Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

30/06/2009

"Preparar lulas ao molho de tomate fresco"
Vão atirar no Sarney para atingir o Presidente... Estão armando uma rede para fazer isso...
Talvez a coisa não avance muito, pois o Sarney e o Renan possuem nas mãos o rabo de muita gente... E podem vazar muitas coisas para a imprensa...
Contudo, vamos torcer, pensamento positivo, para que os corruptos se devorem...

Software livre, cultura hacker e ecossistema da colaboração

O 10º Fórum Internacional de Software Livre, realizado em Porto Alegre (RS), de 24 a 27 de junho, foi também ocasião para o lançamento do livro Software livre, cultura hacker e ecossistema da colaboração, já disponível para download (clique aqui).

Uma mesa de discussão de mesmo tema lançou o livro, na qual estiveram presentes três dos cinco autores da obra: o sociólogo e professor Sérgio Amadeu, Anderson Fernandes de Alencar, secretário de tecnologia e educação a distância do Instituto Paulo Freire e Vicente Macedo de Aguiar, da Cooperativa de Tecnologias Livres (Colivre). Murilo Machado e Rafael Evagelista, outros dois autores, não puderam participar. A obra é uma coletânea de textos em que eles abordam o software livre segundo a perspectiva do compartilhamento de ideias e de conhecimento, conforme a epígrafe escolhida para o livro:

Se você tem uma maçã e eu tenho uma maçã,
e nós trocamos as maçãs,
então você e eu ainda teremos uma maçã.
Mas se você tem uma idéia e eu tenho uma ideia,
e nós trocamos essas ideias, então cada um de nós terá duas ideias
(George Bernard Shaw)

Segundo Sério Amadeu, é preciso atentar para a existência de "bens imateriais" e "não rivais", como é o caso do próprio conhecimento. “Esses tipos de bens podem ser usados por todos. A melhor forma de trabalhar com eles é por meio do compartilhamento e não pelo bloqueio do acesso. No caso do conhecimento, quanto mais gente usa, mais ele se valoriza. O bloqueio de fluxos de informação significa desigualdades, criando assimetrias e inequidades de acessos, por isso a liberdade de acesso significa igualdades”, explica o professor

Vicente Aguiar, organizador do livro, acredita que é importante trazer a discussão do uso do software livre para as diversas áreas da academia porque, cada vez mais, ele se insere em discussões da economia como alternativa sustentável num contexto de crise.

Anderson Alencar propõe uma discussão do uso de tecnologias livres de acordo com uma dimensão política, ética e estética a partir da experiência do processo de migração do uso de software proprietário para o livre, que teve início no Instituto Paulo Freire em 2005.

Um espaço foi criado para discussão do livro na rede social Software Livre Brasil.

Demonstration of two-qubit algorithms with a superconducting quantum processor
Revista Nature

L. DiCarlo1, J. M. Chow1, J. M. Gambetta2, Lev S. Bishop1, B. R. Johnson1, D. I. Schuster1, J. Majer3, A. Blais4, L. Frunzio1, S. M. Girvin1 & R. J. Schoelkopf1

  1. Departments of Physics and Applied Physics, Yale University, New Haven, Connecticut 06511, USA
  2. Department of Physics and Astronomy and Institute for Quantum Computing, University of Waterloo, Waterloo, Ontario N2L 3G1, Canada
  3. Atominstitut der Österreichischen Universitäten, TU-Wien, A-1020 Vienna, Austria
  4. Département de Physique, Université de Sherbrooke, Sherbrooke, Québec J1K 2R1, Canada

Correspondence to: R. J. Schoelkopf1 Correspondence and requests for materials should be addressed to R.J.S. (Email: robert.schoelkopf@yale.edu).

Quantum computers, which harness the superposition and entanglement of physical states, could outperform their classical counterparts in solving problems with technological impact—such as factoring large numbers and searching databases1, 2. A quantum processor executes algorithms by applying a programmable sequence of gates to an initialized register of qubits, which coherently evolves into a final state containing the result of the computation. Building a quantum processor is challenging because of the need to meet simultaneously requirements that are in conflict: state preparation, long coherence times, universal gate operations and qubit readout. Processors based on a few qubits have been demonstrated using nuclear magnetic resonance3, 4, 5, cold ion trap6, 7 and optical8 systems, but a solid-state realization has remained an outstanding challenge. Here we demonstrate a two-qubit superconducting processor and the implementation of the Grover search and Deutsch–Jozsa quantum algorithms1, 2. We use a two-qubit interaction, tunable in strength by two orders of magnitude on nanosecond timescales, which is mediated by a cavity bus in a circuit quantum electrodynamics architecture9, 10. This interaction allows the generation of highly entangled states with concurrence up to 94 per cent. Although this processor constitutes an important step in quantum computing with integrated circuits, continuing efforts to increase qubit coherence times, gate performance and register size will be required to fulfil the promise of a scalable technology.


Pesquisadores criam processador quântico

SÃO PAULO - Um grupo de pesquisadores da Universidade de Yale criou o primeiro processador quântico em estado sólido, avançando no projeto de construção de um computador quântico.

Os cientistas também usaram o chip ainda rudimentar para rodar algoritmos básicos, demonstrando pela primeira vez o processamento quântico de informações. A descoberta foi relatada na edição da revista Nature de 28 de junho.

Segundo Robert Schoelkopf, professor de física aplicada de Yale, o chip executa tarefas simples, já demonstradas com núcleos, átomos e fótons. A diferença é que o time conseguiu executar esses processos em um único dispositivo eletrônico, mais parecido com o processador que usamos hoje.

O grupo conseguiu fabricar dois qubits – ou bits quânticos –, que funcionam como dois átomos artificiais, ocupando dois estados de energia diferentes.

Esses estados de energia equivalem aos valores 1 e 0 dos bits tradicionais, mas por causa dos efeitos quânticos, um qubit pode valer 1 e 0 ao mesmo tempo – o que amplia dramaticamente a capacidade de processamento e armazenamento de informação.

Nos testes feitos anteriormente, os pesquisadores conseguiam criar qubits, mas eles duravam muito pouco tempo – cerca de um nanossegundo.

O grupo de Yale conseguiu aumentar a duração do estado quântico para um microssegundo, o que já é suficiente para a execução de alguns algoritmos simples.

O próximo desafio do grupo é aumentar ainda mais a estabilidade do chip e também aumentar o número de qubits na placa, para poder assim avançar para operações mais sofisticadas.

Matemática quântica ajuda a busca na web

SÃO PAULO - Uma técnica utilizada para estudar a desordem em sistemas da matemática quântica pode melhorar as buscas por palavras-chave na internet.

Segundo um estudo publicado pela News Scientist, a técnica permite identificar padrões significativos dentro de uma grande massa de dados. Isso poderia ser usado também para páginas da web e documentos de texto, até mesmo em análise do genoma.

A busca por palavras-chave atual faz uma comparação a frequência das palavras de um documento em relação a um padrão pré-estabelecido. Ou seja, se uma palavra aparece mais vezes, ela é considerada importante.

A nova técnica analisa a importância da palavra pelo lugar onde ela aparece, não apenas levando em consideração a frequência com que ela é mapeada. De acordo com Pedro Carpena, físico da Universidade de Malaga, na Espanha, seria mais ou menos como identificar as palavras-chave de um livro sem precisar de outros livros para fazer uma comparação.

O estudo realizado pele Universidade de Malaga pode ser encontrado no site Physical Review E.

Ampliar acesso a banda larga eleva PIB do país, diz Bird

Um relatório do Banco Mundial afirma que facilitar o acesso a serviços móveis de internet e telefonia permite o desenvolvimento em todos os níveis da economia e da sociedade.

Segundo o relatório, cada aumento de dez pontos percentuais nas conexões de internet de banda larga de um país corresponde a um crescimento adicional de 1,3 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB).

“O acesso à banda larga completa o fundamento em termos de informação para uma economia moderna e deve ser prioridade nos planos de desenvolvimento nacionais” afirmou a vice-presidente do Banco Mundial para Desenvolvimento Sustentável, Katherine Sierra.

O estudo mostra como a mobilidade do acesso à informação já é uma realidade em muitos países e como os emergentes, em especial, terão um papel no futuro desse processo.

Celulares

Segundo o Banco Mundial, “praticamente todos os novos consumidores de tecnologias móveis virão dos países em desenvolvimento”.

Até o fim do ano passado o mundo já contava com quatro bilhões de telefones celulares – três bilhões nos países em desenvolvimento. Em 2000, a participação desses consumidores no total de consumidores de celulares era de 30%.

Entre 2000 e 2007, a velocidade de acesso per capita à internet na América Latina pulou de 8 bps para 1.250 bps.

O relatório elogia iniciativas de governos como o do Brasil, Gana e Índia, que oferecem serviços online e assim se tornam “mais eficientes, transparentes e dinâmicos”.

Além disso, no Chile a convergência de mídias já é uma realidade, com cerca de 60% dos 853 mil assinantes do serviço de TV a cabo da empresa VTR usando também serviços de telefone e Internet – o que elevou a receita da empresa em 44% entre 2005 e 2007.

Segundo o estudo, apenas 15% do mercado potencial global para serviços de tecnologia da informação está sendo explorado. Em 2007, esse mercado representou quase US$ 500 bilhões.

Para a economista que editou o estudo, Christine Zhen-Wei Qiang, os dados mostram que o setor de tecnologia da informação representa uma oportunidade tanto para o setor privado quanto para o governo, e deve ser incentivado.

“Os governos devem incentivar ativamente o desenvolvimento de serviços locais de indústrias de tecnologia da informação, por meio de políticas e incentivos dirigidos a empreendedores e o setor privado, e por meio de investimentos em qualificação e infraestrutura.”

29/06/2009

Filme: V de Vingança
Dizem que esse filme exalta o terrorismo, etc... Contudo, eu discordo disso. Penso que o filme mostra um caminho para a realização da justiça em um ambiente onde todas as portas foram fechadas para que ela não acontecesse...
É um filme que faz refletir, principalmente pelas frases que são ditas...

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O Povo não deve ter medo do governo. O governo é que deve ter medo do povo.

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Lembre-se, lembre-se, do dia 5 de novembro. A pólvora, a traição e a conspiração. Não vejo razão para que a pólvora da traição jamais seja esquecida.

Mas e o homem ? Sei que se chamava Guy Fawkes. E sei que em 1605 ele tentou explodir as casas do Parlamento. Mas quem ele era na realidade ? Como era ?

Lembramos da idéia totalmente, mas não do homem. Pois um homem pode fracassar. Podem capturá-lo, matá-lo e esquecê-lo. Mas uma idéia, quatrocentos anos depois, ainda pode mudar o mundo.

Presenciei pessoalmente o poder das idéias. Vi pessoas serem mortas em seu nome...e morrerem defendendo-as.

Mas uma idéia não pode ser beijada, tocada ou abraçada. Idéias não sangram, sentem dor, ou amam.
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"É para a Senhora Justiça que dedico este concerto, honrando o feriado que ela parece ter tirado dessas partes e em reconhecimento ao impostor que tomou seu lugar."
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Discurso de V na TV
"Boa noite, Londres. Primeiro, quero pedir desculpas por utilizar esse canal de emergência. Como muitos de vocês, eu também aprecio os confortos da rotina diária, a segurança do que é familiar, a tranqüilidade do repetitivo. Gosto disso, como qualquer um.

No intuito de comemorar eventos importantes do passado, geralmente associados à morte de alguém ou o fim de alguma horrível luta sangrenta, vocês celebram um feriado legal. Achei que podíamos marcar esse dia 5 de novembro, um dia que certamente não é mais lembrado, tirando um dia das nossas vidas diárias para sentar e bater um papinho.

Claro que há alguns que não querem que falemos. Neste momento estão gritando ordens nos telefones e homens armados estão a caminho. Por que ?

Porque enquanto o cassetete é usado no lugar da conversa as palavras sempre manterão seu poder. As palavras expressam um significado e são para aqueles que aceitam ouvir a revelação da verdade. E a verdade é que há algo terrivelmente errado com este país, não é ?

Crueldade e injustiça, intolerância e opressão. Enquanto que antes vocês tinham a liberdade de objetar, de pensar e falar o que quisessem, hoje têm a censura e sistemas de vigilância coagindo vocês a conformidade e a submissão.

Como isso aconteceu ? De quem é a culpa ? Certamente uns são mais culpados que outros, mas serão responsabilizados. Mas o certo é que se quiserem achar o culpado, basta olharem no espelho.

Sei porque fizeram isso. Sei que estavam com medo. Quem não estaria ? Guerras, terror, doenças. Milhões de problemas conspiraram para corromper sua razão e roubar seu sentido comum. O medo os dominou. E em seu pânico, recorreram ao Alto Chanceler. Ele lhes prometeu ordem e paz. E a única coisa que pediu em troca foi seu consentimento calado e obediente.
Ontem à noite, busquei acabar com esse silêncio. Ontem à noite destruí o velho Barley (Edifício da Justiça) para lembrar este país o que está esquecido.

Mais de 400 anos atrás um grande cidadão quis incrustar o dia 5 de novembro para sempre em nossa memória. Sua esperança era lembrar ao mundo que retidão, justiça e liberdade não são meras palavras. Elas são perspectivas. (...)"



Câmera na mão
Eu quero arranjar uma câmera para filmar algumas coisas que pretendo mostrar aqui no blog... Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, acho que filmar os excluídos e suas condições, principalmente de trabalho e vida, dará mais força para a minha argumentação...

Por que farei isso ??? Porque trabalho para que as coisas mudem...

Golpe em Honduras
Um golpe para evitar um plebiscito popular, para evitar a manifestação do povo... É um golpe contra a democracia, não um golpe para preservar a democracia...

Inegavelmente, o tempo curto de mandato para os governantes, nas democracias atuais, faz parte da estratégia dos grupos dominantes de se perpetuarem no poder... Dessa forma, um governante popular, não terá tempo suficiente para praticar ações que diminuem, anulem ou inviabilizem os sistemas de exploração e escravidão que movimentam os negócios dos poderosos...

Quando chega no ponto exato para dar a marretada final na cabeça do monstro da exploração, exclusão e opressão, acabou o tempo de governo e o próximo eleito é amigo do monstro... Logo, tudo volta ao estado inicial...

Por isso, a possibilidade do Povo dar mais tempo de mandato para governantes populares, governantes que atendem à vontade do Povo, que fazem a diferença, é refutada pelos grupos dominantes e seus papagaios... Inclusive, refutam essa possibilidade com um golpe de estado...

Terceiro, quarto, dez, cinquenta, etc... mandatos dado pelo Povo para um governante, não transforma esse governante em um monarca, pois o poder emanou do Povo e a vontade do Povo é a essência da democracia...

Contrariar a vontade do Povo, pior do que isso, impedir a manifestação popular em um plebiscito ou referendo, é uma evidência clara de autoritarismo e tirania... Não importa de onde venha a decisão, do executivo, do judiciário ou do legislativo, opôr-se à oitiva do Povo, impedir a manifestação do Povo, em uma democracia, é uma ação autoritária e tirânica... Se não é, então prove o contrário ???

Aprendam uma coisa, seus cabeças de bagre, na democracia todo o poder emana do Povo... É o Povo que dá as cartas e ditas as regras... Inclusive, o Povo pode se levantar em uma revolução e anular toda a Constituição, gerando o ambiente necessário para que outra seja forjada... O Povo pode !!!

Mais uma coisa, ouvir e seguir a vontade popular, a vontade da maioria da população, significa construir um ambiente de estabilidade e paz social... Fazer o contrário, ou seja, calar a multidão com armas e violência, multiplica a insatisfação popular, gera um ambiente de instabilidade e de intensos conflitos e manifestações sociais... Ninguém quer investir em um país dessa última categoria, um país instável politicamente...

CJF altera regras para Concurso de Juiz Federal

O Conselho da Justiça Federal (CJF), reunido nesta quarta-feira (24), sob a presidência do ministro Cesar Asfor Rocha, aprovou a alteração de dispositivos da Resolução nº 41/2008, que disciplina as normas para realização do concurso público para investidura no cargo de juiz federal substituto.

De acordo com o relator do processo no CJF, o corregedor-geral da Justiça Federal, ministro Hamilton Carvalhido, as alterações foram necessárias para compatibilizar a norma aprovada pelo CJF em dezembro do ano passado com a Resolução nº 75, editada pelo Conselho Nacional de Justiça em maio último e que trata do mesmo tema. Segundo ele, a partir de agora, “os dois normativos podem viger de forma harmônica”.

Conheça as principais alterações aprovadas:

- Foi incluído no conteúdo programático da segunda etapa do concurso o tema Noções Gerais de Direito e Formação Humanística.

- A partir de agora, será considerado habilitado na prova objetiva seletiva o candidato que obtiver o mínimo de 30% de acertos das questões em cada bloco. Antes era exigido um percentual mínimo de 50% de acertos por bloco.

- Foi regulamentada a gravação da prova oral, seja em áudio ou outro meio que possibilite sua reprodução.

- Foi ampliado o número de candidatos habilitados para a segunda etapa do concurso. Agora, nos concursos com até mil e quinhentos inscritos, serão classificados os duzentos candidatos com as melhores notas. Em concursos em que seja superado esse número de inscritos, serão habilitados os trezentos melhores classificados.

- Foi estendido até o último dia das inscrições o prazo para pedido de isenção da taxa de inscrição.

- Passam a ser aplicados aos membros das comissões os motivos de suspeição e de impedimento previstos nos artigos 134 e 135 do Código de Processo Civil, conforme previsto no art. 20, da Resolução 75/09 do CNJ.

- Foi retirada a exigência de apresentação de cópia autenticada do comprovante de inscrição no CPF para a inscrição preliminar no concurso.

- Nos casos de indeferimento de inscrição preliminar, o prazo para recurso foi reduzido para dois dias úteis.

- O examinador passa a ter 10 minutos para argüir o candidato, antes esse tempo era de 15 minutos.

- Na apuração dos títulos, passa a valer a pontuação determinada no artigo 67, da Resolução 75/CNJ.

Fonte: Imprensa CJF

Excluídos da Previdência Social
O governo diz que está fazendo mudanças na previdência social. Diz que agora a aposentadoria sai em 30 minutos. Diz que algumas pessoas não vão precisar nem ir procurar a previdência para saber da aposentadoria, pois a própria previdência vai avisar a pessoa que ela já possui todos os requisitos para se aposentar... Olhando por cima a coisa parece perfeita, mas observando mais atentamente percebe-se que são mudanças irrelevantes, pois atendem, justamente, quem já era atendido pela previdência, quem tem a carteira assinada ou paga as contribuições...

Essas pessoas não são o grande problema da previdência social. O problema da previdência são os excluídos. Por exemplo, os trabalhadores rurais bóia-fria.

Vejo o problema claramente aqui na cidade onde estou. É uma cidade agrícola. Grande produtora de café. E a maior parte da população da cidade é composta de trabalhadores rurais bóia-fria. Pessoas que trabalham muito (saem de casa às 5 da manhã e retornam às 20 horas), são remunerados por dia de serviço, ganham, no máximo, um salário e meio mensal, não possuem registro em carteira e não existem para a previdência social.

Noventa por cento da produção de café do município e dos arredores são colhidos por essas pessoas. Portanto, a participação delas na produção de riquezas para o país é inquestionável. Não só o café, mas o feijão que elas arrancam, a cana que cortam, o pinus que plantam e carpem, etc... Mesmo com a mecanização de algumas atividades as fazendas não produzem se não usarem esses trabalhadores.

Pessoas que trabalham a vida inteira em um serviço pesado e extremamente desgastante. Produzem riquezas para os donos do agronegócio. Porém, não participam dessa riqueza. Recebem apenas o suficiente para sobreviver e continuar trabalhando. Envelhecem nesse caminho e estão fora da previdência social, pois não existem para o governo...

De quem é a culpa ??? Dos trabalhadores rurais que mal sabem ler e escrever e que, no dia da eleição, trocam seus votos por uma cesta básica, elegendo como seus representantes os donos do agronegócio ???

O governo tem que resolver o problema dessas pessoas, desses excluídos... Deve criar uma forma de integrá-los nos benefícios da previdência social.

Uma forma de fazer isso é cadastrar as fazendas que usam essa mão-de obra barata e negociar com elas uma forma de contribuição previdenciária para os trabalhadores. Certamente, obrigar o registro em carteira dessas pessoas inviabiliza a produção agrícola das fazendas, logo, é preciso ter alternativas. O que não pode é deixar esse grupo de pessoas à margem da sociedade, excluídos da previdência social...

Além disso, penso que todos os trabalhadores rurais que possuírem 60 anos de idade devem ter direito, independentemente de contribuição, a aposentadoria por idade. É o mínimo que o Brasil pode fazer para quem passou a vida inteira trabalhando para produzir alimentos para o país... Se os trabalhadores rurais cruzarem os braços, as cidades morrem de fome.

E a perversidade não ocorre só com os trabalhadores rurais que não tem registro em carteira. Nos últimos meses a usina de açucar aqui do município demitiu centenas de cortadores de cana. Pessoas com registro em carteira e com mais de um ano de serviço. Pasmem: receberam R$ 100,00 de acerto... O agronegócio ainda é uma vertente do capitalismo selvagem e tem que ser domado...

Além disso, os trabalhadores dessa usina, contratados por produção, contam que alguns serviços (carpa, enleiração de palha, catação de bituca, por exemplo) eram pagos com base na média de todos os trabalhadores, calculada no final do dia e não pela produção individual da pessoa. Assim, quem ultrapassava a média perdia o trabalho a mais, pois o fiscal anotava o valor da média como se fosse a produção daquele trabalhador. Ou, então, quando não fazia isso, reduzia o preço do serviço prestado. Essas ações visavam restringir o valor ganho pelo trabalhador.



28/06/2009

Esta é a regra
Voltaire dizia: "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizer." Eu generalizo essa frase para a seguinte: "Posso não concordar com o uso que você faz do seu livre-arbítrio, mas defenderei até o fim o seu direito de ter livre-arbítrio..."

O que eu faço na minha vida pessoal, vida privada, é problema meu. O que você faz na sua vida pessoal, vida privada, é problema seu... De uma forma ou de outra, você sempre paga o preço pelo que faz, pela decisão que toma, seja para o bem, seja para o mal... Além disso, você tem que viver a sua vida, não a vida que os outros querem que você viva...

Certamente, isso não se aplica à vida pública, a quem recebeu votos de confiança para gerenciar o interesse público, o interesse coletivo. Não há livre-arbítrio na vida pública, mas sim vinculação ao interesse público, à vontade popular... Na vida pública o mandatário não faz o que quer, da forma como quer, mas sim de acordo com a lei e o interesse público... Na vida pública, vida política, tem regras, reputação, etiqueta, formalismo, etc... E tudo tem que ser seguido a risca...

A corrupção faz o quê ??? Aplica na vida pública as regras da vida privada, transforma a coisa pública, o interesse público em coisa privada... Os escândalos no senado mostram exatamente isto: uso da coisa pública, do interesse público, para fins pessoais, particulares...

Eu sigo a minha consciência, o meu livre-arbítrio... E aconselho que você faça o mesmo... O resto é resto. Cada um na sua !!!
Nas palavras do mestre Raul:


O olhar da mídia
Quando a mídia olha para a sociedade, o que ela vê ??? Vê cidadãos ou vê consumidores ??? Inegavelmente, a resposta é: vê consumidores, pois para a mídia a informação é um produto e a sociedade é o consumidor desse produto...

Portanto, aqui está um dos principais problemas da sociedade da informação, da sociedade globalizada. A informação é um produto e a sociedade é um consumidor. Juntando a isso o fato de já estarmos imersos em uma sociedade de consumo (bens materiais), o problema cresce exponencialmente, pois a própria ideologia se transforma em mais um produto vendido pela mídia.

E a mídia não tem compromisso com ética e nem com valores, pois apenas vende um produto e adequa-o de acordo com a necessidades de seus consumidores. Necessidades que, muitas vezes, é ditada pelo autoritarismo governante. A mídia chinesa produz um produto (informação) adequada para o mercado do autoritarismo chinês. A mídia norte-coreana produz um produto adequado para o mercado do autoritarismo norte-coreano. A mídia iraniana produz informações adequadas para o mercado do autoritarismo iraniano.

Para a mídia, a informação é um produto, a sociedade é um consumidor, logo, vai produzir aquilo que rende mais lucro, que vende mais, que dá Ibope... Mais do que isso, vai produzir informação e disseminá-la, na sociedade, para quem paga mais, informações que não contrariem seus anunciantes, sejam as grandes empresas ou os governos...

Portanto, a mídia, como toda empresa, busca conquistar mercados, o maior número possível de consumidores, para o seu produto, visa transformar toda a sociedade em consumidor do seu produto.

Por enquanto guarde o que foi dito acima... Mais adiante vou aprofundar essa perspectiva, unindo-a às idéias do Prof. Milton Santos e Hannah Arendt...

A questão que deve ser respondida é: a democracia sobrevive em uma sociedade de consumidores, em uma sociedade banalizada ???
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Para ilustrar o que foi dito

Twitter, Facebook, New York Times, CNN. Todos os meio de comunicação deixaram o Irã de lado e, neste exato momento, cobrem apenas a morte do Michael Jackson. Jornalismo é assim. Uma pena. Tanto pelo falecimento como também pelo possível esquecimento do que ocorre no Irã. Os acontecimentos em Teerã, nos próximos dias, devem ficar em segundo plano. Neste período, os opositores correm o risco de perder o clímax nos protestos contra o governo.

Irônico, mas nunca imaginaria que a morte de Michael Jackson poderia influenciar, ainda que em escala pequena, a sobrevivência do regime islâmico do Irã. Uma estrela pop americana e o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamanei, dividem hoje as atenções do mundo.

27/06/2009

Obra: Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal
Capítulos do livro do Professor Milton Santos no Google Books


Obra: Espaço do cidadão
Capítulos do livro do Professor Milton Santos no Google Books


MILTON SANTOS: INTELECTUAL, GEÓGRAFO E CIDADÃO INDIGNADO

Marcos Bernardino de Carvalho
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil


Milton Santos: intelectual, geógrafo e cidadão indignado (Resumo)

O geógrafo Milton Santos foi um desses raros pensadores brasileiros cujas reflexões e produção teórica repercutiram não só além das fronteiras de seu país, como também além do âmbito de sua comunidade profissional. Intelectual comprometido com os grandes problemas e questões de seu tempo, sobretudo com aquelas parcelas da população marginalizadas pelo perverso processo de globalização ora em curso, deixou sua marca de indignação e revolta por todos os meios e instrumentos nos quais teve a oportunidade de manifestar suas idéias, fossem eles textos acadêmicos, aulas na universidade, artigos de jornais ou entrevistas nos programas de televisão.

Palavras-chave: Milton Santos, Intelectual, Indignação, Filósofos, Geografia


Milton Santos: intellectual, geographer and indignated citizen (Abstract)

The geographer Milton Santos was one of those rare Brazilian thinkers whose reflections and theoretical production had echoed beyond the borders of his country and also beyond the scope of his professional community. An intellectual compromised to the great issues and contemporary problems, mainly with the situation of the victims of the perverse globalization process, nowadays in course, he left his mark of indignation and revolt by all ways and instruments -academic papers, university lectures, articles in newspaper or interviews in TV- through which he had the chance to express his ideas.

Key-Words: Milton Santos, Intellectual, Indignation, Philosophers, Geography


"Outrora, os intelectuais eram homens que, na Universidade ou fora dela, acreditavam nas idéias que formulavam e formulavam idéias como uma resposta às suas convicções. Os intelectuais, dizia Sartre, casam-se com o seu tempo e não devem traí-lo." (Milton Santos)

Edgar Morin em seu livro autobiográfico, Os Meus Demônios, no capítulo dedicado à memória e à reflexão de sua trajetória intelectual, indaga:"Que é um intelectual? Quando é que uma pessoa se torna intelectual?" E é o próprio Morin quem responde:"Quer seja escritor, universitário, cientista, artista ou advogado, só se passa a ser intelectual, no meu sentido, quando se trata por meio de ensaio, de texto de revista, de artigo de jornal de forma especializada e para além do campo profissional estrito dos problemas humanos, morais, filosóficos e políticos. É então que o escritor, o filósofo, o cientista se auto-instituem intelectuais."[1]

Ou seja, segundo essa ótica, o "título" de intelectual só deveria ser concedido aos que tomam partido no tempo em que vivem, aos que falam para fora do âmbito das academias e das universidades, aos que prestam atenção ao que se passa além dos muros corporativos, aos que colocam o seu"instrumento de trabalho" -a formulação teórica, a reflexão, o discurso e o ensaio reflexivo-, muito a favor da existência humana e muito pouco a favor de sua própria profissão.

O intelectual verdadeiro, portanto, dedica-se, na maior parte do seu tempo, às grandes questões e a dialogar com pessoas que não seus "colegas de profissão". Por conseguinte, sua atuação e seu grau de excelência não se avaliam mais pelas contribuições prestadas à essa ou àquela corporação profissional. Sua contribuição dá-se numa escala mais ampliada.

Condições como as de pertencer à qualquer parcela da elite pensante ou a fragmentos da intelligentsia institucional não lhes são motivo de orgulho. Prefere ver ressaltada a sua condição de intérprete e cúmplice de seu tempo, do que ser reconhecido apenas através do título profissional que eventualmente ainda ostente. Seus títulos acadêmicos e vínculos corporativos diluem-se naquilo que lhe é mais amplamente reconhecido: a condição de sábio e de pensador da contemporaneidade. Nesse sentido, lembram-nos mais os artistas e os filósofos de outras épocas, outros séculos, aos quais se recorria para ter ciência deste e dos outros mundos.

Milton Santos, personalidade que aqui se homenageia, foi um destes raros pensadores que por suas atividades, suas reflexões e pelos textos que produziu, adquiriu o direito de ser promovido a filósofo do nosso tempo. Essa rara condição, intelectual verdadeiro, aliada às posturas indignadas que normalmente lhe correspondem, são, em nossa opinião, algumas das principais características presentes na trajetória, na obra e nas diversas manifestações do velho professor de geografia. Ao realce, portanto, dessas características -de intelectual indignado-, pretendemos dedicar essa breve homenagem.

O combate à "universidade de resultados" e seus "pesquiseiros"

A indignação e o compromisso com seu tempo levaram Milton Santos a esgrimir palavras e compor manifestações apaixonadas contra todo o tipo de injustiça, de desigualdade e, mais recentemente, contra o que ele próprio denominava de a grande e global"confusão dos espíritos"[2].

Em praticamente nenhuma dessas manifestações o professor foi leniente com o incômodo silêncio e a omissão conivente, diante dos grandes temas e urgências da atualidade, a que muitos de seus pares e as respeitadas (e lentas) instituições que os albergavam costumavam se entregar. Daí, sem muito esforço, é possível observar um traço comum às indignadas manifestações com que sempre nos brindou, pois mesmo que tratassem dos mais variados assuntos, produziam uma"geografia" que, antes de mais nada (e parafraseando o título que Yves Lacoste deu a um de seus mais famosos livros), travava batalhas em seu próprio território: o meio intelectual e as universidades.

Inconformado com certa intelectualidade, omissa e silente, que diante das injustiças se cala e diante da confusão global nada oferece, em uma de suas últimas obras declarava:

"O terrível é que, nesse mundo de hoje, aumenta o número de letrados e diminui o de intelectuais. Não é este um dos dramas atuais da sociedade brasileira? Tais letrados, equivocadamente assimilados aos intelectuais, ou não pensam para encontrar a verdade, ou, encontrando a verdade, não a dizem. Nesse caso, não se podem encontrar com o futuro, renegando a função principal da intelectualidade, isto é, o casamento permanente com o porvir, por meio da busca incansada da verdade"[3].

Evidentemente, as universidades e os processos educacionais que as alimentam, dando guarida ou sendo dirigidos por (e para) essas mencionadas"deformações letradas", não seriam poupados desse mesmo tom de críticas

Há tempos, Milton Santos voltava sua"artilharia" contra as armadilhas produzidas pelas políticas e gerências equivocadas que, em sua opinião, haviam desviado a universidade, as escolas e toda a estrutura educacional, de propósitos mais nobres e conectados com os valores profundos da existência humana, para os itinerários amesquinhados pelas urgências do chamado mercado. Nesse desvio de metas se poderia encontrar, segundo o prof. Milton, uma das principais razões da inépcia intelectual e da inércia social que normalmente lhe é correspondente.

Em um seu livro de 1987, O Espaço do Cidadão, tais denúncias e análises praticamente costuram o conteúdo que ao longo de toda obra se expõe e podem ser muito bem sintetizadas pelo seguinte trecho:

"A educação corrente e formal, simplificadora das realidades do mundo, subordinada à lógica dos negócios, subserviente às noções de sucesso, ensina um humanismo sem coragem, mais destinado a ser um corpo de doutrina independente do mundo real que nos cerca, condenado a ser um humanismo silente, ultrapassado, incapaz de atingir uma visão sintética das coisas que existem, quando o humanismo verdadeiro tem de ser constantemente renovado, para não ser conformista e poder dar resposta às aspirações efetivas da sociedade, necessárias ao trabalho permanente de recomposição do homem livre, para que ele se ponha à altura do seu tempo histórico."[4]

Por outros meios, diferentes da interlocução fria, com público incerto, que as páginas de livros e textos acadêmicos proporcionam, as denúncias e o combate não arrefeciam. Pelo contrário. Nas oportunidades em que podia expor suas idéias olhando nos olhos de seus interlocutores, muitas vezes seus pares, colegas, alunos e outros freqüentadores de seu espaço de trabalho cotidiano, Milton Santos, tornava-se ainda mais contundente nas críticas a uma universidade que se deixava corromper pela urgência dos"resultados" e nas denúncias de uma certa"intelectualidade" que a tudo assistia calada, pois, desse processo se beneficiava. Numa aula inaugural para alunos de sua faculdade na Universidade de São Paulo, disparou:

"Em nome do cientismo, comportamentos pragmáticos e raciocínios técnicos, que atropelam os esforços de entendimento abrangente da realidade, são impostos e premiados. Numa universidade de ‘resultados’, é assim escarmentada a vontade de ser um intelectual genuíno, empurrando-se mesmo os melhores espíritos para a pesquisa espasmódica, estatisticamente rentável. Essa tendência induzida tem efeitos caricatos, como a produção burocrática dessa ridícula espécie de ‘pesquiseiros’, fortes pelas verbas que manipulam, prestigiosos pelas relações que entretêm com o uso dessas verbas, e que ocupam assim a frente da cena, enquanto o saber verdadeiro praticamente não encontra canais de expressão."[5]

Apesar destas denúncias e temas -a instrumentalização da universidade, a educação simplificadora, a conivência e a omissão dos falsos intelectuais-, serem, como dissemos, assuntos recorrentes e obrigatórios em muitas de suas obras, raramente se constituiam nos seus temas centrais. As referências e citações que aqui fizemos, por exemplo, foram extraidas de contextos dedicados à discussão de temáticas específicas, tais como, as características gerais do atual processo de globalização, uma avaliação geográfica da condição da cidadania no Brasil e reflexões sobre a questão ecológico-ambiental na atualidade.[6]

Globalização reversível, cidadania por inteiro e um convite a filosofar

Os assuntos recorrentes e a forma contundente com que a eles Milton Santos se refere, em cada contexto e a cada nova vez, parecem querer produzir o efeito de compartilhar o profundo desapontamento com algumas instituições, lugares e personagens dos quais se esperariam papel protagonista no encaminhamento de soluções e idéias mobilizadoras, mas que, ao contrário, vinham crescentemente convertendo-se em alguns dos principais obstáculos a serem enfrentados.

A combatividade e a indignação do professor, no entanto, não se esgotavam na abordagem dos assuntos recorrentes e, é claro, não arrefeciam, nem mesmo quando ele se dedicava ao desenvolvimento dos tais temas centrais que os contextualizavam. Apenas com mais algumas referências aos exemplos que já mencionamos seria possível constatar isso.

Em O espaço do cidadão, por exemplo, numa época em que muitos acreditavam estar trazendo grandes contribuições, apenas por enaltecer a conquista e a promoção do respeito aos chamados"direitos do consumidor", Milton Santos denunciou o reducionismo e as consequências nefastas de tais atitudes. Para começar, chamou-nos a atenção para o fato de que por trás desse enaltecimento e dessa adesão a um conceito vazio, estava em curso uma tentativa avassaladora de reduzir o sentido da cidadania e a luta por sua conquista (com suas implicações jurídicas, políticas e sociais), a um mero jogo de relacionamentos de mercado e de conexões comerciais:"Em lugar do cidadão formou-se um consumidor, que aceita ser chamado de usuário"[7]. Mas, tomar uma coisa pela outra, seguia dizendo o velho professor, reduz a idéia de cidadania a uma mera realização pessoal e, conseqüentemente, esvazia seu sentido e desmobiliza as pessoas, que abdicam dos seus relacionamentos sociais, da construção e aprimoramento dos seus espaços coletivos (países, Estados, nações, comunidades etc.), em prol de um falso e irrealizável jogo de conquistas individuais:

"Quando se confundem cidadão e consumidor, a educação, a moradia, a saúde, o lazer aparecem como conquistas pessoais e não como direitos sociais. Até mesmo a política passa a ser uma função do consumo. Essa segunda natureza vai tomando lugar sempre maior em cada indivíduo, o lugar do cidadão vai ficando menor, e até mesmo a vontade de se tornar cidadão por inteiro se reduz."[8]

Já, na mencionada aula inaugural, 1992: A redescoberta da natureza, Milton Santos aproveitou o ensejo para nos alertar quanto ao perigo de banalização do tema, a superficialidade midiática que se tem emprestado ao seu tratamento, além do servilismo oportunista com que muitos têm se entregado ao filão ambiental, prenhe de verbas, de possibilidades empregatícias e comerciais. De saída, anuncia que abordar a sério o tema proposto, significa, ao contrário do que muitos poderiam pensar, predispor-se a abraçar um nível profundo de reflexão. Nesse sentido, convida-nos, antes de mais nada, a filosofar -"estamos chamados a filosofar e a filosofia não é mais um privilégio dos filósofos"[9]-, e justifica o convite:"O tema (1992: a redescoberta da Natureza) é um desses que a atualidade nos impõe, mas deve ser abordado cautelosamente, já que nesse assunto a força das imagens ameaça aposentar prematuramente os conceitos. Por isso, cumpre, urgentemente, retomá-los e , eventualmente, refazê-los. Nessa tarefa, não nos devemos deixar circunscrever pelos ditames de uma pesquisa automática, instrumentalizada, nem aceitar o pré-requisito de nenhum enunciado."[10] Ao encerrar sua aula, após desenvolver as críticas, a que já fizemos referência, ao oportunismo e à superficialidade com que muitos tem se entregado ao tratamento do tema, apela para a capacidade heróica, que ainda acredita resistir em alguns dos seus pares, de desviar esse tratamento para uma rota mais coadunada com o espírito da Casa que os emprega:

"O empenho com que nos convocam para tratar, seja como for, as questões do meio ambiente, sem que um espaço maior seja reservado a uma reflexão mais profunda sobre as relações, por intermédio da técnica, seus vetores e atores, entre a comunidade humana assim mediatizada e a natureza, assim dominada, é típico de uma época e tanto ilustra os riscos que corremos, como a necessidade de, em todas as áreas do saber, agir com heroísmo, se desejamos poder continuar a perseguir a verdade."[11]

Por fim, concluindo essa breve série de exemplos, ilustrativos da combatividade com que Milton Santos se entregou ao tratamento acadêmico de determinados temas, como haviamos nos proposto, voltemos ao seu último livro, individualmente elaborado -Por uma outra globalização. Aí, em um momento de quase rendição de tudo e todos ao processo de globalização, que muitos já consideravam inexorável, inelutável e irreversível, Milton Santos chama a atenção para o caráter perverso e totalitário do processo em curso -"vivemos numa época de globalitarismo muito mais que de globalização"[12]-, e, ignorando todos os modismos, aposta e deposita suas fichas de esperança na criatividade dos pobres em conduzir-nos ao conhecimento de uma saída alternativa para a perversidade globalmente instalada:"Miseráveis são os que se confessam derrotados. Mas os pobres não se entregam. Eles descobrem a cada dia formas inéditas de trabalho e de luta. Assim, eles enfrentam e buscam remédio para suas dificuldades. Nessa condição de alerta permanente não têm repouso intelectual."[13] Como não podia deixar de ser, nesse momento da abordagem, Milton Santos, retorna ao seu tema recorrente, acusando a incapacidade dos setores pensantes e vigilantes em perceber o potencial de criatividade dos pobres:"A socialidade urbana pode escapar aos seus intérpretes, nas faculdades; ou aos seus vigias, nas delegacias de polícia. Mas não aos atores ativos do drama, sobretudo quando, para prosseguir vivendo, são obrigados a lutar todos os dias."[14] Na conclusão dessa sua derradeira obra, sugere já haver, em parte graças ao curso da própria globlalização, os meios, as técnicas e as idéias para, se quisermos, subverter a tal"irreversibilidade" do processo global contemporâneo, dotando-o de caraterísticas efetivamente mais globalizadas, isto é, menos"globalitárias", e mais sintonizadas com aspirações que conduzam a espaços de vida decentes para todos:

"É muito difundida a idéia segundo a qual o processo e a forma atuais da globalização seriam irreversíveis. (...) No entanto, essa visão repetitiva do mundo confunde o que já foi realizado com as perspectivas de realização. (...) O mundo de hoje também autoriza uma outra percepção da história por meio da contemplação da universalidade empírica constituída com a emergência das nova técnicas planetarizadas e as possibilidades abertas a seu uso. A dialética entre essa universalidade empírica e as particularidades encorajará a superação das práxis invertidas, até agora comandadas pela ideologia dominante, e a possibilidade de ultrapassar o reino da necessidade, abrindo lugar para a utopia e para a esperança. (...) Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade, acreditamos que as condições materiais já estão dadas para que se imponha a desejada mutação, mas seu destino vai depender de como disponibilidades e possibilidades serão aproveitadas pela política. Na sua forma material, unicamente corpórea, as técnicas talvez sejam irreversíveis, porque aderem ao território e ao cotidiano. De um ponto de vista existencial, elas podem obter um outro uso e uma outra significação. A globalização atual não é irreversível."[15]

Além dos muros da universidade, o circuito se completa

Por outros meios, não propriamente acadêmicos, mas apropriados e obrigatórios para completar o circuito de difusão das idéias e reflexões que identificam o intelectual de verdade, Milton Santos seguia ousando e debatendo com igual rigor e seriedade as suas convicções. Seguia"casado com seu tempo".

Na conversa com o grande público, em debates e diálogos com outros campos do conhecimento, outros poderes e outras instituições, ou em artigos de jornal e, até mesmo, em entrevistas concedidas aos programas de TV, o inconformismo, a indignação e a combatividade emprestada aos temas jamais arrefeceram.

E apenas considerando as suas manifestações dos últimos anos, já se poderia ter uma ampla confirmação disso, tanto com relação àqueles temas que há pouco chamamos de recorrentes, como em relação a diversos outros assuntos sugeridos pelos momentos ou pelos espaços de divulgação que o instavam a se manifestar.

Em diversos artigos e ensaios publicados especialmente em jornais de grande circulação no Brasil, a questão da educação, da universidade e do papel dos intelectuais, jamais deixou de merecer aquele mesmo tratamento, de seriedade indignada, que poderíamos encontrar nas manifestações e produções chamadas acadêmicas.

Dos intelectuais, por exemplo, seguiu cobrando atitudes menos fugazes, menos conjunturalmente partidarizadas, e mais fundadas nas estruturas de permanência que interessam às aspirações de conjuntos mais ampliados da população:

"Como no mundo atual nada se faz sem o respaldo de idéias, é aí que aparece o novo papel do intelectual na reconstrução democrática do Brasil. O intelectual não pode ser dúbio nem oportunista. Mas, nas circunstâncias atuais, a intelectualidade é chamada a exercer uma militância ambigua, quando voltada a repetir discursos fátuos, slogans e palavras de ordem mais destinados à mobilização do que à produção gradual de uma consciência coletiva. (...) Aí entra o papel independente dos intelectuais. Na medida em que estes façam eco às demandas profundas das populações, expressas pelos movimentos populares (organizados ou não), servirão como vanguarda na edificação de projetos nacionais alternativos."[16]

Dos projetos educacionais subordinados às lógicas perversas do"pragmatismo triunfante", com sua pressa por resultados e suas perspectivas mercantis, Milton Santos seguiu denunciando suas conseqüências nefastas para as escolas e as universidades, transformadas por esses projetos em verdadeiros"celeiros de deficientes cívicos."[17]

Mas, além dos chamados temas recorrentes, diversos outros também foram abordados nesses meios não acadêmicos, particularmente em artigos de jornal. Entre eles, a questão da linguagem, do território, da tecnologia, da globalização, da população negra, da história ou da geografia, enfim[18]. Para todos eles o professor seguiu imprimindo sua marca registrada: denúncia, combatividade e indignação, aliados ao necessário tratamento de rigor e de reflexão aprofundada que os assuntos exigiam.

O tema do preconceito racial, particularmente sobre a questão do negro no Brasil, não mereceu por parte do professor nenhum tratamento especial. Apesar das expectativas, muitas delas alimentadas por vieses preconceituosos, em poucas ocasiões esse tema foi alçado à condição de assunto preferencial. E, quando isso acontecia, recebia o mesmo tratamento dispensado aos demais, apenas acrescido de alguma referência direta às tais expectativas que alguns preconceitos ainda alimentavam.

Ambos -tratamento e acréscimo-, podem ser conferidos em um artigo -"Ser negro no Brasil hoje"- em que Milton Santos faz referência ao mea-culpa da Igreja Católica, por suas atitudes com relação à população negra e indígena durante o período colonial, e também aos convites oportunistas que crescentemente vinham sendo dirigidos ao próprio professor. Com relação ao mea-culpa Católico, afirmou:

"Moral da história: 500 anos de culpa, 1 ano de desculpa. Mas as desculpas vêm apenas de um ator histórico do jogo do poder, a Igreja Católica! O próprio presidente da República considera-se quitado porque nomeou um bravo general negro para a sua Casa Militar e uma notável mulher negra para a sua Casa Cultural. Ele se esqueceu de que falta nomear todos os negros para a grande Casa Brasileira. Por enquanto, para o ministro da Educação, basta que continuem a frequentar as piores escolas e, para o ministro da Justiça, é suficiente manter reservas negras como se criam reservas indígenas."

E, com relação aos convites oportunistas, acrescentou:"Peço desculpas pela deriva autobiográfica. Mas quantas vezes tive, sobretudo neste ano de comemorações, de vigorosamente recusar a participação em atos públicos e programas de mídia ao sentir que o objetivo do produtor de eventos era a utilização do meu corpo como negro - imagem fácil- e não as minhas aquisições intelectuais, após uma vida longa e produtiva."[19]

Esse espírito, avesso às tergiversações, franco e certeiro quanto aos alvos, pode ser conferido também nas manifestações diretas, proporcionadas por outros meios que não só a imprensa escrita. Em seminários, palestras ou entrevistas na TV e outros veículos, a presença de Milton Santos passou a ser também bastante requisitada nos últimos anos.

Nesses casos, dependendo do contexto e da interlocução, o velho professor temperava suas manifestações com estilos que poderiam variar da ênfase cortante à afabilidade, segundo as contradições ou identidades que os diálogos permitissem apurar.

Houve situações que o professor foi bastante duro no diálogo, tanto para defender seus pontos de vista, sobre quaisquer um daqueles temas acerca dos quais costumava dissertar, como para criticar o próprio papel da mídia ou da instituição que o acolhia.

Em pelo menos duas ocasiões, mais ou menos recentes, que ficaram marcadas até pela repercussão que provocaram, essas situações de aspereza puderam ser verificadas. Uma delas, num famoso programa de entrevistas da TV brasileira[20], e, outra, em uma palestra proferida na Câmara dos Deputados, quando esta promoveu uma série de seminários por acasião dos 500 anos de descoberta do Brasil. Desta última, vale à pena, para ilustrar, destacar os seguintes trechos:"(...) com a globalização, não são os políticos que fazem política. A política é feita pelas grandes empresas. Os políticos são, de maneira quase geral, porta-vozes. Eles elaboram os discursos de interesse da grande empresa, sobretudo porque muitos estão convencidos, outros são convencidos, e outros sem estar convencidos, falam assim mesmo. Só há uma solução na cabeça e no coração dessas pessoas: é essa globalização perversa, que modifica o caráter da nação."[21]

Aproveitando o ensejo para reforçar o papel das atitudes e dos personagens nos quais mais acreditava afirmou, nessa mesma ocasião:"Que os deputados não nos ouçam, está bem, mas os intelectuais não são feitos para audiência dos poderosos. Jamais houve conciliação, por mínima que fosse, entre alguém que se imagine um verdadeiro intelectual e o trabalho cotidiano do homem de poder. Há mesmo uma contradição. O trabalho do intelectual é feito para ser entregue à população, se possível, por meio da sociedade civil e organizada, que inclui os partidos, e, se não possível, de forma selvagem como a presença aqui..."[22]

Estilos mais afáveis e receptivos, Milton Santos reservava para aqueles momentos em que os diálogos, meios e interlocutores pareciam conspirar para a construção de caminhos favoráveis às novidades, aos vínculos com as tradições e necessidades populares, às conexões dos intelectuais e seus tempos e às percepções integrais dos seres humanos. Exemplos bastante ricos e ilustrativos dessas situações, podem ser claramente observados nas ocasiões em que Milton Santos teve a oportunidade de dialogar com artistas de expressão no Brasil. Em um desses diálogos o próprio Milton Santos sintetiza as razões dessas sintonias: "Quem pensa o novo são os homens do povo e seus filósofos, que são os músicos, cantores, poetas, os grandes artistas e alguns intelectuais."[23]

* * *

Hoje, completa-se já quase um ano da morte daquele que foi um do nossos principais intelectuais. O impacto de sua morte, a triste perspectiva de sua ausência e a interrupção do fluxo normalmente impactante de suas idéias, além, é claro, da volumosa produção que deixou registrada em dezenas de livros e centenas de artigos, geraram, ao longo desse último ano, inúmeras e justas homenagens. Nelas, diversos aspectos da contribuição teórica de Milton Santos foram examinados: a condição de geógrafo, a carreira acadêmica brilhante, as láureas recebidas, a discussão metodológica, o rigor científico e a dedicação à reflexão epistemológica.

Sobretudo, como sói acontecer nessas ocasiões, destacou-se reiteradamente a contribuição que o ex-advogado trouxe para a sua comunidade profissional de adoção, os geógrafos, e, conseqüentemente, a perda que sua morte significou para a ciência que praticam.

Na sua"cerimônia de adeus", à beira de seu túmulo, no entanto, os geógrafos se calaram. Respeitosamente escutaram artistas, políticos, sindicalistas e militantes de movimentos sociais, falarem da importância do velho professor.

Para quem, como Milton Santos, em várias ocasiões fez questão de deixar clara sua opção pela conduta intelectual que mais admirou, a do filósofo Jean-Paul Sartre, a amplitude dos setores sociais ali presentes e representados, bem como as manifestações que a partir daí se seguiram, indicam claramente que nessa opção, sartriana, ele logrou sucesso. E lograr sucesso nesse caminho, como aprendemos nas próprias aulas do prof. Milton, equivale a ser reconhecido como alguém que foi"casado com seu tempo" e com as grandes causas da existência humana, a serviço das quais os intelectuais de verdade colocam suas melhores idéias e convicções.

Intelectuais assim não existem a rodo. Pelo contrário. Nos tempos que correm, pressionados pelo chamado mercado, pelas"universidades de resultados", pela confusão global, pelo desprestígio dos valores da existência, pela hegemonia da economia, pela ditadura das grandes corporações, pela urgência da instantaneidade, pelo pragmatismo irresponsável, etc., grassam os oportunistas, manipuladores de verbas e pensadores de ocasião. Tudo que almejam, esses "acadêmicos de resultados", com suas reflexões rápidas, superficiais e descartáveis, é o reconhecimento midiático e o sucesso financeiro, que aos mais competentes (quer dizer, aos mais competitivos), o tal mercado oferece de bom grado e instantaneamente.

Portanto, diante de um ambiente nada propício para os adeptos de uma conduta sartriana e diante da crescente escassez de pensadores que assim se conduzem, a consciência de que se perdeu mais um deles é dolorosa. Talvez para amenizá-la é que nos propusemos a ressaltar aqui, nesta breve homenagem, a faceta de indignação, presente nas obras e nas manifestações apaixonadas do professor Milton Santos. Essa indignação, sobretudo contra a perversidade e a injustiça que submetem grande parte das pessoas, é que conduz alguns pensadores a abraçarem as grandes causas de seu tempo e se tornarem perenes nos corações e nas mentes daqueles que costumam vivê-lo e sofrê-lo com mais intensidade.

Em tempos fugazes, de desvalorização das atitudes mais reflexivas, de baralhamento e inflação de signos, de confusão produzida, de banalização dos conceitos e de desrespeito aos que pensam e aos que existem, observar as trajetórias percorridas e indicadas por alguns daqueles raros pensadores, que ainda ousaram propor a desconfusão, subordinar-se aos seus próprios relógios, estabelecer seus próprios caminhos, reabrir a história e reafirmar utopias, é nossa obrigação.



Notas

[1]Morin, 1995, p. 176.

[2]Milton Santos em uma de suas últimas obras, em um capítulo destinado à crítica do conteúdo totalitário do atual processo de globalização, exortava:"Nossa grande tarefa, hoje, é a elaboração de um novo discurso, capaz de desmistificar a competitividade e o consumo e de atenuar, senão desmanchar, a confusão dos espíritos." (Santos, 2000, p. 55).

[3]Ib., p. 74.

[4]Santos, 1987, p. 42

[5]Santos, 1992, p. 11.

[6]São esses os três conjuntos de assuntos que caracterizam os contextos de onde extraímos as três últimas citações mencionadas neste artigo. Os temas referem-se, respectivamente, aos textos mencionados nas útlimas três notas.

[7]Santos, 1987, p.13.

[8]Ibid. p. 127.

[9]Santos, 1992, p. 3

[10]Ibid.

[11]Ibid., p. 11 e 12.

[12]Santos, 2000, p. 55.

[13]Ibid., p.132.

[14]Ibid.

[15]Ibid., pp 160, 168, 173 e 174.

[16]Jornal Folha de São Paulo (FSP), 07/12/97:"As duas esquerdas". Ver também FSP, 20/06/99:"A vontade de abrangência"

[17]FSP, 24/01/99:"Os deficientes cívicos".

[18]ver, por exemplo, os artigos publicados ao longo dos anos 90, 2000 e 2001, no jornal FSP, especialmente"O recomeço da história" (09/01/2000) ,"Ser negro no Brasil hoje" (7/5/2000),"O tempo despótico da lingua universalizante" (5/11/2000),"O novo século das luzes" (14/01/2001) e"Elogio da lentidão" (11/03/2001)

[19] FSP, 7/5/2000.

[20]Aqui nos referimos especificamente a uma entrevista concedida por Milton Santos a um dos mais famosos jornalistas da televisão brasileira, Boris Casoy, exibida em rede nacional pela TV Record em 23/04/2000.

[21]Santos, M."Que parlamento para o século XXI? Desafios e perspectivas frente à mundialização", 04/04/2000 . Disponível em: http://www.camara.gov.br/

[22] Ibid.

[23]Declaração extraída de entrevista concedida a Gilberto Gil, compositor e cantor popular brasileiro, disponível em http://www.gilbertogil.com.br/. V. também diálogo entre Denise Stoklos, atriz e dramaturga brasileira, e Milton Santos, disponível emhttp://www.teatrobrasileiro.com.br/entrevistas/stoklos-santos.htm.


Bibliografia

MORIN, E. Os Meus Demônios. Lisboa: Publicações Europa-América, 1995. 233 p.

SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. 142 p.

SANTOS, M. 1992: A Redescoberta da Natureza. São Paulo: FFLCH/USP 1992, (mimeo). 12 p.

SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000. 174 p.

© Copyright Marcos Bernardino de Carvalho, 2002
© Copyright Scripta Nova, 2002

Ficha bibliográfica:

CARVALHO, M. B. "Milton Santos: intelectual, geógrafo e cidadão indignado". In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 124, 30 de septiembre de 2002.http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-124.htm [ISSN: 1138-9788]

Implicações conceituais para uma prática avaliativa
Prof. Dr. Luiz Carlos de Freitas - Unicamp
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(...)
Entretanto, a avaliação é vista principalmente a partir da necessidade de verificação do conhecimento do aluno. Toda a estrutura avaliativa dos cursos está voltada para detectar se o aluno, ao passar por uma determinada disciplina, aprendeu ou não o conteúdo daquela disciplina. Isso gera uma bateria de ações por parte do professor, tendente a medir de alguma forma se aquele conhecimento esperado foi “transferido”, ou “assimilado” e, ao mesmo tempo, avaliar em que grau isso se deu no processo de ensino-aprendizagem. E aí começa o problema.

Há que se distinguir, de partida, entre instrução e formação. Essa forma de encarar a avaliação, ou seja, a medição pura e simples do conhecimento adquirido pelo aluno é importante mas não é tudo. Diz respeito a uma parte daquilo que tenho que avaliar do aluno, mas um projeto político-pedagógico tem que ir além da questão da transferência ou do domínio de determinados conteúdos e tem que se colocar questões relativas à formação.

Pensar questões de formação é vital e pode-se dar um exemplo simples sobre isso: seria aceitável que tivéssemos como objetivo dotar o aluno de conhecimentos para que se transformasse em um membro de um grupo de assaltantes? Não. Há portanto mais que conhecimento na questão da educação. Há valores, ética, etc. Na realidade, o que se coloca é: o que a UNICAMP quer com os jovens que vêm até ela? Essa é uma pergunta que precisa ser respondida. Quer que saiam daqui bons Matemáticos? Físicos, Químicos? Ou seja, quer que detenham o conteúdo dessas matérias. É esse o critério? Ou há algo mais que a Universidade desejasse na formação desses jovens durante os anos que passam na Universidade?

Se a idéia é que vamos formar apenas tecnicamente, então, o que está em jogo é o conteúdo. Por conseqüência, os processos de avaliação formais estabelecidos devem dar conta de medir esse conhecimento, bem ou mal. O professor pode submeter o aluno a provas, passar listas de exercícios, submeter o aluno a exames em laboratórios, a práticas de campo e concluir se o aluno domina ou não as habilidades, os conceitos que eram previstos para aquele período. Se o objetivo for mais que isso, for formar, então é necessário ter algumas precauções adicionais que passam pelas respostas a questões mais amplas sobre o que queremos para a juventude aqui na UNICAMP.

Essa questão pode ser feita igualmente para todo o sistema educativo. O nosso ensino básico está voltado para dar uma enxurrada de informações que os alunos recebem em sala de aula e certificar que este aluno tem condições ou não de ler, escrever, contar, multiplicar, etc. Mas, indagar se podemos estar formando um “maníaco do parque” bem letrado, isso não nos interessa. Ou seja, as condições psicológicas, sociais, políticas, o envolvimento dele, o seu caráter, a sua constituição emocional, não é tomada como um objeto de reflexão nos currículos regulares das nossas escolas e da Universidade.

A escola se transforma num local que mede quantidades de informações assimiladas pelos alunos. Se vierem a ser, depois, “maníacos do parque”, é uma questão para a polícia, não é mais com a Universidade. Mas, então, pergunta-se, o que é que estamos formando? O que é que se pretende de uma universidade pública, que trabalha com um conjunto de jovens que acolhe? É uma questão que precisa ser definida porque isso orienta o que eu avalio e como avalio.

Para avaliar valores e atitudes eu preciso de práticas avaliativas diferenciadas das utilizadas para aferir o conhecimento. O domínio do conhecimento pode ser avaliado em uma entrevista, em uma prova, em um trabalho prático de laboratório, mas atitudes e valores são mais complicados de serem ensinados e avaliados. Então é preciso fazer uma reflexão sobre essa questão curricular da Universidade. Qual a dimensão do nosso trabalho na Universidade do ponto de vista da formação versus instrução? Isso é vital para que o projeto político-pedagógico do curso também contenha tantas ações quantas necessárias, não somente para instruir, mas também para formar. Nesse sentido é que entra a questão do tempo livre do aluno ou da sua saturação em aulas.

Há todo um debate sobre a necessidade ou não de se ensinar, ponto a ponto, tudo o que se imagina que um profissional precise para exercer a profissão. Durante muitos anos as Universidades trabalharam (e ainda o fazem) com a idéia de que se formaria o aluno em quatro anos (do ponto de vista de instrução).

Hoje, isso já caiu por terra. A Universidade sabe que não forma mais um aluno em quatro anos. Ela sabe que dá aqueles requisitos essenciais para o aluno, cabendo a este continuar estudando, trabalhando, porque o conhecimento torna-se obsoleto numa velocidade muito grande. De modo que, hoje, a formação continuada é um contra-ponto necessário do próprio planejamento da formação básica que o aluno tem. Nenhum profissional subsiste sem formação continuada.

Portanto, é ora de abrirmos espaço para a formação e não em pensarmos em reduzir o tempo que o aluno passa na Universidade. É hora de ampliar a nossa noção de currículo e deixar de lado aquela idéia de que a Universidade vai ensinar durante quatro anos tudo ao aluno, tudo o que ele precisa para exercer a profissão.

Muito mais importante do que ensinar tudo para esse aluno é ensinar a ele algumas habilidades fundamentais no campo da pesquisa, no campo de encontrar, processar e criar informações. Ele não precisa reter informações na cabeça. O que está por trás são processos de criação, processos de localização de informação, processos de tratar com a informação e não processos de guardar informações. Hoje temos procedimentos muito mais eficazes para a guarda de informações do que preencher o espaço intelectual do aluno com estas. É preciso fortalecer a formação.

Obra: MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Autora: Maria da Glória Gohn

Resumo do Cap. I - MOVIMENTOS SOCIAIS, CIDADANIA E EDUCAÇÃO

1. Antecedentes históricos

O elemento comum que entrelaça os movimentos sociais com a educação é a cidadania. Entretanto, este termo possui diversas abordagens tanto do ponto de vista teórico-metodológico quanto do processo de mudança e transformação da sociedade.

No liberalismo, a questão da cidadania está ligada à noção de direitos. Trata-se dos direitos naturais e imprescritíveis do homem (liberdade, igualdade perante a lei e direito à propriedade), e dos direitos da nação (soberania nacional e separação dos poderes: executivo, legislativo e judiciário).

De acordo com esta ideologia o homem era suficientemente esclarecido para escolher seus representantes, com conhecimento de causa, independente das pressões e era ainda, acima de tudo, um proprietário (de terras e imóveis). Além disso, estabelecia que somente os proprietários (burgueses) tinham direito à plena liberdade e à plena cidadania.

De acordo com Locke, teórico liberal, há uma diferenciação de direitos entre a classe trabalhadora e a burguesia, pois a primeira, acostumada com o arado e a enxada era incapaz de ter idéias sublimes. Portanto, a educação para a cidadania era irrelevante para a classe trabalhadora, uma vez que ela não tinha qualidades para ser cidadã.

A igualdade natural, inata entre os homens, seria desfeita no plano da sociedade real, pela desigualdade entre cidadão-proprietário e o não-cidadão e não-proprietário. Enfim, as diferenças sociais eram vistas como diferenças de capacidade.

À medida que o capitalismo se consolida as lutas sociais vão deixando de ser apenas pela subsistência e surgem concepções alternativas dos direitos. A educação volta a ser pensada pelas classes dirigentes como mecanismo de controle social e os teóricos da economia política passam a recomendá-la para evitar desordens.

Adam Smith justifica, assim, a necessidade da educação em função da divisão do trabalho. Seria competência do Estado facilitar, encorajar e até mesmo impor a toda população o aprendizado mínimo às necessidades de capital.
O pressuposto básico era de que o povo instruído seria ordeiro, obediente a seus superiores e não presa de crendices e superstições religiosas e místicas.

O essencial não era instruir, racionalizar o indivíduo, mas racionalizar a vida econômica, a produção, ou seja, a única educação que interessava era a formava consumidores e produzia mercadoria para o trabalho.

A cidadania do séc. XIX, ao contrário dos séculos anteriores, dirige-se a todos, incluindo as massas, entretanto a sua finalidade precípua era discipliná-las e domesticá-las, ou seja, busca-se, através da educação, que os membros do tecido social participem do convívio coletivo de forma harmoniosa.

Os direitos sociais não são conquistados, mas sim outorgados pelo Estado.
Neste processo, onde a educação tem destaque, a prática pedagógica enfatiza as estratégias de persuasão, esclarecimento e moralização de cada futuro cidadão.

Ao lado da cidadania regulamentada pelo Estado, desenvolveu-se, ainda, o neoliberalismo comunitarista, onde a abordagem do cidadão é vista como retorno à idéia de comunidade em contraposição à sociedade urbano-industrial burocratizada.

A noção de educação, nesta ideologia, é bastante conservadora: educa-se para a cooperação geral. A escola tem um papel fundamental neste processo, onde as condições concretas vivenciadas não são as fontes multiplicadoras do aprendizado, mas sim uma visão romântica, idílica, estigmatizada, da vida no campo, das relações diretas, primárias, da pequena comunidade. O livro didático é o representante máximo deste processo.

Entretanto, existe uma terceira definição do conceito de cidadania, elaborada a partir de grupos organizados da sociedade civil, através de movimentos. Trata-se da cidadania coletiva.

A educação ocupa lugar central na acepção coletiva da cidadania. Isto porque ela se constrói no processo de luta que é, em si próprio, um movimento educativo.

Nesta teoria a cidadania não se constrói por decretos ou intervenções externas, programas ou agentes pré-configurados. Ela se constrói como um processo interno, no interior da prática social em curso, como fruto do acúmulo das experiências engendradas. A cidadania coletiva é constituidora de novos sujeitos históricos: as massas urbanas espoliadas e as camadas médias expropriadas.