Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

19/11/2007

A paralisação das Ciências Humanas

Inegavelmente as Ciências Humanas estão estagnadas, ou seja, paralisadas há um bom tempo. Nada de novo, de inovador, é produzido. Tudo é repetição de pensadores antigos e de idéias antigas. Repetem de forma diferente, usando sinônimos e novas estruturas gramaticais, mas o cerne é o mesmo. Por que isso está acotecendo ? De quem é a culpa ? Será que acabou a criatividade e a inteligência ? Será que a culpa é do excesso de informações vazias e insignificantes passadas pela mídia de massa ?

Este é um bom tema para se investigar. Um tema que pode dar respostas duras e diretas. Por exemplo, a paralisação pode estar ligada à mediocridade dos pesquisadores. Transformaram as ciências humanas em um negócio, um meio de vida, coisa que qualquer um pode fazer. E isso atingiu a área das humanidades em cheio. E as bibliotecas se entupiram de lixo, ou seja, dissertações e teses medíocres, que não servem para nada. A não ser, é claro, para dar o título de mestre e doutor para os pós-graduandos.

Certamente, qualquer um pode jogar futebol, mas poucos sãos os jogadores talentosos. E no jogo das Ciências Humanas, os talentosos estão sendo deixados de fora por seleções viciadas, pactos de ajuda mútua e pelo famoso QI (Quem Indica).

Os orientadores e os grupos de pesquisas pensam que nunca serão pegos e que seus protegidos alcançarão o sucesso pretendido. E eles acertam em cheio: não são pegos e seus orientados alcançam sucesso. Contudo, o resultado das picaretagens se mostram no resultado do trabalho, na mediocridade da dissertação ou da tese. E isto, certamente, paralisa quaiquer áreas. Se não há um caminho novo sendo aberto, todo mundo fica vendo e revirando coisa antiga para ver se acha alguma coisa.

O futuro não pode ser explicado pelo passado. O passado pode orientar e direcionar o futuro, mas não explicá-lo. Por isso, a busca de explicação para uma sociedade globalizada e uma era de conhecimento e informação tem que ser construída e inventada do zero, pois não há nada parecido com isto na história da humanidade.

Precisamos de pesquisadores e pós-graduandos que abram novos caminhos, apresentem novas soluções, mostrem outras possibilidades e expliquem a atualidade. E isso só pode ser feito por quem tem talento para a coisa, por quem consegue ver além do horizontes e gosta de navegar águas desconhecidas.

Mas não é só isso, a culpa também é do método, dos dogmas e dos paradigmas. Trabalhos medíocres seguem o método, respeitam os dogmas e param diante dos paradigmas. Trabalhos inovadores e criativos chutam o método, cospem nos dogmas e arrebentam os paradigmas. São trabalhos ousados e corajosos. Trabalhos desbravadores e que fazem a humanidade avançar e evoluir.

Não podemos ficar amarrados a métodos antigos, a dogmas dos séculos passados, a paradigmas criados, muitas vezes, para nos impedir de evoluir. Se há uma idéia inovadora, ousada, obscena e pornográfica na cabeça, ela tem que ser revelada e repercutida. Ela tem que ser mostrada para todos.

Muitas vezes não temos todas as respostas e não temos a idéia completa. Mesmo assim temos que revelá-la, temos que contá-la, temos que repercuti-la, pois outros irão ler aquilo e irão juntar outros pedaços, agrutinar novos elementos e fechar o sistema todo. É assim que as Ciências Exatas avançam. E isto também tem que ser adotado e implantado nas Ciências Humanas.

Hoje vivemos um excesso de respeito a métodos e a coisas irrelevante.s Vivemos um excesso de respeito pela forma. Quem respeita e segue muito a forma, é porque não tem conteúdo. Precisamos valorizar o conteúdo. A forma pode ficar por último, se tivermos tempo. cuidamos dela, se não tivermos, deixa prá-lá. Ela não faz muita diferença. O conteúdo é o que importa.

Um dogma é um ponto fundamental e indiscutível de qualquer doutrina ou sistema, é uma idéia pronta. Uma idéia que dizem ser verdadeira e que não pode ser contestada ou questionada. Contudo, o papel do cientista e do pensador é contestar, questionar. É levantar dúvidas.e dizer isto não é assim, é assado. E fazendo isto restringimos o poder dos dogmas sobre a sociedade e sobre as pessoas. Logo, evoluimos., fazemos a humanidade avançar.

A evolução, inegavelmente, se fez e se faz em cima da quebra de dogmas e paradigmas. Por exemplo, o sol gira em torno da terra, a terra não se move, o mundo é plano, índio não é gente, mais pesado que or não pode voar, etc. Todos foram quebrados. Logo, evoluimos.

Mas o maior de todos os empecilhos são os paradigmas. E digo mais, os paradigmas, mais do que os dogmas, bloqueiam o desenvolvimento e impedem a evolução. Enquanto um dogma cega a pessoa em um ponto fundamental, o paradigma consegue cegar a pessoa e a sociedade em uma área completa, consegue inibir toda uma cadeia de pensamento.

Hoje estamos presos a paradigmas. Os estudiosos e os cientistas criaram muitos paradigmas e nos amarraram neles. Precisamos pensar de forma diferente e criativa para conseguir soltar as amarras. Por exemplo, precisamos vencer o paradigma do subdesenvolvimento, da mentalidade subdesenvolvida. Nós temos plena capacidade inventiva e criativa. Não é porque somos "supostamente" subdesenvolvidos que temos que ficar repetindo estudos e pesquisas que são lançados no exterior. Devemos assimilar aquilo que é bom, mas temos que criar a nossa própria voz e ir além deles.

A mentalidade subdesenvolvida diz que não somos bons, somos medíocres, não podemos fazer nada diferente, não temos capacidade intelectual, tudo está no primeiro mundo... Isso é mentira. Isso é um paradigma que tem que ser quebrado. Não é porque está escrito em inglês ou porque o autor é norte-americano que a coisa presta e funciona. A mesma capacidade intelectual que há lá, também há aqui. Temos tudo que Harvard e Yale tem, por que não ganhamos prêmio Nobel como eles ? Porque a mentalidade subdesenvolvida nos transforma em meros repetidores daquilo que eles fazem. Repetimos tudo em português. Repetição não dá Nobel.

(continua)