne é o mesmo. Por que isso está acotecendo ? De quem é a culpa ? Será que acabou a criatividade e a inteligência ? Será que a culpa é do excesso de informações vazias e insignificantes passadas pela mídia de massa ?

Este é um bom tema para se investigar. Um tema que pode dar respostas duras e diretas. Por exemplo, a paralisação pode estar ligada à mediocridade dos pesquisadores. Transformaram as ciências humanas em um negócio, um meio de vida, coisa que qualquer um pode fazer. E isso atingiu a área das humanidades em cheio. E as bibliotecas se entupiram de lixo, ou seja, dissertações e teses medíocres, que não servem para nada. A não ser, é claro, para dar o título de mestre e doutor para os pós-graduandos.

Certamente, qualquer um pode jogar futebol, mas poucos sãos os jogadores talentosos. E no jogo das Ciências Humanas, os talentosos estão sendo deixados de fora por seleções viciadas, pactos de ajuda mútua e pelo famoso QI (Quem Indica).

Os orientadores e os grupos de pesquisas pensam que nunca serão pegos e que seus protegidos alcançarão o sucesso pretendido. E eles acertam em cheio: não são pegos e seus orientados alcançam sucesso. Contudo, o resultado das picaretagens se mostram no resultado do trabalho, na mediocridade da dissertação ou da tese. E isto, certamente, paralisa quaiquer áreas. Se não há um caminho novo sendo aberto, todo mundo fica vendo e revirando coisa antiga para ver se acha alguma coisa.

O futuro não pode ser explicado pelo passado. O passado pode orientar e direcionar o futuro, mas não explicá-lo. Por isso, a busca de explicação para uma sociedade globalizada e uma era de conhecimento e informação tem que ser construída e inventada do zero, pois não há nada parecido com isto na história da humanidade.

Precisamos de pesquisadores e pós-graduandos que abram novos caminhos, apresentem novas soluções, mostrem outras possibilidades e expliquem a atualidade. E isso só pode ser feito por quem tem talento para a coisa, por quem consegue ver além do horizontes e gosta de navegar águas desconhecidas.

Mas não é só isso, a culpa também é do método, dos dogmas e dos paradigmas. Trabalhos medíocres seguem o método, respeitam os dogmas e param diante dos paradigmas. Trabalhos inovadores e criativos chutam o método, cospem nos dogmas e arrebentam os paradigmas. São trabalhos ousados e corajosos. Trabalhos desbravadores e que fazem a humanidade avançar e evoluir.

Não podemos ficar amarrados a métodos antigos, a dogmas dos séculos passados, a paradigmas criados, muitas vezes, para nos impedir de evoluir. Se há uma idéia inovadora, ousada, obscena e pornográfica na cabeça, ela tem que ser revelada e repercutida. Ela tem que ser mostrada para todos.

Muitas vezes não temos todas as respostas e não temos a idéia completa. Mesmo assim temos que revelá-la, temos que contá-la, temos que repercuti-la, pois outros irão ler aquilo e irão juntar outros pedaços, agrutinar novos elementos e fechar o sistema todo. É assim que as Ciências Exatas avançam. E isto também tem que ser adotado e implantado nas Ciências Humanas.

Hoje vivemos um excesso de respeito a métodos e a coisas irrelevante.s Vivemos um excesso de respeito pela forma. Quem respeita e segue muito a forma, é porque não tem conteúdo. Precisamos valorizar o conteúdo. A forma pode ficar por último, se tivermos tempo. cuidamos dela, se não tivermos, deixa prá-lá. Ela não faz muita diferença. O conteúdo é o que importa.

Um dogma é um ponto fundamental e indiscutível de qualquer doutrina ou sistema, é uma idéia pronta. Uma idéia que dizem ser verdadeira e que não pode ser contestada ou questionada. Contudo, o papel do cientista e do pensador é contestar, questionar. É levantar dúvidas.e dizer isto não é assim, é assado. E fazendo isto restringimos o poder dos dogmas sobre a sociedade e sobre as pessoas. Logo, evoluimos., fazemos a humanidade avançar.

A evolução, inegavelmente, se fez e se faz em cima da quebra de dogmas e paradigmas. Por exemplo, o sol gira em torno da terra, a terra não se move, o mundo é plano, índio não é gente, mais pesado que or não pode voar, etc. Todos foram quebrados. Logo, evoluimos.

Mas o maior de todos os empecilhos são os paradigmas. E digo mais, os paradigmas, mais do que os dogmas, bloqueiam o desenvolvimento e impedem a evolução. Enquanto um dogma cega a pessoa em um ponto fundamental, o paradigma consegue cegar a pessoa e a sociedade em uma área completa, consegue inibir toda uma cadeia de pensamento.

Hoje estamos presos a paradigmas. Os estudiosos e os cientistas criaram muitos paradigmas e nos amarraram neles. Precisamos pensar de forma diferente e criativa para conseguir soltar as amarras. Por exemplo, precisamos vencer o paradigma do subdesenvolvimento, da mentalidade subdesenvolvida. Nós temos plena capacidade inventiva e criativa. Não é porque somos "supostamente" subdesenvolvidos que temos que ficar repetindo estudos e pesquisas que são lançados no exterior. Devemos assimilar aquilo que é bom, mas temos que criar a nossa própria voz e ir além deles.

A mentalidade subdesenvolvida diz que não somos bons, somos medíocres, não podemos fazer nada diferente, não temos capacidade intelectual, tudo está no primeiro mundo... Isso é mentira. Isso é um paradigma que tem que ser quebrado. Não é porque está escrito em inglês ou porque o autor é norte-americano que a coisa presta e funciona. A mesma capacidade intelectual que há lá, também há aqui. Temos tudo que Harvard e Yale tem, por que não ganhamos prêmio Nobel como eles ? Porque a mentalidade subdesenvolvida nos transforma em meros repetidores daquilo que eles fazem. Repetimos tudo em português. Repetição não dá Nobel.

(continua)

18/11/2007

Os feriados e o enfado do trabalho

Tem gente que gosta de feriado porque diz que não precisa trabalhar. Certamente, estas pessoas fazem coisas que odeiam, ou seja, trabalham em coisas que odeiam. Por isso, não gostam de trabalhar. Para elas o trabalho é um enfado, uma punição, uma obrigação...

O meu caso não é assim. Eu faço o que gosto de fazer: estudar, pensar, criar, escrever, viver. Esta é a minha profissão. Por isso, eu nunca tiro férias. Sempre estou estudando, pensando, criando, escrevendo e vivendo. Esta foi a profissão que escolhi para mim. E é ela que seguirei até o fim. E é com ela que vou mudar o mundo, nem que seja de perna pra cima !!!

Portanto, as pessoas que odeiam o trabalho no qual estão, deveriam abandoná-lo o mais rápido possível. Deveriam procurar fazer aquilo que sempre quiserem fazer, aquilo que gostam de fazer. Assim, sempre estarão de férias e todo dia será feriado. Ninguém é obrigado a nada. Se você é obrigado a fazer alguma coisa, a culpa é sua. Você se amarrou e agora está pagando o preço.

16/11/2007

Para quem não entendeu...

Um dos pontos da reforma constitucional do Chavez dão amplos poderes para o Presidente "criar ou suprimir províncias federais, territórios federais, cidades, distritos funcionais, municípios federais, regiões marítimas, regiões estratégicas, distritos insulares e cidades comunais", além de "designar e remover suas autoridades". (Notícia do G1 -- 23/10/2007).

É estranho que um Presidente queira estes poderes em um país no qual as províncias e os municípios estão estabilizados há dezenas de anos. Certamente, desta perspectiva a questão é incompreensível, porém, se se olhar pelo prisma de um país expansionista a questão é perfeitamente compreensível.

Por exemplo, os exércitos da Venezuela conquistam partes da Guiana. Logo, o Presidente Venezuelano deverá ter poderes para criar uma ou mais províncias nestas novas terras, assim como município.

Outro exemplo, vamos fingir que o Governo Venezuelano consiga conquistar a Amazônia Brasileira. Logo precisará dos amplos poderes para criar as províncias e os tais municípios. Isso também se aplica à Colômbia e ao Panamá. Enfim, a todos os territórios que estão nos sonhos da Gran Colombia ou da Gran Venezuela de Hugo Chavez.

Por isso eu sempre digo: "Quer ver a verdade ? Então olha para as ações, para os pedidos, para os fatos e dados. Ignore os discursos e as promessas, pois estes sempre são enganadores e mentirosos."

Militares da Venezuela invadem a Guiana e destroem garimpo
Guiana informou que tropas do país foram enviadas à fronteira em reação a uma suposta invasão do território.
SÃO PAULO - O Ministério das Relações Exteriores da Guiana informou que tropas do país foram enviadas à fronteira ocidental nesta sexta-feira, em reação a uma suposta invasão do território do país por soldados venezuelanos. Os militares da Venezuela teriam explodido duas dragas de garimpos de ouro em um rio próximo da fronteira.

De acordo com os militares da Guiana, as tropas da Venezuela usaram helicópteros e explosivo C-4 para destruir as dragas; ninguém teria ficado ferido no incidente, que os militares da Guiana não sabiam dizer se aconteceu no rio Wenamu, que faz a fronteira entre os dois países, ou no rio Cuyuni, em território da Guiana.

O ministro das Relações Exteriores da Guiana, Rudy Insanally, convocou o embaixador venezuelano na capital, Georgetown, Dario Morandy, para dar explicações sobre o incidente. Funcionários do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela disseram que não havia nenhum comunicado oficial a divulgar sobre o assunto.

No ano passado, um soldado da Guarda Nacional da Venezuela matou a tiros um garimpeiro guianense no lado da fronteira pertencente à Guiana. Ninguém chegou a ser preso depois desse incidente. As informações são da Associated Press, citada pela Dow Jones.
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Guiana-Venezuela… Um conflito latente na América do Sul

(Mapa da área territorial da 5ª Divisão de Infantaria do Exército Venezuelano onde se observa à direita metade do território da Guiana como parte integrante do estado Venezuelano in http://www.ejercito.mil.ve/images/quinta_division.gif)

Embora muitos temam a renovada força militar venezuelana e o carácter mais ou menos imprevisível do seu presidente Hugo Chavez, poucos conhecem contudo que a haver um conflito militar envolvendo a Venezuela bolivariana e uma outra nação, este será com toda a probabilidade um conflito contra… a Guiana e não contra os EUA…

O primeiro indício surgiu em 13 de Março de 2006 com a adição de uma oitava estrela à bandeira venezuelana, com a explicação de que seria um tributo à contribuição da província da Guiana na luta da independência venezuelana no século XIX…

Mas simultaneamente o site do exército venezuelano passou a mostrar nos mapas que definem as áreas de responsabilidade de cada uma das suas seis divisões um mapa a verde que surge novo território a Este… ou seja, cerca de metade do território da Guiana… E agora passem o rato sobre o link de cada uma destas divisões de infantaria… sim, o território à esquerda aparece como parte integrante do mapa da Venezuela mas não possuí nenhuma divisão assignada a ele… ainda?

De facto, a Venezuela reclama como seu este território desde 1966, uma reclamação semelhante à Argentina sobre as Malvinas já que também opôs o Reino Unido a uma nação latino-americana… A primeira reclamação formal na ONU surgiu e 1963, reclamando então a Venezuela todos os territórios a oeste do rio Esequibo. A independência da Guiana do Reino Unido em 1966 não aplacou a questão, levando até à ocupação militar de uma ilha fronteiriça pelo exército venezuelano de então, uma ocupação que subsiste até hoje…

Em 2002, uma fragata da marinha venezuelana entrou nas águas territoriais da Guiana, para recuperar um navio de pesca capturado pela guarda costeira da Guiana, no que se lhe opôs o navio patrulha da Guiana “Esequibo” e a fragata, levando esta última a retirar-se sem disparar um tiro…

Se algum dia houver um confronto militar aberto entre os dois países a vantagem venezuelana fará impôr um desfecho certo… dado que os 1600 soldados, 3 patrulhas e zero aviões pouca oposição poderão fazer ao renovado petro-exército venezuelano…

Outros textos sobre a questão: DefesaNet

Pequenas observações do Leonildo
A coisa mudou...
Atualmente, você não pode mais chegar em uma padaria e pedir: "Ei padeiro, veja-me um café com leite !!!" Agora, você tem que dizer: "Ei padeiro, veja-me um café com soda cáustica, água oxigenada e um pingo de leite !!!" Será que isto também é efeito da globalização ?
O salto das mulheres...
Cada dia que passa as sandálias das mulheres ficam com o salto mais alto. Em breve não vai dar mais para saber se as mulheres estão usando salto ou se é perna de pau... Realmente, a vaidade feminina não tem limites...
O dedo do governo...
Eu estava procurando o dedo do governo nas sabotagens da internet para favorecer o Chavez. Acho que eu achei algumas evidências, começando pelas quebras na minha internet, passando pelo boicote do CMI do Brasil e de Portugal (ainda estão bloqueado para a publicação de textos da maior parte dos usuários...), onde os textos contra o Chavez estavam repercutindo mais... Quem salva cobra, sempre acaba picado por ela !!! Se o governo brasileiro não sabe disso, vai aprender na pele o que isso significa.

15/11/2007

Os biocombustíveis e a reserva gigante de petróleo

Depois da descoberta da reserva gigante de petróleo, eu fiquei preocupado com os biocombustíveis. De repente algumas cabeças medíocres podem estar pensando: já que tem petróleo sobrando, por que investir em biocombustível ? E a minha resposta para estas cabeças é enfática: porque os biocombustíveis são o futuro e são inesgotáveis.

Além disso, o Brasil é o décimo, ou algo próximo disso, em termos de reservasde petróleo, porém, é o primeiro na produção de biocombustíveis. Portanto, a idéia é continuar investindo pesado em biocombustíveis e ir explorando vagarosamente as reservas gigantes de petróleo.

Neste contexto, um negócio bom para a Petrobrás é vender petróleo misturado com os biocombustíveis e não separado. Assim, vende gasolina com 20% de alcool, diesel com uma porcentagem x de óleos vegetais, etc, ou seja, devemos ser os maiores produtores e exportadores de biocombustíveis e petróleo ecologicamente correto (petróleo batizado).

Certamente, produtos ecologicamente corretos tem uma grande aceitação no mercado. Inclusive isso pode nos colocar na frente das maiores reservas de Petróleo do mundo, pois os biocombustíveis são inesgotáveis, enquanto as reservas podem acabar um dia.

Enfim, a descoberta da reserva gigante de Tupi não pode afetar a produção e os investimentos em biocombustíveis da mesma forma que a queda do preço do petróleo afetou o programa pró-alcool em um passado próximo. Precisamos continuar investindo e desenvolvendo tecnologias neste sentido.

14/11/2007

O desafio é integrar países pobres

Eu proponho a integração social, educacional e cultural da América Latina. Contudo, não disse como isso pode ser feito. Dei uma idéia falando em começar integrando as Universidades, mas não resolvi toda a encrenca. É preciso resolver.

Mas antes disso temos que sanar algumas pendengas. A Venezuela caminha para uma ditadura. Isto é fato. Só não vê quem não quer ver. Lembre-se que os os olhos vêem apenas aquilo que o cérebro quer ver. Se a cabeça da pessoa não quer ver, ela não vê nada. Arruma um monte de desculpas para não ver. Logo, integrar uma ditadura com democracias é misturar uma maçã podre com maçãs boas. Resultado: contamina tudo.

Outra pendega: a democratização de Cuba. Cuba é um país importante para este plano de integração, mas não é possível fazer negócio com um sistema autoritário vigorando. Não há integração onde não há liberdade. Logo, a democratização de Cuba é um elemento fundamental para a Integração da América Latina. Mais abaixo vou dizer o porquê disso.

E a última pendenga são os gringos norte-americanos. Certamente, os EUA e o Canadá devem integrar o processo proposto, principalmente, porque estas nações possuem uma grande população latina e também porque possuem soluções que interessam às nações pobres. Contudo, esta integração não pode ser feita construindo muros e leis xenófobas. Estas coisas são desagregadoras, anti-democráticas e isolacionistas.

Além disso, o problema da imigração se resolve nos países origem dos imigrantes. Atacar na última ponta é inútil e irrelevante, pois a causa não foi resolvida. Sem resolver a causa o problema continua existindo. Ele apenas muda de forma, aparência e cor. A solução para o problema da imigração é gerar emprego e renda nos países de origem dos imigrantes, nada mais do que isso.

Certamente, existem outras correntes de imigração e refugiados. Mas os imigrantes por razões econômicas são os mais numerosos.

A minha idéia de integração social, educacional e cultural começa com a integração educacional. O primeiro passo é integrar as Universidades, interligá-las, facilitando ao máximo o trânsito de professores, pesquisadores e alunos.

Além disso, é preciso fazer pesquisas em conjunto, compartilhar informações, conehcimentos, idéias e soluções. Neste ponto entra um texto interessante que li em algum lugar e disponibilizei em meu site (http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/). Segue o texto:
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Compartilhando o milho

Esta é a história de um fazendeiro bem sucedido. Ano após ano, ele ganhava o troféu "Milho Gigante" da feira da agricultura do município. Entrava com seu milho na feira e saía com a faixa azul recobrindo seu peito. E o seu milho era cada vez melhor.

Numa dessas ocasiões, um repórter ao abordá-lo, ficou intrigado com a informação dada pelo entrevistado sobre como costumava cultivar seu qualificado e valioso produto. O repórter descobriu que o fazendeiro compartilhava a semente do seu milho gigante com os vizinhos.

"Como pode o Senhor dispor-se a compartilhar sua melhor semente com seus vizinhos quando eles estão competindo com o seu em cada ano?" - indagou o repórter.

O fazendeiro pensou por um instante, e respondeu: "Você não sabe? O vento apanha o pólen do milho maduro e o leva através do vento de campo para campo. Se meus vizinhos cultivam milho inferior, a polinização degradará continuamente a qualidade do meu milho. Se eu quiser cultivar milho bom, eu tenho que ajudar meu vizinhos a cultivar milho bom".

Ele era atento às conectividades da vida.

O milho dele não poderia melhorar se o milho do vizinho também não tivesse a qualidade melhorada. Assim é também em outras dimensões da nossa vida. Aqueles que escolhem estar em paz devem fazer com que seus vizinhos estejam em paz. Aqueles que querem viver bem têm que ajudar os outros para que vivam bem. E aqueles que querem ser felizes têm que ajudar os outros a encontrar a felicidade, pois o bem-estar de cada um está ligado ao bem-estar de todos.
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O segundo passo é integrar os outros níveis educacionais. Penso na integração de todo o sistema de ensino latino-americano. Tudo gerenciado por uma Organização Internacional criada para unificar os currículos, os conteúdos, os cursos, gerenciar as escolas, trinar os professores, etc. Uma organização que irá mandar tanto nas escolas do Brasil, quanto nas escolas de Cuba, Venezuela, Peru, Chile, Guatemala, etc. Não só mandar, mas irá disponibilizar os materiais, treinar os professores, enfim, irá garantir a mesma qualidade para todas as escolas públicas de todos os países envolvidos na integração.

Os recursos para esta Organização Internacional devem ser disponibilizados pelos Estados membros do acordo, respeitando o número de alunos de cada país. Certamente, este custo deverá ser o mesmo para todos os países. Logo, quem tem mais alunos contribui com mais. Quem tem menos, contribui com menos. Mas o custo-aluno deverá ser o mesmo, pois a qualidade do ensino e dos professores deverão ser os mesmos.

Isso ficará muito, mas muito mais fácil, depois que desenvolvermos o sistema de ensino público gratuito via internet. Eu estou pensando obstinadamente neste projeto de ensino e, em breve, o Instituto OCW Br@sil (http://www.ocwbrasil.org/) apresentará o resultado de tudo...

Isso também pode ser feito na saúde. Imagino a saúde pública de todos os países integradasem um único sistema de saúde, gerenciado por outra Organização Internacional criada para este fim. Assim, todos os hospitais seriam integrados e teriam as mesmas qualidades, os mesmos medicamentos, médicos e demais profissionais com as mesmas formações.

Essa idéia de integração é vantajosa porque, com a criação de tais Organizações Internacionais, torna possível o remanejamento de pessoal de um país para outro. O pessoal que está sobrando em um (Cuba tem excesso de Médico) vai para outro país (a Venezuela não tinha médicos), etc. Os excessos de profissionais em uma nação podem ser deslocados para outras nações. O Estado que produz um medicamento poderá fornecê-los para todos os hospitais da rede de integração, etc.

Além disso, é possível estabelecer um piso salarial uniforme em todas as nações, assim como garantir a mesma qualidade para todas as escolas e hospitais. Dar o mesmo treinamento para todos os profissionais, etc. Certamente, tudo sendo administrado como serviço público gratuito. Eu acredito piamente que em coisas sagradas e em serviços de interesse público o capitalismo não pode colocar suas mãos amaldiçoadas. Tudo aquilo que Midas tocava virava ouro. Tudo aquilo que o capitalismo toca, vira mercadoria...

Isto tira das mãos incompetentes dos Estados a responsabilidade por serviços básicos de saúde e educação. As Organizações Internacionais podem ser gerenciadas por profissionais altamente qualificados e competentes, podem ter estabilidade administrativa e funcional, enfim, podem garantir cidadania, educação e saúde para todos os envolvidos na integração, independentemente das modificações políticas que ocorrem dentro dos Estados. E o melhor disso, sem as mãos sujas das corporações, a exploração e exclusão dos capitalistas da integração econômica. Os Estados precisam apenas disponibilizar recursos para as Organizações Internacionais, criadas por eles, para manterem o sistema funcionamento e se expandindo.

Eu acredito que este tipo de integração é o modelo ideal para os países pobres. Temos que integrar para alcançar soluções e resolver os nossos problemas e não integrar para gerar lucros para as empresas.

Enfim, esta é mais um idéia do Leonildo. Uma idéia que tem por finalidade fazer a humanidade avançar para um novo estágio de sua evolução... Este é o grande propósito da minha vida: fazer a humanidade avançar...

13/11/2007

Integração social, cultural e educacional da América Latina
Leonildo Correa – 13/11/2007

Ando pensando, a um bom tempo, sobre a integração da América Latina. E depois do curso de Direito da Integração, ministrado na Faculdade de Direito da USP pelo Professor Umberto Celli, perdi completamente o sono. Certamente, a integração desta região não será tão fácil quanto a integração européia, pois as desigualdades econômicas entre os países é excessivamente acentuada. Além disso, a maioria dos Estados é pobre e produtores de produtos agrícolas e minérios.

Neste contexto, o caminho é uma integração para o desenvolvimento, uma integração assentada no elemento social, educacional e cultural. Uma integração que gere desenvolvimento e renda entre as nações participantes. Esta idéia é possível, desde que o foco não esteja exclusivamente no elemento econômico, mas sim na idéia de desenvolvimento…

Por isso, eu penso que a integração latino-americana deveria ser iniciada pela educação - interligando as universidades, os centros de pesquisa e estudos, os pesquisadores, os universitários, etc. Também deveriam ser criados centros de integração em todas as grandes cidades latino-americanas, com a finalidade de fazer exposições, cursos gratuitos, intercâmbio de estudantes e pesquisadores, assim como disseminar o português e o espanhol para todos os interessados.

A educação e o conhecimento são elementos essenciais dentro do processo de integração, inclusive quem acompanha a integração européia sabe que, atualmente, estão tentando interligar as Universidades, criando uma educação da Comunidade Européia. Isto pode ser feito aqui, mesmo sem ter a integração econômica, ou seja, as universidades e os centros de pesquisas deveriam ser interligados, assim como deveriam trabalhar juntos em pesquisas e modelos de integração.

Simultaneamente à integração educacional deveriam promover a integração cultural, a fim de se minimizar e preservar as diferenças existentes entre as diversas culturas da América Latina. A idéia não é um país dominar o outro, mas sim reuniram esforços para a solução dos problemas que assolam ambos os povos. Certamente, a meta não deve ser econômica, inicialmente, a meta tem que ser social, educacional e cultural.

Em seguida deverão ser promovidos estudos de Direito comparado para se abrir um caminho para a integração jurídica e tributaria. Quando o direito e as leis estiverem uniformes em toda a região é que se deve entrar no campo da integração econômica, pois estando a sociedade integrada, os problemas sociais graves resolvidos, a educação uniforme e o perigo de assimilação cultural contido, é mais fácil chegar a acordos e consensos. As negociações ficam mais fáceis, assim como haverá mais interesse, entre os povos da região, em se unirem rumo a um futuro comum, formando a federação Latino-Americana.

Esta forma de integração parte do social para o mercado. Com isso as diferenças, a diversidade cultural e os interesses da população de cada país serão respeitados. Não haverá assimilações culturais, nem domínio de um Estado sobre o outro, mas tão-somente a preservação da diversidade cultural e uma interação econômica baseada na idéia de ajuda mútua e mercado comum.

A integração econômica deve ser o produto de todas as integrações e não o inicio, como se tem feito nos principais projetos e modelos de integração - ALCA, MERCOSUL, etc. A integração que se inicia dessa forma fica emperrada e enterrada em acordos meramente empresariais, problemas de economia e discussões fora da realidade da maioria das pessoas. A área econômica tem por finalidade exclusivamente o mercado e o lucro, não o bem-estar dos povos, da sociedade e da coletividade. Neste tipo de integração as relações e os interesses capitalistas estão acima de tudo, inclusive acima das sociedades e das coletividades.

Não importa se a população será prejudicada ou se o Estado, ao aderir ao plano de integração meramente econômica, se tornará dependente e atrasado. O que importa é que os mercados sejam abertos e os lucros garantidos para as empresas participantes da integração. Resumindo, a integração meramente econômica é uma integração de empresas, de capitalistas, de lucro. Não é uma integração para o bem-estar, para o desenvolvimento, para solução de graves problemas sociais.

O povo e o bem-estar social de cada país não são elementos essenciais, variáveis relevantes na integração meramente econômica. Por isso ela deve ser efetuada por último, quando houver o enlace cultural, educacional e jurídico entre os Estados. Assim a integração econômica será determinada e regida por controles sociais de cada Estado participante, principalmente porque teremos uma população educada e ativa, consciente de seus direitos e de seus interesses.

Cada povo estabelecerá parâmetros de integração social, cultural e educacional e terá em suas mãos os meios para corrigir e direcionar os excessos e os passos da integração econômica. Portanto, primeiro deve ser feito a integração social, cultural e educacional para depois se construir a integração econômica. Eu penso que isto pode ser aplicado com sucesso na América Latina…

Certamente, tudo isto deve ocorrer em um ambiente de ampla democracia, liberdades públicas plenas e respeito aos Direitos Humanos e aos Direitos das minorias. Não há espaço no mundo atual para ditaduras e nem para autoritarismos. Isto porque o autoritarismo, assim como o totalitarismo, tiram dos homens a individualidade, a liberdade, a iniciativa, a capacidade de pensar, criar e ser feliz. E sem esses elementos o homem não se desenvolve e não evolui. Quando os indivíduos, dentro do sistema totalitário ou autoritário, percebem isto, o germe é ativado e o regime cai. Cai porque o totalitarismo e o autoritarismo são sistemas. E são os homens que criam os sistemas e não os sistemas que criam os homens. Portanto, um sistema totalitário/autoritário está fadado ao fracasso e à destruição. Contudo, enquanto sobrevive causa grande mal e sofrimento aos seres humanos.

E aqui vai a minha crítica aos EUA. Quem quer integração constrói ponte e não muro. O muro na fronteira dos EUA com o México é um elemento anti-integração, um elemento que destrói todo o discurso americano a favor da aproximação dos povos. Falam em integração, mas constroem muros... Certamente, as empresas pulam o muro e a integração econômica acontece, porém, é um integração fria e passageira. Uma integração que não cria laços, não constrói amigos, não resolve os problemas...

12/11/2007

Os acordos devem ser cumpridos

A ocupação da Reitoria da USP, e outras ocupações, acabaram com um acordo. O CRUESP e os Reitores colheram os frutos desse acordo e agora, na hora de cumprirem o que foi estabelecido, disseram que não vão cumprir nada. Disseram que não vão cumprir aquilo que foi acordado.

Eu ainda estou estarrecido e estupefato com essa afirmação: "Não vamos cumprir o acordo !!!", disseram os Reitores da UNESP e da UNICAMP, enfim, os vigaristas canalhas do CRUESP.

Eu fico imaginando a cara deles. Possivelmente, deveriam estar com a risada diabólica do Pica-Pau retumbando em suas cabeças (HUHUHUHUHUHUHAHAHAHAHAHÁHÁHÁHÁHÁ!!!!! hahahahahahahaahahahahahaha uou esse dinheiro e todo meuuuuuuuuu hahahahah, todo meuuuuuuuuu, só meuuuuuuuuu).

Não só isso, deveriam estar sorrindo por dentro e dizendo: "Enganamos os trouxas !!! Enganamos os trouxas !!! Enganamos os trouxas !!!".


Enfim, depois que colheram os frutos do acordo, eles dizem que não vão cumprir o que acordaram. Se nós estivéssemos no mundo da ilegalidade, duas coisas aconteceriam com os Reitores da UNESP e da UNICAMP. A primeira, teriam suas línguas cortadas. Quem não cumpre acordo não pode ter língua para continuar fazendo acordos mentirosos. Para continuar enganando e usando a boa-fé dos outros. A segunda, teriam seus pênis cortados. Homem que não tem palavra não é homem. Logo, não pode ter pênis. Portanto, no mundo da ilegalidade quem não cumpre acordo vira eunuco sem língua.

Mas o mundo da ilegalidade é um mundo a parte. Já no mundo da legalidade os homens podem mentir a vontade. Podem contar mentiras individuais ou mentiras sociais. Podem enganar de um em um ou enganar toda a coletividade. Podem fazer acordos, colherem os frutos e depois, na hora de cumprirem suas partes, saírem pela tangente. Isso é estelionato na cara dura.

Eles estão transferindo suas características pessoais de mal caráter e picaretas para a instituição. Estão transformando o CRUESP em um órgão mentiroso, mal caráter, picareta e sem palavra. Esta é a novidade desta história.


A partir de agora a mentira parece que foi institucionalizada de vez. Isso já ocorria no âmbito da política, mas no âmbito da Administração Pública é a primeira vez que eu vejo o negócio ocorrer às escâncaras. Os acordos dos órgãos públicos eram cumpridos a risca. Se não fossem cumpridos, o judiciário obrigava seu cumprimento. Agora, o CRUESP está tentando abrir a porta para a institucionalização do estelionato na administração pública.

Resumindo, seria o CRUESP uma instituição estelionatária ??? Pessoa jurídica só pratica crime ambiental, dizem os penalistas... Mas de repente eu acho que pessoa jurídica de direito público pode praticar estelionato.


E essa estupidez dos Reitores da UNICAMP e da UNESP vai nos levar a uma nova greve e uma série de ocupações. E desta vez o sangue vai correr, pois esses Reitores tomaram essas iniciativas, justamente, para tentar deslegitimar as conquistas das ocupações. Eles estão dizendo abertamente: "Venceram, mas não levaram !!! Fizemos acordos, mas não cumprimos !!! Quero ver Vocês ocuparem novamente !!!".

Contudo, se as greves e as ocupações se repetirem, por conta da falta de palavra dos Reitores e do CRUESP, os pedidos não podem ser o cumprimento daquilo que foi acordado, mas sim a expulsão da Universidade desses desgraçados que estão jogando na lama as instituições públicas. As greves e as ocupações devem objetivar a cabeça desses Reitores, pois enquanto eles estiverem dentro da Administração Pública não haverá nenhuma garantia de que a instituição que eles dirigem irá cumprir os acordos que fazem. Para mudar a instituição devemos tirar as maçãs podres, os picaretas, etc...

Pessoas monstruosas tornam as instituições monstruosas. Pessoas sem palavra tornam as instituições sem palavra. Pessoas corruptas corrompem as instituições.

Precisamos limpar as instituições públicas e os órgãos que representam a coletividade. E isso tem que começar cortando a cabeça daqueles que corrompem e deslegitimam as instituições. Esses deslegitimadores destroem os pilares da Democracia e do Estado de Direito, destroem as instituições e trazem o caos para a sociedade; assim como opressão, exploração e exclusão para a coletividade.

Não precisamos desses indivíduos nas instituições públicas. E temos agira rapidamente para impedir que contaminem as instituições. Precisamos impedir que eles transfiram para a instituição os seus defeitos, os seus vícios, o mal que carregam consigo, dentro de suas vidas medíocres e insignificantes socialmente e coletivamente.

O acordo tem que ser cumprido, pois a outra parte, nós, cumprimos a nossa parte. Certamente, os Reitores não esperavam que o ICMS fosse crescer tanto. Eles achavam que era um mal acordo e que os estudantes e os trabalhadores iriam quebrar a cara, pois o imposto não ia passar daquilo que eles pensavam.

Mas a fé dos trabalhadores e dos estudantes foi mais forte. O ICMS cresceu além da conta e o excesso tem que ser repartido conforme foi acordado. Fizeram um acordo. Colheram os frutos e agora querem dar para trás ??? Será que eles pensam que os trabalhadores e estudantes são idiotas ??? Se pensam, vão quebrar a cara mais uma vez !!!

O mal não pode vencer. Os Reitores da UNICAMP e da UNESP demonstram que são um mal para a sociedade, para a coletividade e para as Universidades Públicas. Nós temos a obrigação moral e ética de derrotar esse mal. Mal que tenta destruir as instituições e os pilares da sociedade e da coletividade.

11/11/2007

De repente eu começo a achar que tem dedo do governo na história...

De repente eu começo a achar que tem dedo do governo na sabotagem da internet do CRUSP. Sabemos, perfeitamente, que existem arapongas do governo infiltrados na USP e no CRUSP... Polícia Federal, Abin, P2, etc... Dizem que monitoram e investigam os alunos estrangeiros, principalmente os peruanos, bolivianos e angolanos que, algumas vezes, servem de mulas para trazer drogas ao Brasil... Também monitoram os tais radicais de partidos de esquerda e movimentos sociais.

Eu comecei a pensar isso porque o governo brasileiro tem interesse em silenciar as críticas dirigidas a Venezuela e Hugo Chaves. E as críticas mais fortes e diretas ao ditador venezuelano foi eu que escrevi... Será que há está conexão ou é apenas uma miragem da minha cabeça ?!?

Vou estudar melhor esta questão e buscar mais evidências...

10/11/2007

Os ratos tecnológicos da USP

Antigamente, os ratos roiam a roupa do Rei de Roma. Hoje, os ratos roem a fibra ótica da USP. Realmente, os tempos mudaram. Até os ratos mudaram seus costumes e comportamentos. Atualmente, são ratos high Tec.

Mas um outro ponto preocupante desta história, que deve ser apurado em processo administrativo, é o desleixo e o descuido dos técnicos do CCE com equipamentos altamente sofiscados e caros. Isso porque disseram-me que a internet pode não voltar a funcionar tão cedo, pois terão que fazer pregão para comprar outra fibra ótica para a USPnet, ou seja, o desleixo e a falta de cuidado com os equipamentos de alta tecnologia da USP estão gerando prejuízos para a Universidade e para o patrimônio público.

Isto fica ainda mais preocupante quando sabemos que existem computadores de mais de R$ 1.000.000,00 de reais aos cuidados do CCE, assim como outros equipamentos de alta tecnologia. Computadores e servidores que estão rodando dados altamente avançados de pesquisas da USP. Se os ratos roem as fibras óticas da USPnet, imagine o que os cupins podem fazer com computadores como estes?

Este caso tem que ser investigado em processo administrativo e os técnicos ineficientes e descuidados com equipamentos públicos devem ser responsabilizados pelos danos que estão ocasionando para a Universidade e para o patrimônio público. Não é a Universidade que tem que pagar pelos danos, são os técnicos, pois a negligência, imprudência e imperícia gera culpa.

09/11/2007

Os ratos roeram a fibra da USPNet ?!!!?

A USPnet do Bloco E do CRUSP (Bloco em que eu moro) foi cortada, ou seja, bloqueada. E a explicação dada pelo CCE, responsável pela internet do CRUSP, é que os ratos roeram a fibra. Você acredita nisso ? que os ratos roeram as fibras de internet e por isso a rede foi bloqueada ?

Eu digo claramente: não acredito nisso. Acredito que, se houve algum problema com a fibra, foi sabotagem. A internet foi cortada propositalmente para impedir o nosso acesso à rede. Para impedir que não continuássemos escrevendo e publicando textos contra determinadas pessoas e contra determinados interesses. Principalmente textos contra a máfia que opera dentro da USP.

Por falar nisso, a internet foi cortada justamente quando eu escrevi um texto denunciando a máfia que opera e tenta controlar a USP. Você já leu este texto ? Se não leu, clique aqui para ler:

http://crimeusp.blogspot.com/

Certamente, vão culpar os ratos e coisas parecidas... Afinal eles não podem se defender... Porém, a verdade é outra... Quem roeu a fibra deve ser técnico roedor e fez isso a mando da máfia que tenta controlar a USP...

Mas por que estou dizendo isso ? Porque há um histórico de sabotagens na internet do CRUSP. Desde que esta internet foi implantada, nós temos sido vítimas das sabotagens dos técnicos. Inclusive, eu já escrevi dezenas de textos sobre isso. Vou reunir todos os textos e re-disponibilizá-los no Blog que criei para reunir estes fatos.

Ultimamente, a internet até que estava estabilizada, mas, de repente, todas as sabotagens voltaram. Voltaram porque a máfia da USP foi cutucada e como eles tem funcionários em todos os locais, acionaram os seus técnicos roedores para comer a fibra...

Esse caso é um alerta principalmente para nós do Instituto OCW Br@sil, assim como para outras pessoas que tem parceria com a USP... Nós pretendemos implantar dezenas de projetos em parceria com esta Universidade e devemos observar com muita atenção as pessoas da Universidade que irão integrar os projetos, pois muitas vezes o funcionário não veio para auxiliar na construção do Projeto, veio para sabotar e impedir que a Universidade realize um trbalho social eficaz, que a Universidade seja aberta aos excluídos, aos debaixo...

A Reitoria e os Professores justos que estão na USP sabem disso... Inclusive, muitas vezes, eles mesmos foram vítimas dessa máfia. Muitos tiveram projetos, idéias e pesquisas boicotadas e foram atacados pelas costas porque colocaram em risco determinados interesses vigentes dentro da Universidade. Foram atacados porque não atenderam a determinadas recomendações ou seguiram orientações de determinadas pessoas, ou se negaram a satisfazer determinadas vontades.

Essa máfia vê a USP como extensão de seus negócios particulares. Eles vêem a Universidade como uma extensão de seus interesses, um caminho para ficarem ricos. Cada vez mais ricos. Não estão aqui porque possuem talento para a pesquisa ou queiram trabalhar com o conhecimento, com o pensamento, com as idéias. Eles estão aqui porque vêem a Universidade Pública uma oportunidade de negócio. Para eles o conhecimento e a educação universitária são mercadorias. Por isso, eles querem privatizar tudo. Este é o grande objetivo da máfia infiltrada na USP: privatizar tudo.

Certamente, privatizar para eles, ou seja, privatiza tudo, mas eles compram todas as ações para controlarem tudo... Neoliberalismo até nos ossos.

Certamente, eles não conseguirão ir muito longe, pois foram vistos. Antes eles agiam em segredo, mas agora foram visto. Como o poder que exerciam se baseava no segredo, a publicação de seus nomes e de suas ações quebram esse poder.

Portanto, tudo o que temos que fazer é manter os refletores sobre eles. Certamente, continuarão fazendo coisas como esta, por exemplo roer a fibra para bloquear a nossa internet, irão nos atacar pelas costas, etc... Mesmo assim, temos que continuar em frente, denunciando todos os fatos, mostrando a verdadeira face do mal, dos opressores e dos exploradores.

Lembre-se que a Universidade Pública somente sobreviverá se nós que importamos com o interesse público, com a coletividade, com a maioria da população (os excluídos) lutarmos contra o poder devastador do capital e dos grupos dominantes. O poder dos grupos dominantes se baseiam no segredo e na devastação do patrimônio público, assim como das instituições públicas.

Querem destruir a educação pública de qualidade, pois isso impedirá o surgimento de revolucionários e de rebeldes que contestem o seu poder. Querem destruir a educação pública de qualidade para banalizar os pensamentos, as idéias e a capacidade criativa dos cidadãos. Por isso, falam em ensino com a finalidade exclusiva de formar mão-de-obra... Eles querem privatizar tudo e montar fábricas de Eichmanns...

Mas eles não conseguirão, pois não irão passar... Não irão passar porque nós iremos pará-los e iremos combatê-los em todas as partes, em todos os campos e de todas as formas... Esta é uma lei Universal: toda ação gera uma reação em sentido contrário e de mesma intensidade... Nós somos a reação em sentido contrário de mesma intensidade....
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Governantes e administradores públicos que possuem mentalidade autoritária trabalham arduamente para controlar a internet. Sabem que um golpe contra a Democracia possui poucas chances de sucesso com a internet ligada. Por isso, buscam formas e meios de controle e de restrição.

Contudo, se fizerem isso, entrarão em um estado de regressão tecnológica. Quanto mais controlarem a internet e mais restrições colocarem, mais atrasados ficarão. Basta ver o Irã, a China, Myanmar... Enquanto nas demais nações a internet catalisa um salto de desenvolvimento e ações sociais. Nestes países fechados e com internet restrita o povo se aliena...

Eu acredito que a internet é uma arma poderosa contra o autoritarismo e contra o totalitarismo, pois ela liga as pessoas, estabelece elos de fraternidade e solidariedade, transforma pequenas gotas d'água de ação em poderosos movimentos. Vejam as contestações de Seattle, os Fóruns Sociais, etc... Tudo isso deriva do poder de transformação da internet que aproximou as pessoas e seus sentimentos...

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08/11/2007

O autoritarismo da ONG Transparência Brasil

O Diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, em uma entrevista para o Jornal do Campus da USP 1-15/11/2007 diz que a Universidade existe em função da produtividade e não do "anseio" das pessoas. Afirmou ainda que estudante não tem que dar opinião. Tem é que ficar calado ! Ainda de acordo com ele, diz o Jornal, dar chance aos estudantes opinarem sobre a vida acadêmica e o futuro da Universidade é um erro que tem levado as escolas à falência.

Eu nunca atribuí muita relevância para a tal ONG Transparência Brasil. E agora, depois dessas falas do tal Direto-Executivo, concluo que esta ONG é uma organização autoritária, anti-democrática, hipócrita e nociva para a sociedade. Ao dizer que o ensino serve para formar mão-de-obra ele denunciou a finalidade escondida da ONG: dar respaldo para a exploração capitalista e alienar os membros da sociedade, tirando dos estudantes o poder de transformação e mudança.

O que ele quer é a imposição dos currículos à revelia da vontade dos estudantes. Contudo, eu pergunto, de quem é a vida que será formatada pelo currículo ? Se é a vida é do estudante, quem deve decidir é ele. É ele que será afetado. Certamente, a mentalidade autoritária gosta de impor para os outros as suas decisões.

Querem afastar os estudantes dos centros decisórios para que possam estabelecer, sem questionamentos, as regras de dominação e controle. É sempre a mesma coisa, o autoritarismo busca sempre determinar o tipo de educação, os conteúdos curriculares, as informações que os estudantes devem ou não ter...Foi por isso que os militares da ditadura mexeram nos curriculos escolares e fizeram as mudanças de cima para baixo.

Contudo, o mais surpreendente na fala do Diretor da ONG Transparência Brasil é a inversão da lógica atual. As escolas faliram, Sr. Diretor, porque os currículos foram modificados de cima para baixo sem ouvir ninguém. Quem mexeu nos currículos foram os militares e fizeram isto sozinhos. Pelo que eu saiba os estudantes não foram chamados para opinar sobre as mudanças curriculares durante a ditadura. Portanto, Sr. Diretor, de onde é que você tirou a informação de que escolas foram a falência porque os estudantes opinaram sobre os currículos ? Qual escola foi a falência por causa disso? Onde e quando ?

Além disso, os currículos dizem respeito à vida do estudante. Por isso, os estudantes deve ter o direito de escolher os modelos curriculares que são de seu interesse e que preenche os seus anseios. Isso é liberdade. Isso é Democracia. Certamente, isso é inaceitável para uma mentalidade autoritária como a sua e da ONG Transparência Brasil...

Chamo a atenção ainda para mais um ponto. Quem lê Hannah Arendt deve ter ouvido falar em banalidade do mal e vazio de pensamento. A educação meramente profissionalizante é uma educação que dissemina o vazio de pensamento, a incapacidade de pensar politicamente e socialmente, de compreender o sentido e o conteúdo das ações que pratica. Eichmann era um indivíduo banal porque não conseguia ver além das regras e das ordens, era um operário padrão dominado pelo vazio de pensamento.

Quem vê a educação como mero centro de formação de mão-de-obra está disseminando o germe totalitário na sociedade. Está tentando transformar as escolas em um centro de formação de Eichmanns, ou seja, um centro de formação de mão-de-obra que forma indivíduos altamente especializados incapazes de ver e pensar em profundidade, incapazes de compreender e ligar as suas ações com o resultado de suas ações.

Exemplos claros disso são alguns físicos e matemáticos. Entendem tudo de física e matemática, porém são completamente analfabetos políticos. São analfabetos funcionais para a política, para a ética, para os Direitos Humanos, etc...Logo, possuem uma visão estreita da realidade. Tão estreita que coloca toda a sociedade em risco.

Enfim, a função da educação não é formar mão-de-obra. Isso é um desvirtuamento completo da educação. A função da educação é formar, para a vida, seres pensantes e conscientes de sua posição na sociedade e no mundo. Seres que respeitem e compreendam a importância de se respeitar as diferenças, as liberdades, as crenças, os direitos, etc. O homem nasceu para pensar, para criar, para ser livre e se relacionar com outros seres... Logo, é para isso que a educação deve formar e preparar o homem.

Transformar a educação e o ensino em formação de mão-de-obra é dizer que o homem nasceu para a indústria, para ser empregado (escravo) de empresas e corporações. Isso é uma mentira. Uma mentira criada para aumentar a quantidade de mão-de-obra no mercado, logo barateá-la, para ampliar os lucros capitalistas. Educação para mão-de-obra não forma pessoas, forma empregados. Educação para mão-de-obra não é uma educação adequada para os seres humanos, pois primeiro deve-se formar o homem, sua consciência, sua moral, sua ética e seus valores. Depois é que se dá treinamento profissional.

É lamentável que a ONG Transparência Brasil tenha uma linha de pensamento nociva aos seres humanos e favorável à dominação e exploração capitalista. O capitalismo precisa ser controlado, humanizado e socializado e isto somente se alcançará formando homens e não empregados. Empregados não pensam, não refletem, não criticam, não se rebelam. Educação profissional serve apenas para formar empregados doceis e manipuláveis, resignados e incapazes de se rebelar diante da exploração, da opressão e das exclusões.

E, para terminar, uma última pergunta: o que o Diretor-executivo da ONG Transparência Brasil tem a ver com o ensino universitário no Brasil ? Por que é que pediram a opinião desse indivíduo obtuso sobre oes estudantes ?

Portanto, a minha conclusão é única: os estudantes devem falar e participar, os filhotes do autoritarismo e do capitalismo selvagem é que devem calar a boca !

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Reflexões de Wilhelm Reich

A tradição é importante. É democrática quando desempenha a sua função natural de prover a nova geração com um conhecimento das boas e más experiências do passado, isto é, a sua função de capacitá-la a aprender às custas dos erros passados a fim de os não repetir.

A tradição torna-se a ruína da democracia quando nega à geração mais nova a possibilidade de escolha; quando tenta ditar o que deve ser encarado como 'bom' e como 'mau' sob novas condições de vida. Os tradicionalistas fácil e prontamente se esquecem de que perderam a capacidade de decidir o que não é tradição.

Por exemplo, o aperfeiçoamento do microscópio não foi conseguido pela destruição do primeiro modelo: o aperfeiçoamento foi realizado com a preservação e o desenvolvimento do modelo primitivo a par com um estágio mais avançado do conhecimento humano. Um microscópio do tempo de Pasteur não capacita o pesquisador moderno a estudar uma virose. Suponha agora que o microscópio de Pasteur tivesse o poder e o descaramento de vetar o microscópio eletrônico.

Os jovens não sentiriam nenhuma hostilidade para com a tradição, não teriam na verdade senão respeito por ela se, sem se arriscar, pudessem dizer: '_ Isto nós o tomaremos de vocês porque é convincente, é justo, diz respeito também à nossa época e é passível de desenvolvimento. Aquilo, entretanto, não podemos aceitar. Era útil e verdadeiro para o seu tempo - seria inútil para nós.' E esses jovens deveriam preparar-se para ouvir dos seus filhos as mesmas palavras.

Outras reflexões: http://direitousp.freevar.com/abertura.htm

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Os quatro pilares da educação

Capítulo 4 do livro Educação, um tesouro a descobrir: Jacques Delor. São Paulo, Unesco/MEC/Cortez, 1998
Clique aqui para baixar este livro

Dado que oferecerá meios, nunca antes disponíveis, para a circulação e armazenamento de informações e para a comunicação, o próximo século submeterá a educação a uma dura obrigação que pode parecer, à primeira vista, quase contraditória. A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro. Simultaneamente, compete-lhe encontrar e assinalar as referências que impeçam as pessoas de ficar submergidas nas ondas de informações, mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e privados e as levem a orientar-se para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos. À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele.

Nesta visão prospectiva, uma resposta puramente quantitativa à necessidade insaciável de educação - uma bagagem escolar cada vez mais pesada - já não é possível nem mesmo adequada. Não basta, de fato, que cada um acumule no começo da vida uma determinada quantidade de conhecimentos de que possa abastecer-se indefinidamente. É, antes, necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer estes primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em mudança.

Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta.

Mas, em regra geral, o ensino formal orienta-se, essencialmente, se não exclusivamente, para o aprender a conhecer e, em menor escala, para o aprender a fazer. As duas outras aprendizagens dependem, a maior parte das vezes, de circunstâncias aleatórias quando não são tidas, de algum modo, como prolongamento natural das duas primeiras. Ora, a Comissão pensa que cada um dos " quatro pilares do conhecimento" deve ser objeto de atenção igual por parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global a levar a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da sociedade.

Desde o início dos seus trabalhos que os membros da Comissão compreenderam que seria indispensável, para enfrentar os desafios do próximo século, assinalar novos objetivos à educação e, portanto, mudar a idéia que se tem da sua utilidade. Uma nova concepção ampliada de educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo - revelar o tesouro escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passe a considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser.

Aprender a conhecer

Este tipo de aprendizagem que visa não tanto a aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento pode ser considerado, simultaneamente, como um meio e como uma finalidade da vida humana. Meio, porque se pretende que cada um aprenda a compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais, para comunicar. Finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir.

Apesar dos estudos sem utilidade imediata estarem desaparecendo, tal a importância dada atualmente aos saberes utilitários, a tendência para prolongar a escolaridade e o tempo livre deveria levar os adultos a apreciar, cada vez mais, as alegrias do conhecimento e da pesquisa individual. O aumento dos saberes, que permite compreender melhor o ambiente sob os seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição de autonomia na capacidade de discernir. Deste ponto de vista, há que repeti-lo, é essencial que cada criança, esteja onde estiver, possa ter acesso, de forma adequada, às metodologias científicas de modo a tornar-se para toda a vida " amiga da ciência". Em nível do ensino secundário e superior, a formação inicial deve fornecer a todos os alunos instrumentos, conceitos e referências resultantes dos avanços das ciências e dos paradigmas do nosso tempo.

Contudo, como o conhecimento é múltiplo e evolui infinitamente, torna-se cada vez mais inútil tentar conhecer tudo e, depois do ensino básico, a omnidisciplinaridade é um engodo. A especialização, porém, mesmo para futuros pesquisadores, não deve excluir a cultura geral. " Um espírito verdadeiramente formado, hoje em dia, tem necessidade de uma cultura geral vasta e da possibilidade de trabalhar em profundidade determinado número de assuntos. Deve-se, do princípio ao fim do ensino, cultivar, simultaneamente, estas duas tendências".

A cultura geral, enquanto abertura a outras linguagens e outros conhecimentos permite, antes de tudo, comunicar-se. Fechado na sua própria ciência, o especialista corre o risco de se desinteressar pelo que fazem os outros. Sentirá dificuldade em cooperar, quaisquer que sejam as circunstâncias. Por outro lado, a formação cultural, cimento das sociedades no tempo e no espaço, implica a abertura a outros campos do conhecimento e, deste modo, podem operar-se fecundas sinergias entre as disciplinas. Especialmente em matéria de pesquisa, determinados avanços do conhecimento dão-se nos pontos de interseção das diversas áreas disciplinares.

Aprender para conhecer supõe, antes tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. Desde a infância, sobretudo nas sociedades dominadas pela imagem televisiva, o jovem deve aprender a prestar atenção às coisas e às pessoas. A sucessão muito rápida de informações mediatizadas, o " zapping" tão freqüente, prejudicam de fato o processo de descoberta, que implica duração e aprofundamento da apreensão. Esta aprendizagem da atenção pode revestir formas diversas e tirar partido de várias ocasiões da vida (jogos, estágios em empresas, viagens, trabalhos práticos de ciências...).

Por outro lado, o exercício da memória é um antídoto necessário contra a submersão pelas informações instantâneas difundidas pelos meios de comunicação social. Seria perigoso imaginar que a memória pode vir a tornar-se inútil, devido à enorme capacidade de armazenamento e difusão das informações de que dispomos daqui em diante. É preciso ser, sem dúvida, seletivo na escolha dos dados a aprender " de cor" mas, propriamente, a faculdade humana de memorização associativa, que não é redutível a um automatismo, deve ser cultivada cuidadosamente. Todos os especialistas concordam em que a memória deve ser treinada desde a infância, e que é errado suprimir da prática escolar certos exercícios tradicionais, considerados como fastidiosos.

Finalmente, o exercício do pensamento ao qual a criança é iniciada, em primeiro lugar, pelos pais e depois pelos professores, deve comportar avanços e recuos entre o concreto e o abstrato. Também se devem combinar, tanto no ensino como na pesquisa, dois métodos apresentados, muitas vezes, como antagônicos: o método dedutivo por um lado e o indutivo por outro. De acordo com as disciplinas ensinadas, um pode ser mais pertinente do que outro, mas na maior parte das vezes o encadeamento do pensamento necessita da combinação dos dois.

O processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se com qualquer experiência. Neste sentido, liga-se cada vez mais à experiência do trabalho, à medida que este se torna menos rotineiro. A educação primária pode ser considerada bem-sucedida se conseguir transmitir às pessoas o impulso e as bases que façam com que continuem a aprender ao longo de toda a vida, no trabalho, mas também fora dele.

Aprender a fazer

Aprender a conhecer e aprender a fazer são, em larga medida, indissociáveis. Mas a segunda aprendizagem está mais estreitamente ligada à questão da formação profissional: como ensinar o aluno a pôr em prática os seus conhecimentos e, também, como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se pode prever qual será a sua evolução? É a esta última questão que a Comissão tentará dar resposta mais particularmente.

Convém distinguir, a este propósito, o caso das economias industriais onde domina o trabalho assalariado do das outras economias onde domina, ainda em grande escala, o trabalho independente ou informal. De fato, nas sociedades assalariadas que se desenvolveram ao longo do século XX, a partir do modelo industrial, a substituição do trabalho humano pelas máquinas tornou-o cada vez mais imaterial e acentuou o caráter cognitivo das tarefas, mesmo na indústria, assim como a importância dos serviços na atividade econômica.

O futuro destas economias depende, aliás, da sua capacidade de transformar o progresso dos conhecimentos em inovações geradoras de novas empresas e de novos empregos. Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa material bem determinada, para fazê-lo participar no fabrico de alguma coisa. Como conseqüência, as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar.

Da noção de qualificação à noção de competência

Na indústria especialmente para os operadores e os técnicos, o domínio do cognitivo e do informativo nos sistemas de produção, torna um pouco obsoleta a noção de qualificação profissional e leva a que se dê muita importância à competência pessoal. O progresso técnico modifica, inevitavelmente, as qualificações exigidas pelos novos processos de produção. As tarefas puramente físicas são substituídas por tarefas de produção mais intelectuais, mais mentais, como o comando de máquinas, a sua manutenção e vigilância, ou por tarefas de concepção, de estudo, de organização à medida que as máquinas se tornam, também, mais " inteligentes" e que o trabalho se " desmaterializa".

Este aumento de exigências em matéria de qualificação, em todos os níveis, tem várias origens. No que diz respeito ao pessoal de execução a justa posição de trabalhos prescritos e parcelados deu lugar à organização em " coletivos de trabalho" ou " grupos de projeto", a exemplo do que se faz nas empresas japonesas: uma espécie de taylorismo ao contrário. Por outro lado, à indiferenciação entre trabalhadores sucede a personalização das tarefas. Os empregadores substituem, cada vez mais, a exigência de uma qualificação ainda muito ligada, a seu ver, à idéia de competência material, pela exigência de uma competência que se apresenta como uma espécie de coquetel individual, combinando a qualificação, em sentido estrito, adquirida pela formação técnica e profissional, o comportamento social, a aptidão para o trabalho em equipe, a capacidade de iniciativa, o gosto pelo risco.

Se juntarmos a estas novas exigências a busca de um compromisso pessoal do trabalhador, considerado como agente de mudança, torna-se evidente que as qualidades muito subjetivas, inatas ou adquiridas, muitas vezes denominadas " saber-ser" pelos dirigentes empresariais, se juntam ao saber e ao saber-fazer para compor a competência exigida - o que mostra bem a ligação que a educação deve manter, como aliás sublinhou a Comissão, entre os diversos aspectos da aprendizagem. Qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerir e de resolver conflitos, tornam-se cada vez mais importantes. E esta tendência torna-se ainda mais forte, devido ao desenvolvimento do setor de serviços.

A "desmaterialização" do trabalho e a importância dos serviços entre as atividades assalariadas.

As conseqüências sobre a aprendizagem da " desmaterialização" das economias avançadas são particularmente impressionantes se se observar a evolução quantitativa e qualitativa dos serviços. Este setor, muito diversificado, define-se sobretudo pela negativa, não são nem industriais nem agrícolas e que, apesar da sua diversidade, têm em comum o fato de não produzirem um bem material.

Muitos serviços definem-se, sobretudo, em função da relação interpessoal a que dão origem. Podem encontrar-se exemplos disso tanto no setor mercantil que prolifera, alimentando-se da complexidade crescente das economias (especialidades muito variadas, serviços de acompanhamento e de aconselhamento tecnológico, serviços financeiros, contabilísticos ou de gestão), como no setor não comercial mais tradicional (serviços sociais, ensino, saúde etc.).

Em ambos os casos, as atividades de informação e comunicação são primordiais; dá-se prioridade à coleta e tratamento personalizado de informações específicas para determinado projeto. Neste tipo de serviços, a qualidade da relação entre prestador e usuário depende, também muito, deste último. Compreende-se, pois, que o trabalho em questão já não possa ser feito da mesma maneira que quando se trata de trabalhar a terra ou de fabricar um tecido. A relação com a matéria e a técnica deve ser completada com a aptidão para as relações interpessoais. O desenvolvimento dos serviços exige, pois, cultivar qualidades humanas que as formações tradicionais não transmitem, necessariamente e que correspondem à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas.

Finalmente, é provável que nas organizações ultratecnicistas do futuro os déficits relacionais possam criar graves disfunções exigindo qualificações de novo tipo, com base mais comportamental do que intelectual. O que pode ser uma oportunidade para os não diplomados, ou com deficiente preparação em nível superior. A intuição, o jeito, a capacidade de julgar, a capacidade de manter unida uma equipe não são de fato qualidades, necessariamente, reservadas a pessoas com altos estudos. Como e onde ensinar estas qualidades mais ou menos inatas? Não se podem deduzir simplesmente os conteúdos de formação, das capacidades ou aptidões requeridas. O mesmo problema põe-se, também, quanto à formação profissional, nos países em desenvolvimento.

O trabalho na economia informal

Nas economias em desenvolvimento, onde a atividade assalariada não é dominante, a natureza do trabalho é muito diferente. Em muitos países da África subsaariana e em alguns países da América Latina e da Ásia, efetivamente, só uma pequena parte da população tem emprego e recebe salário, pois a grande maioria participa na economia tradicional de subsistência. Não existe, rigorosamente falando, referencial de emprego; as competências são, muitas vezes, de tipo tradicional. Por outro lado, a aprendizagem não se destina, apenas, a um só trabalho mas tem como objetivo mais amplo preparar para uma participação formal ou informal no desenvolvimento. Trata-se, freqüentemente, mais de uma qualificação social do que de uma qualificação profissional.

Noutros países em desenvolvimento existe, ao lado da agricultura e de um reduzido setor formal, um setor de economia ao mesmo tempo moderno e informal, por vezes bastante dinâmico, à base de artesanato, de comércio e de finanças que revela a existência de uma capacidade empreendedora bem adaptada às condições locais.

Em ambos os casos, após numerosas pesquisas levadas a cabo em países em desenvolvimento, apercebemo-nos que encaram o futuro como estando estreitamente ligado à aquisição da cultura científica que lhes dará acesso à tecnologia moderna, sem negligenciar com isso as capacidades específicas de inovação e criação ligadas ao contexto local.

Existe uma questão comum aos países desenvolvidos e em desenvolvimento: como aprender a comportar-se, eficazmente, numa situação de incerteza, como participar na criação do futuro?

Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros

Sem dúvida, esta aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da educação. O mundo atual é, muitas vezes, um mundo de violência que se opõe à esperança posta por alguns no progresso da humanidade. A história humana sempre foi conflituosa, mas há elementos novos que acentuam o perigo e, especialmente, o extraordinário potencial de autodestruição criado pela humanidade no decorrer do século XX. A opinião pública, através dos meios de comunicação social, torna-se observadora impotente e até refém dos que criam ou mantêm os conflitos. Até agora, a educação não pôde fazer grande coisa para modificar esta situação real. Poderemos conceber uma educação capaz de evitar os conflitos, ou de os resolver de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua espiritualidade?

E de louvar a idéia de ensinar a não-violência na escola, mesmo que apenas constitua um instrumento, entre outros, para lutar contra os preconceitos geradores de conflitos. A tarefa é árdua porque, muito naturalmente, os seres humanos têm tendência a supervalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos desfavoráveis em relação aos outros. Por outro lado, o clima geral de concorrência que caracteriza, atualmente, a atividade econômica no interior de cada país, e sobretudo em nível internacional, tem tendência de dar prioridade ao espírito de competição e ao sucesso individual. De fato, esta competição resulta, atualmente, numa guerra econômica implacável e numa tensão entre os mais favorecidos e os pobres, que divide as nações do mundo e exacerba as rivalidades históricas. É de lamentar que a educação contribua, por vezes, para alimentar este clima, devido a uma má interpretação da idéia de emulação.

Que fazer para melhorar a situação? A experiência prova que, para reduzir o risco, não basta pôr em contato e em comunicação membros de grupos diferentes (através de escolas comuns a várias etnias ou religiões, por exemplo). Se, no seu espaço comum, estes diferentes grupos já entram em competição ou se o seu estatuto é desigual, um contato deste gênero pode, pelo contrário, agravar ainda mais as tensões latentes e degenerar em conflitos. Pelo contrário, se este contato se fizer num contexto igualitário, e se existirem objetivos e projetos comuns, os preconceitos e a hostilidade latente podem desaparecer e dar lugar a uma cooperação mais serena e até à amizade.

Parece, pois, que a educação deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda a vida, a participação em projetos comuns, que parece ser um método eficaz para evitar ou resolver conflitos latentes.

A descoberta do outro

A educação tem por missão, por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta. Desde tenra idade a escola deve, pois, aproveitar todas as ocasiões para esta dupla aprendizagem. Algumas disciplinas estão mais adaptadas a este fim, em particular a geografia humana a partir do ensino básico e as línguas e literaturas estrangeiras mais tarde.

Passando à descoberta do outro, necessariamente, pela descoberta de si mesmo, e por dar à criança e ao adolescente uma visão ajustada do mundo, a educação, seja ela dada pela família, pela comunidade ou pela escola, deve antes de mais ajudá-los a descobrir-se a si mesmos. Só então poderão, verdadeiramente, pôr-se no lugar dos outros e compreender as suas reações. Desenvolver esta atitude de empatia, na escola, é muito útil para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida. Ensinando, por exemplo, aos jovens a adotar a perspectiva de outros grupos étnicos ou religiosos podem-se evitar incompreensões geradoras de ódio e violência entre os adultos. Assim, o ensino da história das religiões ou dos costumes pode servir de referência útil para futuros comportamentos.

Por fim, os métodos de ensino não devem ir contra este reconhecimento do outro. Os professores que, por dogmatismo, matam a curiosidade ou o espírito crítico dos seus alunos, em vez de os desenvolver, podem ser mais prejudiciais do que úteis. Esquecendo que funcionam como modelos, com esta sua atitude arriscam-se a enfraquecer por toda a vida nos alunos a capacidade de abertura à alteridade e de enfrentar as inevitáveis tensões entre pessoas, grupos e nações. O confronto através do diálogo e da troca de argumentos é um dos instrumentos indispensáveis à educação do século XXI.

Tender para objetivos comuns

Quando se trabalha em conjunto sobre projetos motivadores e fora do habitual, as diferenças e até os conflitos interindividuais tendem a reduzir-se, chegando a desaparecer em alguns casos. Uma nova forma de identificação nasce destes projetos que fazem com que se ultrapassem as rotinas individuais, que valorizam aquilo que é comum e não as diferenças. Graças à prática do desporto, por exemplo, quantas tensões entre classes sociais ou nacionalidades se transformaram, afinal, em solidariedade através da experiência e do prazer do esforço comum! E no setor laboral quantas realizações teriam chegado a bom termo se os conflitos habituais em organizações hierarquizadas tivessem sido transcendidos por um projeto comum!

A educação formal deve, pois, reservar tempo e ocasiões suficientes em seus programas para iniciar os jovens em projetos de cooperação, logo desde a infância, no campo das atividades desportivas e culturais, evidentemente, mas também estimulando a sua participação em atividades sociais: renovação de bairros, ajuda aos mais desfavorecidos, ações humanitárias, serviços de solidariedade entre gerações... As outras organizações educativas e associações devem, neste campo, continuar o trabalho iniciado pela escola. Por outro lado, na prática letiva diária, a participação de professores e alunos em projetos comuns pode dar origem à aprendizagem de métodos de resolução de conflitos e constituir uma referência para a vida futura dos alunos, enriquecendo a relação professor/aluno.

Aprender a ser

Desde a sua primeira reunião, a Comissão reafirmou, energicamente, um princípio fundamental: a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa - espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado, especialmente graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.

O relatório Aprender a ser (1972) exprimia, no preâmbulo, o temor da desumanização do mundo relacionada com a evolução técnica4. A evolução das sociedades desde então e, sobretudo, o enorme desenvolvimento do poder mediático veio acentuar este temor e tornar mais legítima ainda a injunção que lhe serve de fundamento. É possível que no século XXI estes fenômenos adquiram ainda mais amplitude. Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecer-lhes constante-mente forças e referências intelectuais que lhes permitam compreender o mundo que as rodeia e comportar-se nele como atores responsáveis e justos. Mais do que nunca a educação parece ter, como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino.

Este imperativo não é apenas de natureza individualista: a experiência recente mostra que o que poderia aparecer, somente, como uma forma de defesa do indivíduo perante um sistema alienante ou tido como hostil, é também, por vezes, a melhor oportunidade de progresso para as sociedades. A diversidade das personalidades, a autonomia e o espírito de iniciativa, até mesmo o gosto pela provocação, são os suportes da criatividade e da inovação. Para reduzir a violência ou lutar contra os diferentes flagelos que afetam a sociedade os métodos inéditos retirados de experiências no terreno já deram prova da sua eficácia.

Num mundo em mudança, de que um dos principais motores parece ser a inovação tanto social como econômica, deve ser dada importância especial à imaginação e à criatividade; claras manifestações da liberdade humana elas podem vir a ser ameaçadas por uma certa estandardização dos comportamentos individuais. O século XXI necessita desta diversidade de talentos e de personalidades, mais ainda de pessoas excepcionais, igualmente essenciais em qualquer civilização.

Convém, pois, oferecer às crianças e aos jovens todas as ocasiões possíveis de descoberta e de experimentação estética, artística, desportiva, científica, cultural e social - , que venham completar a apresentação atraente daquilo que, nestes domínios, foram capazes de criar as gerações que os precederam ou suas contemporâneas. Na escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele que lhes é concedido, em muitos países, por um ensino tornado mais utilitarista do que cultural. A preocupação em desenvolver a imaginação e a criatividade deveria, também, revalorizar a cultura oral e os conhecimentos retirados da experiência da criança ou do adulto.

Assim a Comissão adere plenamente ao postulado do relatório Aprender a ser: " O desenvolvimento tem por objeto a realização completa do homem, em toda a sua riqueza e na complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo, membro de uma família e de uma coletividade, cidadão e produtor, inventor de técnicas e criador de sonhos".

Este desenvolvimento do ser humano, que se desenrola desde o nascimento até à morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a educação é antes de mais nada uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade. Na hipótese de uma experiência profissional de sucesso, a educação como meio para uma tal realização é, ao mesmo tempo, um processo individualizado e uma construção social interativa.

E escusado dizer que os quatro pilares da educação, acabados de descrever, não se apóiam, exclusivamente, numa fase da vida ou num único lugar. Como se verá no capítulo seguinte, os tempos e as áreas da educação devem ser repensados, completar-se e interpenetrar-se de maneira a que cada pessoa, ao longo de toda a sua vida, possa tirar o melhor partido de um ambiente educativo em constante ampliação.

Pistas e recomendações

• A educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser.

• Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida.

• Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais ampla, com-petências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.

• Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências - realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos - no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.

• Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.

• Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo. Esta perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da elaboração de programas como da definição de novas políticas pedagógicas.

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Considerações críticas da Lei 5.540/68


INTRODUÇÃO

O populismo no Brasil foi uma força ambígua. Ideologicamente, por exemplo, diante do aumento das contradições sociais, se identificou com as forças sociais de esquerda. Seu inconformismo com a “ordem” injusta do capitalismo, de marca americana, avolumou-se e tomou dimensões nacionais. O capital monopolista norte-americano era questionado em sua forma de exploração neocolonial. Os gritos de “americanos, go home” e “fora MEC-USAID” causavam fortes preocupações aos detentores do capital.

Para os militares, os responsáveis pelo insuficiente desempenho econômico e por toda insubordinação social eram os governos populistas, incoerentes, “comunistóides” e corruptos. O capital, assustado pela fraqueza desses governos na repressão aos movimentos “subversivos”, apela para a velha forma fascista que, fardada de militar, com o golpe de 1964, põe fim à “desordem” social e, com ela, à claudicante democracia populista.

Com esse golpe também se põe fim aos ricos movimentos de educação popular dos anos 60. Extingue-se o debate educacional através de cassações, exílios, perseguições, torturas e destruição da literatura marxista. É uma história conhecida. Conseqüentemente, o debate educacional, desse período, refluiu às catacumbas, à hibernação, e o Estado desencadeou um outro debate, inscrito no Governo.

Tal foi a violência do golpe desferido contra a organização e a livre expressão dos estudantes e dos educadores que foi preciso compensá-lo com importantes iniciativas e reformas educacionais revestidas da preocupação com a autonomia nacional e com alguma democracia institucional.

O debate era influenciado pela ideologia da neutralidade científica, pelo eficientismo da tecnologia educacional e pela teoria do capital humano. O MEC, por exemplo, acreditou ser possível uma lei justa, avançada, democraticamente discutida, apenas porque homens esclarecidos, “apartidários”, eram convidados a integrar comissões de alto nível e porque o Congresso formalmente funcionava, quando, na verdade, a sociedade inteira era proibida de se organizar e debater livremente.

Em outras palavras, a educação foi diretamente atingida e assimilada pelo regime político dominante que sempre oscilava entre o totalitarismo pleno ou disfarçado e uma democracia impregnada de autoritarismo. A prova dessa inconstância aparece na legislação que orienta o ensino público, bastando observar o cronograma histórico das LDB’s (Lei 4024/61;Lei 5540/68 Lei 5692/71 e Lei 9394/96) para se verificar o reflexo do momento social, político e econômico na estrutura educacional.

Enfim, todas as legislações sobre Educação Superior no Brasil foram, de alguma forma, inovadoras e ocasionaram mudanças na estrutura de ensino, ou seja, modificaram o ambiente acadêmico, alteraram hábitos arraigados e atacaram o conservadorismo da academia. Contudo, todas elas procuraram modernizar o Ensino Superior para adaptá-lo às mudanças sociais, políticas e econômicas estabelecidas e vigentes naquele momento histórico.

2. CONTEXTO HISTÓRICO

Mesmo após a revolução de 30, com exceção feita à Universidade do Distrito Federal, logo vítima da repressão da ditadura do Estado Novo, e da criação inovadora, em 1934, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, não existiam, no Brasil, condições para a concretização de uma autêntica vida universitária.

No inicio da década de 60, erguiam-se vozes em torno do problema da escola superior brasileira. Em maio de 1960, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promove o Primeiro Seminário Nacional da Reforma Universitária. Dele resulta um documento que afirma ser a universidade incapaz de elaborar uma cultura nacional e reivindica uma reforma universitária que possibilite à universidade a participação na construção de um modelo econômico definido por interesses nacionais.

O ideal de reconstruir a universidade passou a associar-se definitivamente à solução dos problemas econômicos, sociais e políticos do País. A democratização interna é vista como necessária para a construção de uma universidade nova, criadora, crítica e socialmente atuante. Reivindica-se a autonomia de pensamento na universidade e o desenvolvimento econômico independente do País — uma universidade livre numa sociedade livre.

A criação da Universidade de Brasília, em 1961, pode ser vista como tentativa de concretização dessa reforma. Os intelectuais Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, entre outros, baseados na integração do ensino com a pesquisa, propunham a organização de faculdades e institutos centrais e a criação de cursos introdutórios (que dariam a formação básica para cada área de conhecimento), cursos de bacharelado, mestrado e doutorado.

A fase de implantação dos institutos estava em seu momento decisivo quando, em 9 de abril de 1964, a UnB (Universidade de Brasília) é invadida a mando do marechal Castelo Branco. Fechada a universidade, destituídos os diretores, presos professores e alunos, queimados os livros “subversivos” da biblioteca, estava destruído um símbolo de luta pela superação do atraso cultural e do subdesenvolvimento brasileiro. Foi preciso contentar-se com o caráter da reforma universitária empreendida pelo Regime Militar.

O presidente Castello Branco, ao tomar a reforma nas mãos, realmente romperia com o padrão da escola superior do passado, mas na direção dos interesses que podem ser resumidos na frase: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Neste sentido, a política de repressão a estudantes e intelectuais, após o golpe militar, deve ser encarada como parte da necessária desmobilização das resistências à desnacionalização do ensino.

O Regime Militar precisava dispor de uma estrutura legal que preparasse o terreno para adaptar o sistema universitário ao novo modelo econômico que se pretendia implantar. Seria preciso preparar quadros técnicos para as multinacionais que aqui se instalariam, bem como preparar pessoal capaz de mover a infra-estrutura de comunicação, transporte, energia, etc.; necessária para o funcionamento daquelas empresas.

A política universitária pós-64 vai consolidar-se em duas etapas: a primeira, até 1968, onde as medidas tomadas têm um caráter de contenção, tanto da mobilização estudantil como da expansão do sistema. Embora o novo modelo econômico necessitasse de um maior número de profissionais de nível superior, constata-se que o número de vestibulandos entre 1964 e 1968 cresce 120% em relação ao período 60-64, mas o número de vagas entre 64-68 decresce 11% em relação a 60-64. (RETRATO DO BRASIL, Vol II, p. 438-440).

Isto gera uma crescente onda de protesto de docentes e discentes, aumentando a força de mobilização e organização do movimento estudantil, a despeito de o governo já se ter prevenido com medidas repressivas. Por exemplo, a “Lei Suplicy” que extinguiu a autonomia e representatividade das entidades estudantis, transformando-as em apêndice do Ministério da Educação; extinguiu a UNE, as UEEs e os CAs (Uniões Estaduais de Estudantes e Centros Acadêmicos); criou o Diretório Nacional dos Estudantes, que só poderia reunir-se convocado pelo Ministério ou pelo Conselho Federal de Educação e ainda assim no período de férias. Em 1967, pelo Decreto-Lei no 252, ficou determinado que a representação discente se limitasse ao âmbito de cada universidade e sem manifestar-se politicamente.

Na segunda etapa ou seja, pós-68, as medidas repressivas concretizam-se no AI-5 (Ato Institucional no 5) e, no âmbito universitário, no Decreto-Lei no 477/69, que proibia qualquer manifestação de professores, alunos ou funcionários, sob pena de processo, prisão e perda dos direitos. Ë nesta segunda etapa que a reforma universitária se configura em lei. (RETRATO DO BRASIL, Vol II, p. 438-440).

A reforma universitária do Regime Militar tem origem nos chamados Acordos MEC-USAID (Ministério da Educação e Cultura do Brasil - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento internacional), ponto-chave da política de desnacionalização do ensino brasileiro. Através desses acordos técnicos, americanos e brasileiros (sob a coordenação do teórico da filosofia educacional americana para a América Latina, Rudolph Atcon) procurariam propor a modernização do ensino superior no Brasil.

Neste contexto é gestada a lei 5.540/68 que buscou fazer a reforma universitária de interesse da elite dominante e que se adequava à realidade do momento e às concepções dos militares.

3. CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS

No final de 1967, o governo brasileiro criou uma comissão chefiada pelo coronel do Exército Meira Mattos, para fazer um levantamento da crise e intervir nas universidades. O que essa comissão propôs se encaixava perfeitamente no espírito dos acordos MEC-USAID. O mesmo aconteceu com as propostas do Grupo de Trabalho da Reforma Universitária, materializadas na Lei no 5.540, aprovada em 28 de novembro de 1968.

A modernização da universidade ocorre, assim, menos por pressão estudantil e mais pela descoberta dos militares de que a inovação poderia ser manipulada sem ameaças à estrutura de poder vigente.

Neste período a educação passa a ser encarada oficialmente como um fenômeno isolado do resto do contexto social e político, identificando-se a reforma universitária com remodelações ténico-administrativas. Bastaria uma “boa direção” para se ter um “bom rendimento”. Racionalização, eficiência e produtividade tornam-se valores absolutos, sobrepondo-se, pretensamente, a qualquer opção política.

Em termos organizacionais a lei 5.540/68 propunha que o ensino superior fosse ministrado preferencialmente em universidades, nas quais a menor estrutura seria o departamento, congregando disciplinas afins. Propõe também a não duplicação de serviços, visando maior economia e melhor produtividade.

Além do reitor, as universidades deveriam ser administradas por conselhos compostos de membros das comunidades acadêmicas, representantes do Ministério da Educação e representantes das comunidades locais, que na prática funcionariam como emissários do poder.

As unidades universitárias deveriam promover cursos de graduação, pós-graduação, aperfeiçoamento e especialização, bem como a pesquisa. Extingue-se a cátedra, criando-se a carreira docente. Isto, entretanto, gera a corrida pela titulação, que se traduz numa produção acadêmica desvinculada das necessidades sociais — ascender na carreira acaba sendo uma das poucas alternativas para obter melhorias salariais.

Unifica-se o vestibular, dando origem à “geração cruzinha”, aquelas legiões de candidatos mais preocupados em aprender as “mancadas” dos exames do que em se preparar para serem profissionais competentes. Criam-se os currículos mínimos, com prioridade do cumprimento de determinado número de horas-aula e não do conteúdo a ser transmitido aos alunos, introduz-se a matricula por disciplina, desfazendo-se e desarticulando-se, assim, os grupos de estudantes que, antigamente, caminhavam juntos na vida acadêmica. Elimina-se, desta forma, uma das vigas mestras da organização estudantil.

De acordo com Pereira (1986, p. 117-118) a reforma universitária, implantada em 1968 foi de cima para baixo e ocasionou

(...) algumas mudanças na estrutura das instituições, sendo que os resultados, na prática, ao longo dos seus quinze anos de implantação, provocaram sérias distorções, das quais a mais acentuada tem sido a queda da qualidade do ensino. Apesar de algumas mudanças na sua estrutura, a universidade pós-moderna é ainda a tradicional. Ela apenas se apropriou de certos meios técnicos e burocráticos mas a sua função é ainda impregnada do mesmo espírito da educação superior do passado. Porém, com a nítida diferença que a universidade, após vinte anos de regime autoritário, é desprovida do espírito critico, é esvaziada do saber transformador, é privada da liberdade acadêmica, e Todos esses aspectos considerados essenciais e imprescindíveis para o fortalecimento do potencial da instituição foram renegados pelo regime de força autoritária.

Sem dúvida, sob alguns aspectos, como o da diversificação dos cursos, a situação melhorou:

(...) em 1960 havia 1.115 faculdades no Pais; em 1980 cerca de 4.394 estabelecimentos de ensino superior. Mas um exame mais cuidadoso demonstra como se chegou a isso: em parte através da implantação da “indústria do saber”, com o surgimento de cursos de fim de semana e do inchaço da rede particular que surgiu para atuar principalmente na área de Ciências Humanas. (RETRATO DO BRASIL, Vol II, p. 438-440).

Em outras palavras, teve início uma “indústria” universitária, agraciada com um grande lucro, pois necessita de uma infra-estrutura que se restringe quase sempre a salas de aula superlotadas de sonolentos alunos; lousa; giz e um professor hora-aula dedicado, mas mal remunerado — sem as mínimas condições de exercer com dignidade seu trabalho.

Para se ter uma idéia da evolução do ensino privado, basta dizer que em 1963 o Brasil contava com 28.944 docentes e em 1980 eram 116.827, dos quais mais de dois terços trabalhavam em estabelecimentos particulares. Do ponto de vista mais geral, o ensino particular. cresceu cinco vezes mais que o ensino público de 1963 para 1980. (RETRATO DO BRASIL, Vol II, p. 438-440).

Além disso, durante o Regime Militar, a imagem do professor, competente na definição dos objetivos, absolutamente mensuráveis, descolara-se da imagem do educador, comprometido ética e politicamente. O conceito de especialista em educação inspirou as reformas dos estudos pedagógicos dos anos 60 e 70. As Leis 5540/68 e 5692/71, bem como os cursos de formação de professores, pagaram um forte tributo a esse reducionismo teórico, pois o especialista é um profissional do particular, enquanto o educador é um profissional da totalidade, da dialética, da “cumplicidade”, dos valores de vida, é o “mistagogo”, que inicia os jovens ao mistério das coisas e dos homens.

Resumidamente, os militares, por meio da lei 5540/68, promoveram uma reforma no ensino superior brasileiro, extinguiram a cátedra - suprimindo o que se considerava ser o bastião do pensamento e do comportamento conservador na universidade - , introduziram o regime de tempo integral e dedicação exclusiva aos professores, criaram a estrutura departamental, dividiram o curso de graduação em duas partes, ciclo básico e ciclo profissional, criaram o sistema de créditos por disciplinas instituíram a periodicidade semestral e o vestibular eliminatório. Implementaram também a indissociabiidade entre ensino, pesquisa e extensão. No regime anterior, essa idéia não estava claramente presente, mas havia referência à pesquisa e ao ensino como tarefas do professor catedrático, para o que era agraciado com contrato de dedicação integral.

No caudal dos atos de exceção da ditadura militar, a universidade brasileira foi obrigada a testemunhar a repressão, a perseguição policial, a expulsão, o exílio, as aposentadorias compulsórias, a tortura, a morte de muitos de seus melhores pensadores. Entretanto, se por um lado a reforma de 1968 significou uma violência à inteligência, por outro trouxe elementos de “renovação”, sobretudo no que diz respeito à pós-graduação, fortalecida em algumas áreas, instituída em outras.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A lei 5540/68 afetou e modificou toda a estrutura universitária brasileira e, ao mesmo tempo que buscou acabar com o conservadorismo e o didatismo enciclopédico que a caracterizava, restringiu a sua liberdade de pensamento e administração.

Além disso, o Estado passou a perseguir e a exilar os pensadores mais influentes e atuantes que compunham a comunidade universitária. Preservando apenas aqueles que se moldavam e defendiam, ou não se manifestavam, contra o regime em vigor.

Essa lei firmou como preponderante, no âmbito universitário, o inconformismo verbal, dissimulado e dito nas entrelinhas, aliado ao conformismo prático. Para o regime a universidade não era local de discussão e manifestação política e sim local de pesquisa e estudo. Com isso amputou-se uma área importante da formação do aluno e uma geração inteira aprendeu apenas a aceitar o pensamento vigente, a nunca contestar a autoridade dominante.

Enfim, a reforma instituída pela lei 5540/68 foi importante para a evolução educacional, principalmente no âmbito da pesquisa científica (pós-graduação), porém o preço pago por essas inovações foi muito alto, uma vez que custou a liberdade de pensamento e manifestação política de uma geração inteira. Contudo, o silêncio imposto obrigou o desenvolvimento de uma linguagem de contestação camuflada, refletindo-se na cultura (teatro, música, literatura, etc) e direcionando a criatividade intelectual por caminhos inusitados.

5. REFERÊNCIAS

PEREIRA, Maria Arlethe. Os vinte anos de regime autoritário e sua influência na universidade brasileira. 1986.

RETRATO DO BRASIL - da Monarquia ao Estado Novo. Universidade sufocada. São Paulo: ed. Política, 1984, V. II, p.438-440.

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CALDEIRA, Jorge. História do Brasil. Rio de Janeiro: Companhia das Letras. 1999.

CARVALHO, Jane M. Cardoso (Coord.). Coletânea da Legislação de Ensino de 1969 a 1975. Curitiba: Fundepar.

NISKIER, Arnaldo. LDB: a nova lei da educação: tudo sobre a lei de diretrizes e bases da educação nacional: uma visão crítica. Rio de Janeiro: 1996.

SCHWARTZMAN, Simon. Pela eliminação da estrutura corporativa da educação superior brasileira. Boletim Informativo Bibliográfico das Ciências Sociais. Rio de Janeiro: 1985.