Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

30/03/2007

A empresa virtual e a internacionalização da Amazônia

O senador Arthur Virgílio fez um discurso contra uma empresa virtual que defende a internacionalização da Amazônia. A imprensa obtusa e dissimulada está chamando o discurso do Senador de gafe e, com isso, tentando encobrir os fatos. Dizem que se trata apenas de um jogo. Contudo, o Senador Arthur Virgílio está correto e não cometeu nenhuma gafe. Pode se tratar de um jogo, de uma suposta empresa virtual e de situações fictícias. Mas esses dados virtuais e fictícios, assim como essa empresa virtual, foram criados com uma única finalidade convencer as pessoas de que a Amazônia deve ser internacionalizada. Todas as ações começam no mundo virtual, seja o virtual da imaginação, seja o virtual da internet.

É um jogo ? Não, não é um só um jogo. É um instrumento de convencimento e de treinamento. Primeiro se inculca nos jogadores a ideologia e em pouco tempo haverá uma grande quantidade de indivíduos defendendo e lutando pela internacionalização da Amazônia. As coisas começam com um jogo e depois que as informações e os argumentos estiverem solidificados e cristalizados na cabeça dos internautas iniciam se os movimentos, as ações concretas, para implementar a idéia.

Lembro que o Exército americano utiliza jogos para treinar seus soldados. Utiliza jogos para reproduzir as situações que os combatentes enfrentarão em um campo de batalha e, assim, ensinar-lhes as técnicas e os meios de sobrevivência.

Se os donos da empresa virtual não existem, os donos do jogo existem. Se o jogo não tem dono, os servidores que hospedam o jogo tem. Enfim, tem gente poderosa investindo na disseminação dessas idéias de internacionalização da Amazônia. Não podem fazer isso abertamente, pois o Governo Brasileiro pediria explicações oficiais. Por isso, estão utilizando o jogo para disseminar as idéias de internacionalização.

Percebam que esse método é eficiente, eficientíssimo, na disseminação de idéias e de ideologia, assim como para a formação de um exército de defensores da causa. Qual é o próximo passo ? Lançar uma coleção de bonecas Tainá que defendem a internacionalização da Amazônia ?

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A íntegra do discurso dos senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Gerson Camata (PMDB-ES) no Senado:
Folha Online - 30/03/2007

Discurso do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM)

"Senhor presidente, ilustre Cônego José Carlos Dias Toffoli, coordenador oficial da Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano, cujo tema é essencial para o próprio entendimento do meu mandato, pois se trata da região que represento, a Amazônia, senhoras e senhores senadores, senhoras e senhores convidados, antes de mais nada, deixo bem claro que não sou xenófobo, não vejo o estrangeiro como inimigo ou como ameaça em si mesmo, não sou alguém que se arrepia quando fala em ONG --Organização não-Governamental-- e que liminarmente recusaria a participação delas no processo de desenvolvimento sustentável da minha região.

Concordava ainda há pouco com o senador Gerson Camata que temos uma obrigação muito fina de sermos competentes na administração da Amazônia, porque se, irresponsavelmente a desmatarmos, estaremos sujeitos, sim, ao que se chama de cobiça internacional; se, por incúria, má-fé ou ganância de alguns grupos econômicos que só olham as colinas no curto prazo, não soubermos tratar a Amazônia como uma área estratégica para o país, inalienavelmente de bandeira nacional, porém reconhecidamente de interesse planetário, estaremos sujeitos, quem sabe, um dia, a perdê-la, manu militari, virando em 6, 10 ou 12 anos um protetorado sob a coordenação das Nações Unidas.

Então, separando bem as coisas, procurando marcar muito nitidamente essa posição --e antes de conceder o aparte ao senador Gerson Camata-- volto ao projeto de concessão de florestas, no qual votei favoravelmente.

Claro que ele sozinho não resolve a questão, é preciso armar o Ibama de técnicos e de fiscais à altura do que a Amazônia exige para sua fiscalização. Mas, como está, há pressão para desmatar a região à vontade, em qualquer lugar, o tempo inteiro.

A idéia que adotei, que percebi ser também da ministra Marina Silva, foi muito contestada no Senado e dividiu o plenário. O debate durou --sem exagero-- umas oito horas, prova de que havia pessoas de boa-fé, cada uma com sua visão, discutindo a região amazônica. Eu entendia, assim como a ministra, que tínhamos de direcionar a pressão sobre áreas, sob fiscalização do Estado, sendo crime --e crime brutal-- trabalhar a pressão desmatadora sobre outras áreas. Ou seja, a idéia seria circunscrevermos a exploração da Amazônia ao que era permitido, àquelas áreas concedidas. O resto seria atividade marginal mesmo. Alguém pode falar que não temos como controlar, o Ibama não tem efetivo, a Polícia Federal não tem efetivo. Então, deve-se dotar o Ibama de efetivo, dotar a Polícia Federal de efetivo, completar esse projeto, para que ele possa avançar. O fato é que, como estava e como está, não dava e não dá para continuar.

Portanto, senador Gerson Camata --já concedo o aparte a V. Ex ª e falamos sobre isso ainda há pouco--, já me defini, não sou xenófobo, não tenho arrepios quando o estrangeiro se interessa pela minha região, mas tem notícia da maior gravidade que devo trazer ao conhecimento da Casa neste momento.

Ela está no site da Agência Amazônia, sob o título "Laboratório americano propõe privatizar a Amazônia":

A Amazônia está mesmo à venda. Em um vídeo de 1 minuto e 25 segundos, postado em seu site, a empresa norte-americana Arkhos Biotech está convocando as pessoas do mundo inteiro a investir "para transformar a floresta (Amazônia) em um santuário de preservação sob o controle privado." O apelo, em tom dramático, é feito pelo diretor sênior de marketing da empresa, Sr. Allen Perrell, para justificar que a Amazônia precisa ser cuidada por grupos internacionais. "A Amazônia não pertence a nenhum país, pertence ao mundo", afirma Perrell.
[...]

Perrell vai mais longe: "Ajudar-nos a comprar a Amazônia não é apenas uma ótima oportunidade de investimento. Pode ser a única maneira de salvar a floresta da extinção total.

Em sua página, a Arkhos Biotech divulga, em texto, em áudio e em vídeo sua missão: a Amazônia deve ser internacionalizada. [Ele isso diz textualmente. E diz mais, de maneira bastante primária, bastante grosseira, em relação ao Brasil].

[...]

A Amazônia é um fardo difícil para o Brasil carregar.

Não entendo que a Amazônia seja fardo para nenhum país. A Amazônia não deve ser pasto para lucros fáceis e desmedidos, por exemplo, da empresa do senhor Perrell, se esse é o intento dele, se esse é o desejo dele. Mas a Amazônia não é problema. A Amazônia é uma brilhante solução para um país que só é brilhante na sua composição final, se contar com a Amazônia plenamente desenvolvida, de maneira sustentável por nós todos. Tenho muito respeito pelo Chile, mas o Brasil sem a Amazônia é um Chile mais forte um pouquinho, um pouco mais gordinho. O Brasil com a Amazônia é um país que pode se credenciar, sim, a ser uma potência econômica.

É a última fronteira de desenvolvimento com que contamos: a biodiversidade, a água, a madeira explorada com correção, a sabedoria dos nossos --meus, com certeza-- descendentes indígenas, a perspectiva pesqueira por meio dos criatórios, a junção entre o cientista e o mateiro. O cientista é culto na sua formação acadêmica, Senador Gerson Camata, e o mateiro é culto na sua formação empírica de vida na Amazônia.

Nenhum dos dois é mais culto do que o outro, os dois são igualmente cultos, porque o cientista sabe explorar a planta medicinal que o mateiro indica e só chega ao local quando o mateiro lhe diz onde é e quando ir. Ou seja, eu não faria uma diferença entre aquele que estudou muito e tem todos os méritos e lauréis acadêmicos e aquele que não estudou nada nos livros, mas que estudou a lua, o sol, os rios, o tempo, a minha região e a conhece empiricamente de maneira brilhante.

Estou convidando essa empresa a se fazer representar em uma reunião da Subcomissão da Amazônia, que funciona na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, com as autoridades de meios ambientais do País e do Ministério das Relações Exteriores, porque a notícia pareceu-me extremamente grave.

Digo isso novamente, senador Sibá Machado, V. Exª me conhece e sabe que não repudio a figura do estrangeiro, ao contrário, prego a parceria com o estrangeiro. Entendo que, em relação à Amazônia, existem dois tipos de estrangeiros, os bons e os ruins, como existem dois tipos de brasileiros, os bons e os ruins. Alguém pode falar de racionalidade, afirmando "a exploração que eu quero é racional". Mas isso não me basta, porque nunca ouvi alguém dizer que quer fazer alguma coisa de maneira irracional, afinal de contas somos animais bípedes racionais.

O quero saber é se a racionalidade que propõem para desenvolver a minha região é uma racionalidade que não vai influenciar negativamente no clima, se é uma racionalidade que vai permitir que mantenhamos viva a galinha dos ovos de ouro, que é a Amazônia, pelos tempos, pelos séculos, pelos milênios. Ou seja, quero saber se a racionalidade de todos, a racionalidade média, é uma racionalidade boa para o meu País, se é boa para o meu povo, se é boa para a humanidade.

Então, é dentro dessa circunstância de convicção que lamento muito essa declaração ofensiva ao Brasil, absolutamente primária, mas que revela o interesse de ver a Amazônia desnacionalizada. Pensam eles que a Amazônia está à venda. Ela não está à venda! Diz isso um Parlamentar que reconhece que a Amazônia só será brasileira mesmo, ao longo dos tempos, se formos capazes de defendê-la. E não é defendê-la militarmente, não é defendê-la porque simplesmente queremos que reconheçam que a bandeira nacional por si explica nossa soberania sobre a área, mas defendê-la desenvolvendo-a com as melhores regras do meio ambiente.

Se V. Exª me permite, senhor presidente, ouvirei o senador Camata e encerrarei meu pronunciamento.

Discurso do senador Gerson Camata (PMDB-ES)

Ilustre Senador Arthur Virgílio, cumprimento V. Exª ao navegar nas águas da CNBB, que está provocando a capacidade dos brasileiros para administrar a Amazônia. Toda vez que nos descuidamos, que não denunciamos, como V. Exª agora está denunciando, toda vez que nós, brasileiros, não fazemos o que a CNBB está fazendo, estamos descuidando de um patrimônio e às vezes até dando razão a esse cientista norte-americano quando diz que estamos sendo incompetentes para administrar a Amazônia.

Recordo-me, há cerca de uns 15 a 20 anos, que houve uma reunião do G-8 - o Brasil não estava presente, pois não faz parte do G-8 - e um representante inglês disse: "A Amazônia é um patrimônio da humanidade." E nós fomos defendidos lá por Helmut Kohl, então Chanceler da Alemanha, que declarou: "A Amazônia não é um patrimônio da humanidade; a Amazônia é um patrimônio do Brasil a serviço da humanidade."

Precisou de um alemão para nos defender daquela tentativa de internacionalização da nossa Amazônia. Cumprimento V. Exª e, acima de tudo, junto com V. Exª, quero cumprimentar a CNBB. Todos os anos, como disse o Senador Cristovam Buarque, ela vem aqui, às vezes até dar um tapinha em nosso rosto, como a sugerir que acordemos para aquele assunto. É um exemplo que dá a todos os brasileiros, despertando-nos para problemas que temos e dos quais, às vezes, nos esquecemos. Muito obrigado a V. Exª.

Discurso do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM)

Muito obrigado, Senador Gerson Camata. V. Exª tem absoluta razão. A CNBB foi profética, até porque ela propôs essa campanha antes de as denúncias estarem tão arraigadas, antes de estar na ordem do dia de maneira tão forte a questão do aquecimento global.

O Brasil, sem os desmatamentos desenfreados, senador Inácio Arruda, seria o 18º país poluidor. Com os desmatamentos, ele fica perto do 20º, ou algo assim. Ou seja, nós precisamos dar o nosso quinhão, fazer a nossa parte.

O mundo desenvolvido, o mundo rico --melhor dizendo-- precisa aprender uma nova forma de produzir. Parar de produzir riquezas nunca, porque, se parar de produzir riquezas, a fome retorna aos países que já a venceram e a fome não será vencida por aqueles países que ainda com ela se defrontam. Então, o desafio é continuarem os países todos a produzir riqueza, sim, mas de uma outra forma, uma forma que não comprometa --e aí seria um comprometimento covarde-- a vida das gerações vindouras. Porque se não errarmos mais, ainda assim estaremos pagando pelos erros cometidos até hoje nos próximos 100 anos. Se não errarmos mais. Teremos, portanto, que só acertar, se é que temos a noção de que há um mundo a merecer de nós atenção, respeito; e um país a merecer de nós, por exemplo, que saibamos, de início, cuidar dos nossos recursos hídricos, das nossas cidades, do ar que respiramos, da Amazônia. É uma prioridade. A Amazônia, mais do que nunca, ela que sempre foi um tema de interesse planetário, deixou de ser um tema provinciano, debatido apenas pelos senadores na nossa região, senador José Nery, para ser um tema nacional.

Hoje significa uma absoluta alienação, diante da realidade brasileira, um Parlamentar não ter na ordem do dia de suas prioridades, seja ele do Rio Grande do Sul, ou do Acre, a preocupação com a Amazônia, como muito bem faz a CNBB, e repito, em tom profético, porque antes de ter esquentado o debate sobre o aquecimento global.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, senhor presidente.

24/03/2007

Legalize já


O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, acha que a proibição das drogas é uma hipocrisia. Leia a íntegra da entrevista concedida à repórter-especial Ruth de Aquino

ÉPOCA: Em que exemplo o senhor se inspirou para passar a defender a legalização das drogas?
Sérgio Cabral: Nos Estados Unidos da década de 20, quando toda a bebida alcoólica era proibida. O país caiu numa depressão econômica. A proibição gerou corrupção e o envolvimento de policiais e políticos no esquema de venda paralela de álcool. Aí vem esse brilhante estadista que foi o (Franklin D.) Roosevelt, acaba em seu primeiro mandato com a Lei Seca, faz o New Deal (série de programas econômicos entre 1933 e 37, com obras públicas, criação do salário mínimo e agências reguladoras) e levanta a América, acabando com uma hipocrisia que deprimia os Estados Unidos. O efeito da proibição da droga é nefasto nos países de um modo geral no Primeiro Mundo, França, Inglaterra, Estados Unidos, e devastador nos países em desenvolvimento. Se a gente for quantificar os mortos por conta da proibição da droga, o total é esmagadoramente maior do que os mortos por conta do uso da droga. Desde as brigas de gangue no primeiro mundo, à luta pela cocaína e a guerrilha na Colômbia e a disputa por territórios nos pontos de venda nos países em desenvolvimento. Isso sem falar em África e Ásia. A balança é negativíssima para o planeta. Claro que você aí mexe com a emoção, e alguém diz, ah, você não teve um filho drogado, você não sabe o que é ter uma pessoa viciada em sua família. Eu tenho a exata noção do que é ver uma pessoa que tenha se perdido no trabalho, na família, tanto por conta da droga como por conta do álcool. Quantas pessoas no mundo perdem seus alicerces estruturais, de família, amigos, trabalho e estudos, por conta do álcool? E morrem. E também por causa de remédios, e por causa de tabaco...

ÉPOCA: O senhor acha que proibir drogas é hipocrisia?
Cabral: Acho. Claro que existem setores nos Estados Unidos mais progressistas. O ex-presidente (Bill) Clinton provocava essa discussão. Ele, por exemplo, teve a coragem de enfrentar setores conservadores que lutavam para acabar com o aborto legal. A senadora Hillary (Clinton) e até deputados republicanos também encararam essa briga. Mas há setores capitaneados pelo presidente Bush que têm uma visão extremamente caduca, míope, conservadora, atrasada. Isso não tem nada de ideológico. Estou sendo pragmático. Não sou a favor de cocaína, heroína ou do cigarro de maconha. Sou favorável a que o mundo reconheça que há uma demanda por drogas que só aumenta, agora se diversificam os produtos, muitos deles feitos em laboratórios como comprimidos, que é o caso do ecstasy. Se alguém vai às boates da moda em Londres, em Paris, em Nova York, no Rio de Janeiro e em São Paulo, percebe que a água está ficando mais cara do que o uísque, porque a pessoa que toma ecstasy precisa de líquido, de água.

ÉPOCA: A sua proposta seria legalizar as drogas leves ou todas as drogas?
Cabral: Todas as drogas. Com a saúde pública. A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem que entrar nessa discussão, estabelecer regras, a ONU também tem que entrar nisso.

ÉPOCA: O senhor acha que seria viável legalizar as drogas somente no Brasil?
Cabral: Acho complicado. Acho que é uma regra que deveria ser adotada no mundo. Mas o Brasil pode iniciar essa discussão, por que não?

ÉPOCA: Mas, na prática, o Brasil poderia tomar essa decisão unilateralmente?
Cabral: Acho que no plano nacional, sim. No plano estadual, não. É delicada a legalização unilateral. Acho que as autoridades brasileiras, a diplomacia brasileira, os empresários deveriam levar essa discussão para o exterior, dizendo o seguinte: em meu país, estão morrendo milhares de pessoas por ano por conta da proibição das drogas. Como é aí na África? Como é com o ópio na Ásia? Cada pais dará seu testemunho e vamos aprender com os exemplos. Minha intenção é que se discuta esse desafio mundial utilizando um foro como a ONU.

ÉPOCA: Existe o argumento de que, se as drogas fossem legalizadas, aumentaria o consumo.
Cabral: Não acho isso. O cigarro é legal. Mas, com as campanhas públicas esclarecendo os malefícios do cigarro, houve uma redução no consumo. Você não vai permitir que se faça campanha na televisão ou na revista, "fume maconha". Legalizando, é possível alertar. É melhor que o viciado em heroína vá a um local onde é identificado pelo Estado. Hoje, o sujeito precisa se apresentar a clínicas públicas ou particulares, e são poucas as públicas, para se desintoxicar e se tratar. No momento em que se tem o Estado legalizando a venda e o sujeito vai comprar cocaína, ele seria cadastrado, orientado. É preciso dar luz a esse assunto. Se pensarmos que a população do planeta é de 5 bilhões de pessoas, e fizermos uma estimativa bem conservadora de que 10% do planeta consomem drogas, estamos falando de 500 milhões de habitantes que precisam ser tratados à luz do dia.

ÉPOCA: A Holanda seria um modelo a ser seguido?
Cabral: Não é um mau modelo, mas virou uma Disneylândia para quem quer fumar um baseadinho livremente. Não é o ideal. Na Holanda, você não tem a cocaína liberada, só as drogas leves. E por isso fica no meio do caminho. Mas Amsterdã é uma das cidades mais desenvolvidas do mundo, sua economia não se prejudicou por ter coffee-shops em que você tem no cardápio a maconha da Colômbia, do Brasil, mais pura, menos pura. É muito menos perigoso o usuário ir a um bar desses do que ir a uma boca de fumo no morro. E, com a legalização, o vendedor está registrado, paga alvará, paga imposto, gera empregos, não tem a guerra pelo ponto. Você tem a guerra mercadológica, comercial, quem oferece a maconha mais pura, faz menos mal à saúde. E o garoto não é tratado como delinqüente. Botou luz, todo mundo ganha. O que deve ser proibido no mundo? Tudo que violar as regras da cidadania. Se atravessar um sinal vermelho, você está indo contra a sociedade. Se pegar uma arma contra a vida, é crime. Mas cigarro, álcool, maconha são contra os outros ou sinalizam uma relação com você mesmo, de liberdades individuais? Desde que você não prejudique o outro... A sociedade tem que mostrar a esse que está usufruindo de sua liberdade individual os males que está fazendo a si mesmo. No momento em que se proíbe uma liberdade individual e a transforma em coletiva, você está prejudicando a sociedade.

ÉPOCA: O senhor criou algum grupo de estudo para levar adiante essa proposta?
Cabral: Eu ainda não criei nenhum grupo de estudo mas me disponho a entrar nessa questão com mais profundidade. Só me falta tempo, porque estou cuidando de saúde e educação. Mas preciso me organizar mais. (A socióloga) Julita Lemgruber mandou email pra mim, tem gente levando essa discussão. Depois de minha declaração, vi que há mais debates nas universidades, em restaurantes, na mídia...

ÉPOCA: O ex-secretário nacional para drogas, Walter MaIerovitch, criticou o senhor, e o chamou de oportunista por defender a legalização.
Cabral: Eu tenho uma boa impressão dele. Eu o acho uma pessoa muito qualificada. Quando eu era presidente da Assembléia (Legislativa do Rio de Janeiro), eu o recebi, e acho que ele entende muito do que fala. Acho uma pena ele me tachar de oportunista, eu nunca precisei disso na minha vida pública. Oportunismo? Acho o contrário. Acho até que estou assumindo uma discussão de risco. Mas é a opinião dele e eu respeito.

ÉPOCA: O senhor foi relator da atual lei de drogas, que descreve o tráfico como crime. Mudou sua opinião?
Cabral: Mudou muito, porque discuti com políticos avançados como o (Fernando) Gabeira e o (Carlos) Minc, o general Jorge Uchôa, ouvi entidades. Tivemos avanços, como a descriminalização do usuário, a impossibilidade de ele ser preso em flagrante, o que gerava corrupção, suborno, e um comprometimento desnecessário de horas dos policiais com esse assunto. Hoje o caso vai automaticamente ao Juizado Especial. Ao mesmo tempo endurecemos com o tráfico por ser hoje uma atividade criminosa. Mas por que não substituímos tráfico pela atividade legal? Por que não colocamos o bicheiro na legalidade? Não é assim com a Loto, a Sena?

ÉPOCA: O senhor defende também a legalização do jogo do bicho e a regularização dos bingos...
Cabral: Claro! Porque as pessoas gostam de jogar. Todos os países civilizados do mundo têm o jogo legalizado. A Argentina tem o bingo, o cassino. Eu fui há uns três anos com minha mulher e os dois filhos menores a Camboriú, em Santa Catarina, ficamos num hotel, eu era senador. E um rapaz me perguntou: não quer jogar no cassino hoje à noite? Tem um hotel aqui e um monte de gente famosa, fulano, beltrano, eles vêm sempre jogar aqui, o jogo é muito bom, é de alto nível, senador. Falei, cacilda. Uma empresa de turismo cadastrada, que me serviu lá, sugerindo a ida ao cassino. Eu não fui porque nem gosto de jogar. Noutro dia, aqui nesta sala do Palácio Laranjeiras, eu estava com o presidente Lula, e a Dercy Gonçalves ligou para falar com o presidente. Lula mandou um carro buscá-la em casa, ela chegou aqui e o assunto foi. 'Lula, ô Lula' (imitando a Dercy) 'não pode proibir o bingo, as minhas velhinhas querem jogar, Lula, isso é uma sacanagem', falando assim do jeito dela. "Eu não sou bandida, quero jogar no bingo Lula". O bingo está funcionando na base de liminares. E o bicho? Quem faz a sua fezinha no bicho à tarde, na frente de sua casa, porque tem bicheiro em tudo que é lugar, por acaso essa pessoa é criminosa? As maquinetas de caça-níquel que são origem de esquema de corrupção de políticos, policiais. Brigas de família, mortes. Por que tudo isso? E o aborto? A mesma coisa. Se uma menina de classe média quiser abortar, ela sabe onde está a clínica, a família leva, o comandante da polícia sabe, o prefeito, o governador, o presidente, todo mundo sabe. Mas, como a maioria das meninas no Brasil é pobre, e a maioria que engravida é pobre, de que maneira essa gravidez indesejada é interrompida? Os depoimentos são atrozes. Barra de ferro, vassoura...é justo isso? Portugal, que é um pais conservador, e a Espanha também acabaram com isso. A legalização das relações dos homossexuais. Agora mandei uma mensagem para a Assembléia para regularizar uma lei minha e do Minc. Fui ameaçado quando aprovei essa lei em 2001. Alguns líderes evangélicos muito conservadores diziam que eu não seria eleito senador no ano seguinte. E fui eleito com 4 milhões e 200 mil votos. Será que é justo que, numa mesma repartição, dois colegas, um heterossexual tenha direito a pensão se a mulher morre, e um homossexual com relação estável não tenha direito a nada se perder seu companheiro? O que o Estado tem a ver com sua escolha pessoal? O importante é garantir o mesmo direito para companheiros e companheiras.

ÉPOCA: O senhor também se disse favorável à antecipação da maioridade penal, uma outra questão nacional.
Cabral: Foi um juiz da vara de execuções penais, Carlos Borges, um sujeito jovem e muito bom, que sugeriu uma fórmula para a gente. O garoto cometeu um crime, o Ministério Público avalia o crime. Isso não ficou muito claro na imprensa. O menor vai responder por esse crime ainda como menor. Mas, a partir dali, se o crime for grave, sua maioridade penal será antecipada pelo juiz e, para qualquer outro crime posterior, ele será tratado como um maior. A primeira pena ainda será como menor. Nesse caso, não se estaria antecipando a maioridade para uma idade específica. Pode ter 10, 11, 14 anos. Se tiver matado intencionalmente o pai, a mãe, um amigo ou uma vítima de assalto, a partir dessa idade ele será maior de idade para a Justiça.

ÉPOCA: Na reação ao crime do menino João Helio, uma grande parcela da sociedade pediu medidas mais radicais, não? Como a antecipação imediata, por lei, em caso de crime hediondo.
Cabral: Sei que a sociedade quer mais rigor. Sabemos que há sociedades muito mais avançadas do que o Brasil, mais democráticas, em que a punição é realmente mais rigorosa para menores criminosos, como a Inglaterra.

ÉPOCA: A família do João Helio está falando em processar o estado. O que o senhor acha disso?
Cabral: Há um projeto tramitando na Assembléia, segundo o qual o estado daria, para a família da vitima, atenções especiais como prioridade para um emprego, assistência psicológica e social, uma série de propostas de apoio. O estado daria uma ajuda que não seria remuneratória.

ÉPOCA: A família do João Helio estaria cometendo um exagero ao processar o estado do Rio?
Cabral: Depende. Se a família encontrar algum viés legal para processar o estado, é um direito da família. Eu não vou, nem hoje nem daqui a um, dois anos, me comportar na defensiva estado versus sociedade. Não vou disputar números de homicídios, vou reconhecer o erro, ou que a medida não funcionou. Às vezes me perguntam se não seria errado eu chamar atenção para a penúria do Degase (Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas), porque daqui a seis meses pode estar na mesma situação. Se estiver, vamos ter que mudar. Fui a uma escola pública que estava caindo aos pedaços, a imprensa levantou uma série de escolas públicas no mesmo estado. Para nós, é um serviço que a mídia presta: sabemos melhor onde temos que atuar.

ÉPOCA: O senhor também defende um período maior de internação para o primeiro crime dos menores, não?
Cabral: É uma proposta do (governador de São Paulo José) Serra, e eu concordo, uma sentença maior de internação do menor, que avance pelos 21, 24 anos de idade, no caso de homicídio, crime hediondo. Uma coisa mais dura. Por outro lado, a Adriana, minha mulher, que é advogada, visitou o Degase, as condições de internação desses meninos são destinadas a criar animais, monstros. Então estamos criando uma força-tarefa, fazendo uma intervenção pesada, que vai durar meses, políticas sócio-educativas, recreativas, profissionalizantes... Dignidade nas instalações dessas casas de recolhimento, para que eles tenham um mínimo de atendimento pelo estado, e que a gente possa ganhar essa guerra tirando esses meninos do caminho do crime. Só os tiramos do crime dando a eles dignidade e uma perspectiva de uma vida melhor. Nós estamos falando de 3 mil jovens internados no Rio. Meninos que pescaram no rio em área ilegal estão misturados ao garoto que matou dez pessoas. Assim a gente não vai salvar ninguém. É uma escola de crimes. O que pescou vai começar a matar porque é estuprado lá dentro. Essa é uma preocupação nossa, de investir nesses centros de menor infrator.

ÉPOCA: Sobre a revista policial das mochilas de crianças no Rio de Janeiro em área conflagradas. A polícia alega que, ao encontrar uma pistola 9 mm na mochila de um menino, passou a revistar as crianças como forma de evitar que fossem usadas pelos bandidos. O que o senhor acha?
Cabral: Isso é verdade. A idéia original era de proteção, para evitar que as crianças fossem usadas como mulas, levando armas e drogas de um lado para o outro. Agora, a gente tem que respeitar a decisão da Justiça. Acatamos e suspendemos a revista. Mas, qual é a nossa posição? No momento em que o traficante sabe que usar o menor no crime pode render para o garoto uns dois, três anos no Instituto Padre Severino. Ele fala, "olha, entra no crime, e daqui a pouco você estará solto e com grana no bolso; leva aí esse dinheiro, essa arma para o outro morro". Ele usa a inimputabilidade do menor para fortalecer seu esquema criminoso. É isso que a gente quer? A gente não está propondo que a policia agrida o menor.

ÉPOCA: O que acontece é que a criança rica nunca será revistada. É justo que uma menina ou um menino, que já vivem uma vida dura em área carente, tenham que abrir suas bolsas a caminho da escola, mostrar seus pertences, para policiais? Não é constrangedor?
Cabral: E aí? Mas é esse o pragmatismo que falta ao Brasil. Em áreas conflagradas, tem que revistar todo mundo se a gente quiser proteger a população. Nao é destratar uma criança, pelo amor de Deus. Acabo de me emocionar ao ver 200 crianças de áreas carentes que foram contratadas pelo Detran para trabalhar 4 horas por dia no programa Jovem Aprendiz, no emplacamento, fazendo um trabalho de educação com o motorista de boas práticas no trânsito: cinto, não beber etc. E vão ganhar 250 reais de salário mais 80 de vale-transporte mais 110 de alimentação, ou seja vão ganhar 440 reais. Vão poder continuar estudando, vão levar pra casa uma receita, e uma perspectiva de dignidade e remuneração que as vezes nem os pais têm. Tem gente que acha que é exploração de trabalho infantil. Cada país tem uma realidade.

ÉPOCA: O senhor defende também mais autonomia para os governadores.
Cabral: Isso é um princípio crucial. Ah, dizem, então Alagoas vai legislar com precariedade. Ou Rondônia, ou Acre... Não! Todos esses estados vão legislar com muito mais controle, mais propriedade sobre sua realidade local. Que é totalmente diferente do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, isso vale para matéria penal, trânsito, isso vale para uma série de assuntos que são de competência exclusiva da União. E a União, em seu artigo 22, Constituição Federal, num parágrafo, diz o seguinte: por lei complementar, os estados poderão legislar sobre esses assuntos. Abriu uma brecha, mas é uma pena que não tenha consagrado essa autonomia. O grande segredo dos Estados Unidos, um país continental, com uma diversidade cultural enorme, que nasceu da guerra do norte contra o sul, é que eles são pragmáticos e há 200 anos reconheceram que ou se dava autonomia aos estados para que crescessem de acordo com sua realidade, ou não daria certo o país. Você pega a Alemanha, cada região tem sua autonomia forte. O que é unificado é a moeda, a defesa nacional, política monetária. Até em regimes unitários como a Itália, as regiões tem maior autonomia do que o Brasil.

ÉPOCA: O senhor não está sozinho nisso, não é?
Cabral: O (José) Serra é simpático, o (Paulo) Hartung mais ou menos, Aécio (Neves) tem dúvidas, a Yeda (Crusius) gosta, o Jacques Wagner gosta.

ÉPOCA: O senhor vai continuar batendo na tecla da autonomia dos estados?
Cabral: Claro. Não sei em que momento o Congresso vai discutir isso seriamente. Mas quando se discutir de verdade uma reforma, vou pressionar pelo fim do voto obrigatório. O voto é um direito, não um dever. Não há nenhuma sociedade avançada do mundo onde o voto seja uma obrigação. O voto é facultativo. Ah, vão dizer que tem 50% de abstenção. Paciência. Na verdade, você assim está gerando uma obrigação. Sai do eleitor e passa para o político, que vai ter que fazer tudo para encantar o eleitor com suas propostas para que ele compareça às urnas. O debate é outro. Lembro, na primeira eleição do (Tony) Blair na Inglaterra, ele temia uma grande abstenção. Então, todos os programas dele na TV eram para perguntar à população se estava satisfeita com a saúde, a educação. Compareça. Isso vai melhorar demais a qualidade da política no Brasil. No Congresso, defendo o fim do voto secreto. Isso é um escândalo. Quando fui presidente da Assembléia legislativa, eu acabei com o voto secreto. Você acaba com o jogo que pode até gerar suborno ou troca de favores, sobre o qual não se tem controle. Se for para votar os membros do Supremo Tribunal Federal, tem que ser abertamente. Medo de retaliação? Agências nacionais de regulação, tudo no Senado, e em voto secreto. Por que isso? Cassação de parlamentares, eleição da mesa diretora... São pontos que não vão reduzir os juros nem o superávit primário, não vão aumentar taxa de crescimento anual. Sai dessa agenda do dia-a-dia para a arquitetura de uma nova democracia brasileira, um novo formato para a política. Somos um país com pouca tradição democrática, pensar que a mulher brasileira votou pela primeira vez em 1946 para presidente de uma república de 1889... E 18 anos depois, o país estava de novo numa ditadura. E a hora é essa, de rearrumar a democracia brasileira.

ÉPOCA: A urbanização das favelas. O que o senhor pretende fazer nas áreas carentes?
Cabral: Vou à Colômbia entusiasmado. O caminho é este. Temos que recuperar, com a ajuda do presidente Lula, áreas degradadas e áreas com conglomerados urbanos onde não há política urbana. Então eu moro no Complexo do Alemão, num amontoado de gente, não vejo na minha comunidade um posto de saúde, uma escola, uma rua, um arejamento, uma praça, uma quadra de esporte. Só vejo o tráfico passar de lá pra cá, meu pai sumiu de casa, minha mãe cuida de mim e mais quatro irmãos, ela é empregada doméstica, eu não estudo, o tráfico me convida para ganhar uma grana que pouca gente na favela ganha. Então, se você não entrar com sensibilidade, tratando essas comunidades como parte integrante da cidade, não vai ganhar essa guerra. Não é só a polícia que não entra. É o corpo de bombeiros, a ambulância, a cidadania que não entra.

ÉPOCA: EM que ponto está?
Cabral: O projeto na Rocinha está avançado. Possivelmente em setembro, outubro estamos começando as obras. Vamos ter que demolir, reconstruir. Há duas semanas, tive uma experiência emocionante em Belo Horizonte, o prefeito Fernando Pimentel me mostrou um conjunto de obras num complexo de favelas, em torno de 50 mil casas. Pegaram uma área exemplar e ele me chamou para ver. Tudo que eu quero fazer na Rocinha. Construiu prédios, área de lazer. A maior verba inicial é da Rocinha, de 72 milhões. O Alemão terá 380 milhões ao longo de quatro anos. Manguinhos, 200 e poucos, onde tem a famosa faixa de Gaza. A Rocinha é uma obra onde não se gasta menos de 800 milhões de reais. Mas, estamos salvando áreas da cidade, incorporando milhões de pessoas para a área formal.

ÉPOCA: O que o senhor espera de sua viagem à Colômbia?
Cabral: Aprender. Não tenho nenhuma vergonha de aprender. Quando me elegi deputado em 1990 com 12 mil votos, resolvi aprender. Eu queria legislar para a terceira idade. Como não havia nada no Brasil, viajei para outros países, bati na porta de consulados, e perguntava ao cônsul o que o país dele tinha sobre terceira idade. Na época não tinha internet e eu estudava. Aí nasceu a lei que dá prioridade ao idoso nas filas, meia entrada nos museus, cinemas e teatros, a gratuidade nos ônibus, trens, barcas e metrô para estudantes, deficientes e idosos, enfim. Isso me fez depois ser relator do estatuto do idoso, que é uma lei avançada. Em 94, disputei a reeleição e tive 168 mil votos, fui o mais votado da história do Rio de Janeiro, desde a fusão em 1975. Recorde que não foi batido ainda. Aí me elegi presidente da Assembléia. Mais uma vez, fui aprender em outras terras, rodei parlamentos do mundo para aprender como era aquilo. A Assembléia representava 4,5% do orçamento do estado. Reduzimos para 2,2%, e depois 1,8%. O povo gostou do que eu fiz. Em 98, tive 380 mil votos, fui o mais votado do Brasil. Dos 513 federais, nenhum teve mais voto do que eu. Aí, fiquei mais quatro anos como presidente da Assembléia. E em 2002 fui o senador mais votado da história do Rio de Janeiro, com 4 milhões e 200 mil votos. O senador mais jovem. Produzi leis depois de ouvir muita gente. Na Colômbia é a mesma coisa: o que eu posso fazer por meu estado? Uma coisa que eu queria fazer pelos jovens também no Rio é criar uma rede de albergues, os "youth hostels". Tem muito jovem da Baixada Fluminense que nem conhece o Leblon. Nós temos escolas estaduais que podem se converter nos feriados e nas férias em albergues, com hospedagem barata. Isso tem que ser feito com cuidado porque são prédios públicos. Vamos fazer em julho algumas experiências. Uma escola estadual em Búzios, uma em Cabo Frio, uma em Copacabana.

ÉPOCA: O que o senhor acha da proposta polêmica de sua secretária de Ação Social, Benedita da Silva, de se criar uma Bolsa-Família para pais de menores infratores?
Cabral: A Benedita tem muita sensibilidade para o tema porque tem uma origem dura e sabe que muitas vezes a família precisa de um apoio. Acho interessante desde que se comprometa a ajuda com o desempenho escolar do jovem, porque se mobiliza a família na recuperação do jovem. A gente diria aos pais: olha, teu menino está aqui, nós temos uma série de programas sócio-educativos, escola profissionalizante, uma fábrica, um curso de carpintaria. Se ele tiver um comportamento correto, se ele se engajar nesses programas, vocês vão continuar recebendo. Mas, se ele tiver um comportamento indisciplinado, envolvendo-se com coisas ruins, nós retiramos o bolsa-família.

ÉPOCA: E quando a própria família, ou a sua desintegração, ou a falta de valores, concorrem para que ele seja infrator?
Cabral: Aí eu acho complicado. Temos que saber se a família visita o menino, se dá carinho. O instrumento da rede de proteção social tem que estar sempre casado com um diagnóstico da família, e com a possibilidade real de ajudar o futuro da família, senão vira uma esmola.

ÉPOCA: O senhor defende um estado enxuto...
Cabral: Por mim eu teria apenas seis secretarias de estado. Casa Civil, Planejamento, Fazenda, Educação, Saúde e Segurança. Obras e Esportes seriam agências, bureaus que contratariam serviços especializados, e todo o resto eu jogaria para o município. Você tem Esporte e Lazer, tem Política Social, tem Meio Ambiente, tudo com o município.

ÉPOCA: Seu temperamento político.
Cabral: Tolerância.

ÉPOCA: O senhor é conhecido como um conciliador.
Cabral: Mas um conciliador com propostas objetivas; não é uma conciliação cuja solução é a mediocridade. A capacidade de ouvir, de entender o outro, é muito importante.

ÉPOCA: Como o senhor costurou a aliança com o presidente Lula?
Cabral: O governo federal tem uma presença enorme no Rio, historicamente, porque foi capital do Império, da Colônia e da República. Furnas está aqui, Petrobras também, o Ministério da Saúde tem aqui mais de uma dezena de hospitais, institutos nacionais do câncer, cardiologia. O governo federal deseja fazer coisas aqui, o presidente Lula também. Houve uma aliança no segundo turno que fluiu muito bem, houve uma empatia entre mim e o presidente, a gente se curtiu. Eu te diria que não é só uma relação pragmática. Eu gosto dele e ele gosta de mim. A gente tem uma relação boa, afetuosa. O presidente está maduro e quer fazer o melhor pelo pais. Temos uma camaradagem com profissionalismo, de mão dupla.

ÉPOCA: Com o Aécio, como é essa dobradinha de governadores e lideranças emergentes? É verdade que o senhor disse que, se ele for eleito presidente, poderia nomeá-lo embaixador em Paris?
Cabral: Eu disse sim. Mas ele falou: a recíproca é verdadeira, isso não saiu na imprensa. O Aécio é um amigo da vida inteira. Fomos presidentes da juventude do PMDB em 1981, 82 e 83. Ele em Minas e eu no Rio. Eu vinha do Partidão (Partido Comunista), ele vinha da militância com o avô (Tancredo Neves), e somos amigos desde essa época. Namorei a prima dele, casei com a Suzana, a gente se aproximou muito, e sempre fomos parceiros. Agora não somos tão jovens. Mas ele é mais bem conservado do que eu. Ele tem 47, é um pouco mais velho do que eu, mas se cuida muito.

ÉPOCA: Como o senhor herdou as finanças do estado?
Cabral: Um rombo de 1 bilhão e meio de restos a pagar, mais do que uma folha de pagamentos do estado, que é de 1,1 bilhão. E, mais grave ainda, 1 bilhão entre a previsão da despesa e a verdadeira receita do estado. Eles inventaram uma receita fictícia, superestimaram o valor dos royalties.

ÉPOCA: O ex-governador Garotinho criou um blog. O senhor terá também um blog?
Cabral: Eu tenho lá tempo pra isso?

ÉPOCA: O casal Garotinho o acusa de ser traidor e de ter se aproveitado deles durante a campanha...
Cabral: Escute, eu já tinha uma história no PMDB, de recordes de votações, e quando fiz campanha, disse o tempo todo que eu iria fazer o meu governo, não é uma novidade. Garotinho não apareceu um dia em meu programa de TV na campanha. A Rosinha, por delicadeza, eu a coloquei no primeiro programa do primeiro turno, por 30 segundos, por educação. Não devo nada aos dois. Mas, não tenho nada contra. Vou olhar para a frente.

ÉPOCA: Agora, o senhor quer um dia ser presidente...
Cabral: Do Vasco. Eu acho que o Eurico Miranda já sobrou na história do Vasco. Já deu sua contribuição para o bem e para o mal. Acabou. É hora de renovação. Acho que o próprio Eurico já deve estar percebendo isso. Não dá mais. As pessoas não devem se perpetuar em qualquer cargo, em qualquer instituição.

ÉPOCA: Mas então, para onde o senhor vai daqui a 4 anos?
Cabral: Eu não quero ser presidente da República nem quero pensar nisso. Porque acho ruim. o Rio é um estado em que o governador é seduzido a pensar nisso. E só prejudica o estado. Tenho que fazer o dever de casa. Penoso. Tenho que arrumar o Rio. Na hora em que você coloca um projeto pessoal à frente, acaba atrapalhando o governo. Sinceramente, estou muito satisfeito com a minha carreira política até agora.

ÉPOCA: E depois desse mandato?
Cabral: Sinceramente estou pensando só nesses quatro anos de governo. É difícil de acreditar, mas é isso. Tento arrumar um tempinho para namorar a minha mulher, para ir a um cinema. Tenho aula de inglês duas vezes por semana. Na segunda-feira fiquei chateadíssimo porque era para eu ir ao Municipal. Sou apaixonado pela Nona de Beethoven, ia assistir com a Orquestra da Petrobras e o maestro Isaac Karabitchevski, tudo que eu queria era entrar no teatro às 8h da noite, esquecer do mundo. Mal consigo curtir minha mulher, minha família, o lazer, imagina se eu vou me preocupar em ser presidente da república.

ÉPOCA: E seus filhos?
Cabral: Tenho filho pequeno desde 1988. O João Pedro, de 18, o Marco Antonio, que faz 16 em maio, e o José Eduardo, que tem 11, do primeiro casamento. Com Adriana, meu terceiro e último casamento, porque sou apaixonado, tenho o Tiago, que faz cinco em maio, e o Mateus, que tem sete meses e é uma gracinha.

ÉPOCA: Na relação com a imprensa, ser jornalista e ter pai jornalista ajuda?
Cabral: O fato de eu ter convivido com imprensa desde menino, a vida, a visão dos jornalistas, almoço e jantares em casa, acompanhando meu pai... Envolvimento com música, futebol, política, sempre gostei de acompanhar aquela roda lá em casa, os papos, dormia mais tarde. Desde os 7, 8 anos. Somos três irmãos, morávamos na quadra da praia, na Rita Ludolf, Leblon, e eu ia com a minha mãe comprar doces numa lojinha e ia para a Vila Militar visitar o Cabral (como ele se refere ao pai). Minha mãe criou uma cumplicidade comigo. Dizia que meus irmãos não podiam saber que o pai estava preso. Para todos os efeitos, meu pai mandava uma carta, porque tinha viajado. Anos depois, quando eu tinha 17, minha mãe resgatou essa carta e leu para a família, foi uma choradeira. Claro que tudo isso envolveu minha formação. Isso tudo me ajuda hoje a ser tolerante com a imprensa.

ÉPOCA: Houve um momento em que o senhor começou a aparecer demais, não? Até indo em festa de lançamento de novela, apertando a mão de namorado de atriz. Não é um certo exagero de marketing pessoal?
Cabral: Pelo amor de Deus, a novela foi o seguinte: eu recebi a abertura da novela em primeira mão, e chorei em casa. Aquela câmera vindo do mar, atravessando a montanha, e abrindo em Copacabana, e a Bethânia cantando "um bom lugar pra se morar". Eu liguei para o Erlanger, da TV Globo, para cumprimentar e ele me perguntou se eu queria ir. E eu fui.

ÉPOCA: Qual é seu maior defeito?
Cabral: O horário. Gostaria de ser mais pontual.

ÉPOCA: O senhor planeja bem?
Cabral: ( silêncio) Planejo. Mas tenho sempre bons planejadores ao meu lado.

A morte por trás do etanol


Recordes de produtividade e busca de energia “limpa” são a face moderna da produção de cana-de-açúcar. Mas isso é sustentado por um regime de semi-escravidão a que ainda são
submetidos os trabalhadores


São 4h30 em Guariba, cidade do noroeste do Estado de São Paulo, quando o ronco dos motores de dezenas de ônibus quebra o silêncio da madrugada. Por seis vezes na semana, o barulho das rodas sobre as acanhadas calçadas do município anuncia o trabalho a um exército de bóias-frias. Dali a pouco, essa legião estará nas lavouras de cana para mais uma vez fazer história. Se na última safra – 2006/07 – os brasileiros cortaram e moeram mais de 425 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, este ano as estimativas prevêem uma produção 10% maior. São recordes sobre recordes de produtividade extraídos de plantações espalhadas por mais de seis milhões de hectares de terra. O feito consolida o País no invejável patamar de maior produtor mundial de álcool e etanol.

Tal riqueza atraiu os olhares do mundo para o produto que já é classificado por economistas como o novo “ouro branco” do planeta. Empresários, banqueiros e até o presidente dos Estados Unidos se interessaram pelo tesouro e desembarcaram no Brasil nas últimas semanas buscando transformá-lo numa commodity alternativa e barata aos combustíveis fósseis. Enquanto uns foram à Bolsa de Valores, outros estiveram em tratativas com o governo brasileiro. Porém, o que Bush e os investidores não viram e talvez não saibam é que a riqueza gerada pela fantástica produção desse “ouro branco” se assenta na exploração brutal de milhares de homens e mulheres que cortam e colhem cana pelo Brasil adentro. Quase 120 anos depois da abolição da escravidão, os cortadores de cana ainda vivem o cativeiro da terra, sob o tacão de um “chicote invisível”, como definiu Maria Cristina Gonzaga, pesquisadora do Ministério do Trabalho. A cana literalmente mói a carne de um milhão de miseráveis trabalhadores rurais. Quem entra nos canaviais brasileiros tem a impressão de estar fazendo uma viagem no tempo, retornando ao século XVII. Homens e mulheres são comercializados como gado, trabalham jornadas de até 12 horas, muitos passam fome e outros chegam a tombar mortos de pura exaustão. Relatório do Ministério do Trabalho (MT), divulgado no início do mês de março, mostra que só no ano passado 450 trabalhadores do setor sucroalcooleiro morreram nas usinas. Alguns foram assassinados, mas muitos morreram em conseqüência de banais acidentes de transporte. Outros foram carbonizados durante as queimadas. Vários perderam a vida simplesmente por excesso de trabalho. “O suor, o sangue e a morte banham o açúcar e o álcool brasileiro”, denuncia a ISTOÉ Maria Cristina Gonzaga, técnica da Fundacentro, órgão do MT, responsável pelo estudo. Nas contas dela, nos últimos cinco anos, o trabalho na lavoura de cana ceifou a vida de 1.383 trabalhadores.

Entre eles, o migrante mineiro Antônio Moreira, que largou o Vale do Jequitinhonha na década de 70 para “fazer safra” nas lavouras paulistas. Aos 55 anos, Antônio caiu morto de cansaço em meio às canas que empilhava. “Ele tinha cortado 16 toneladas aquele dia”, lembra a viúva Maildes Moreira Araújo, 55 anos, também cortadora de cana. Foi a terceira vez que tal desgraça se abateu sobre os Moreira. “Meu tio e um primo também morreram na mesma situação”, diz Antônio Moreira Filho, 32 anos, que trabalhava com o pai nos canaviais desde os 14.


“Do cortador de cana é esperada a produção de uma máquina”, diz Miguel Ferreira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cana de Jaboticabal, interior paulista, região responsável por 60% da produção nacional de álcool e açúcar. Miguel fala de cátedra. O atual sindicalista foi cortador de cana durante seis anos e, assim como seus pares, produzia diariamente seis toneladas de cana. “Hoje exige-se a produção de no mínimo dez toneladas diárias por homem. Não tem corpo que agüente”, constata Miguel. Segundo a Universidade Federal de São Carlos para cortar dez toneladas e ganhar R$ 24 é preciso percorrer cerca de nove quilômetros a pé por entre o canavial, desfechar cerca de 73.260 golpes de podão (facão) em 36 mil flexões de pernas. E mais, o cortador de cana terá que levantar e carregar pelo menos 800 montes de 15 kg de cana cada um, por uma distância de três metros, empilhando a produção do dia. Os médicos do Ministério do Trabalho, que estudaram a saúde do cortador de cana concluíram que eles chegam a perder em um dia de trabalho cerca de oito litros de água.

E o pior é que a situação desses condenados da terra pode se agravar. A partir deste ano, começa a ser colhido um novo tipo de cana, mais leve por ter sido geneticamente modificada. Além de pesar menos – pois elimina bastante a água –, esse tipo de cana concentra uma quantidade muito maior de sacarose (açúcar). Tudo ótimo, menos para o trabalhador, que precisava cortar 100 metros de cana para produzir dez toneladas e por causa da novidade transgênica precisará cortar o triplo para produzir a mesma quantidade. Aos 52 anos, Maria dos Santos corta nove toneladas para levar para casa R$ 512 no final do mês. Quando soube que terá que trabalhar três vezes mais para ter o mesmo rendimento, não se conteve: “Vamos morrer!”, desesperou-se.


Hábeis em implementar modernizações tecnológicas, os usineiros não demonstram intenção de alterar as arcaicas relações de trabalho que predominam no setor sucroalcooleiro. “As práticas impostas por eles, em muitos casos, ainda são escravagistas”, diz a técnica do Ministério do Trabalho. Veja-se, por exemplo, o processo de seleção dos trabalhadores. Eles são “vendidos” para intermediários que selecionam a mão-de-obra para usinas. Trazidos das profundezas do País para dar duro nos canaviais, esses escravos do século XXI são cooptados por “gatos”, uma espécie de empreiteiro que busca pessoas que, em troca de migalhas, se submetem a todo tipo de humilhação. Para cada cortador de cana trazido para a usina, capaz de produzir 12 toneladas por dia, o “gato” recebe em média R$ 60. Qual a vantagem? Esses cortadores são escolhidos a dedo e não reclamarão de serem obrigados a viver em alojamentos decrépitos. Eles também não reclamam do pagamento abaixo dos pisos salariais e ainda admitem viver confinados nas propriedades onde a colheita ocorre oito meses por ano. “Só 20% dos trabalhadores ligados ao setor sucroalcooleiro no Brasil têm conquistas preservadas, o resto são escravos”, garante Miguel, o sindicalista. “Não é difícil constatar a miséria e a exploração a que essas pessoas estão submetidas. O Ministério do Trabalho é que dá as costas para o problema”, indigna-se Miguel.


A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Única), entidade que representa os usineiros, não fala sobre direitos do trabalho. Segundo a assessoria de imprensa, eles apenas “cumprem a lei”. Mas em relação ao crescimento da produção eles são expeditos. Para os donos dos engenhos, as máquinas produzirão, até 2013, 36 bilhões de litros de álcool – um bilhão a mais que a atual produção mundial. Grande parte dessa produção atenderá aos mercados americano e europeu. No ano passado, 19 bilhões de litros de álcool foram destilados, uma supersafra que movimentou mais de R$ 40 bilhões na economia, US$ 8 bilhões em exportações, equivalentes a mais de 3,5% do PIB brasileiro. Segundo as estimativas do setor sucroalcooleiro, uma nova usina de cana surgirá a cada mês no País nos próximos dois anos.

Este crescimento acelerado no plantio e na produção preocupa governantes e economistas. Muitos temem que esse boom leve o Brasil de volta à monocultura. Hoje, várias plantações de alimentos e áreas de pastagem estão sendo substituídas por lavouras de cana-de-açúcar. Preocupados com essa possibilidade, alguns Estados já se preparam para enfrentar a situação. Em Mato Grosso, na região do Pantanal, já foi proibida a implantação de usinas de álcool. No Estado de Goiás, algumas prefeituras querem limitar a entrada da cultura da cana. Em São Paulo, responsável por 60% da produção nacional, um projeto do deputado estadual Simão Pedro (PT) propõe que os fazendeiros de regiões do Estado onde a cultura da cana se expande sejam obrigados a reservar 10% das terras para outros tipos de cultura. “É fato a expansão do setor, mas precisamos criar alguns limites, senão daqui a uns dias seremos obrigados a importar alimentos básicos”, diz Simão. Enquanto isso, o presidente Lula, inebriado com o etanol, disse que os usineiros passaram de bandidos a heróis.

10 mil quilos de cana por dia é a cota mínima que cada cortador deve produzir.

23/03/2007

Endereço alternativo do meu site

O endereço principal ultrapassou o tráfego mensal. Por isso está bloqueado. Contudo você pode acessar o site em:

Educação é principal interesse de internauta, diz IBGE


O principal interesse de quem acessa a internet é a educação e o aprendizado. Em segundo lugar vem a comunicação com outras pessoas, por meio de chats, MSN etc. O lazer aparece em terceiro. A leitura de jornais e revistas fica na quarta posição.

O ranking de interesses de usuários da rede faz parte da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) acerca do perfil dos usuários de internet, com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2005.

A pesquisa mostra que os internautas brasileiros chegam a 32,1 milhões de pessoas, o que corresponde a 21% da população com 10 anos ou mais.

O estudo mostra ainda que existe uma igualdade na proporção entre homens e mulheres que acessam a rede. Ao todo, 22% da população masculina utilizava a internet. Entre as mulheres, o percentual era de 20,1%.

Além disso, a pesquisa mostra que a escolaridade e a renda influem no acesso à internet. Ela é mais utilizada entre pessoas com 10 anos ou mais de estudo (ensino médio). Já a população 5,6 anos de estudo é ainda a mais afastada da rede. A idade média do internauta brasileiro é de 28,1 anos.

Alagoas é o Estado com menor proporção de população com acesso à internet de casa, do trabalho, ou de qualquer outro local gratuito ou pago: apenas 7,6% da população do Estado acessa à rede. O Distrito Federal está no lado oposto: 41,1% da população usa a internet.

Internet discada

O presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Plínio de Aguiar, disse que a falta de acesso ao computador é o principal obstáculo dos brasileiros para contato com a internet.

Segundo ele, o acesso discado ainda é caro e a banda larga também pesa no orçamento das famílias. "A primeira barreira de acesso a internet com certeza é econômica", disse Aguiar. Ele disse q o governo estuda utilizar o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) para cobrir as despesas de acesso à internet em 200 mil escolas.

Ele disse que a Anatel deve aprovar ainda no primeiro semestre deste ano um plano de acesso à internet discada, pelo qual as operadoras irão oferecer um pacote de dez horas de navegação na internet por R$ 7,50. Segundo o governo, o plano deve ajudar a popularizar a internet entre a população de baixa renda.

22/03/2007

Réus feios têm mais chances de ser condenados, diz estudo

Pessoas feias têm mais chances de serem condenadas por júris populares do que pessoas bonitas, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Bath, na Grã-Bretanha.

No estudo, cada um dos 96 voluntários (metade brancos, metade negros) recebeu a transcrição de um roubo fictício, com uma foto do suposto réu.

A descrição do crime era sempre a mesma, mas fotos diferentes foram anexadas. Duas das fotos mostravam réus negros, um considerado feio e outro bonito por participantes de um estudo separado. Foram usadas ainda duas fotos de réus brancos, um belo e outro feio.

Os voluntários foram orientados a julgar a culpa do réu em uma escala de zero a dez e dar um veredicto de culpado ou inocente. No caso de considerarem o réu culpado, eles precisaram ainda estabelecer uma sentença.

Bonitos e feios

O estudo observou que os jurados tendem a considerar os réus atraentes menos culpados do que os réus feios.

“Nosso estudo confirmou pesquisas anteriores sobre os efeitos das características dos réus, tais como a aparência física, nas decisões de júris. Os réus atraentes são, ao que parece, julgados de forma menos rígida do que os réus feios”, afirmou a pesquisadora Sandie Taylor.

“Talvez a Justiça não seja tão cega assim”, disse a pesquisadora.

Outra descoberta interessante foi que a etnia do réu ou do jurado não afetou o veredicto. Mas os réus negros e feios tiveram sentenças mais longas quando considerados culpados.

“É interessante que ser um réu negro e pouco atraente só teve impacto na sentença, mas não no veredicto de culpa dado pelos jurados.”

“Eu acho, no entanto, que é uma descoberta positiva o fato de que nem os participantes brancos nem os negros mostraram uma inclinação para com seu próprio grupo étnico”, disse Taylor.

O estudo foi apresentado na Conferência Anual da Sociedade Britânica de Psicologia.

16/03/2007


Fuga de cérebros

Jornal da USP - 05 a 11 de março de 2007 - ano XXII n.792

NILCE DA SILVA - professora da Faculdade de Educação da USP

Emigrar faz parte da constituição do ser humano. Não é um fato novo na história da humanidade: os egípcios recebiam mão-de-obra para suas construções faraônicas, gregos e romanos trasladavam suas populações para ocupar territórios recém-conquistados. Entretanto, diferentes lógicas orientam as movimentações humanas, variando de acordo com a época e os locais em que ocorrem.

Desde 2002, o Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Acolhendo Alunos em Situação de Exclusão Social e Escolar: o Papel da Instituição Escolar, localizado na Faculdade de Educação da USP, tem desenvolvido seus trabalhos acerca da relação entre escola e (i)emigração. Dentre outras perspectivas, temos nos interessado pela saída de brasileiros graduados ou pós-graduados para o exterior, movimento conhecido também como brain drain (fuga de cérebros).

Como conseqüência do movimento de europeus para os Estados Unidos, podemos admitir que outros cientistas, brasileiros inclusive, partem rumo à Europa para preencher as vagas ali encontradas, apesar de que indianos e paquistaneses, dentre outros pesquisadores de antigas colônias não-pertencentes ao mundo lusófono, são priorizados sobretudo pelo domínio da língua inglesa. Essa situação que desfavorece a ocupação dessas vagas por brasileiros na Europa, do nosso ponto de vista, é o resultado, em grande medida, da dificuldade que a maioria dos países ex-colônias portuguesas tem em competir no sistema econômico mundial há muitos séculos.

Dito de outro modo, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor-Leste teriam, de um ponto de vista eurocêntrico, poucos cérebros para exportar. Isso porque o resultado do processo colonial português – apoiado fortemente pela Inglaterra, principal beneficiária desses pactos coloniais – fez com que suas economias se apoiassem na exportação de produtos agrícolas. E assim os nossos países irmãos, como o próprio Brasil, sem exceção, têm produzido bens primários. E, para conseguir importar bens de outros setores, têm recorrido a empréstimos de fundos internacionais que não permitem o seu desenvolvimento de fato. Praticamente inexiste, nesses países, o investimento na escolarização da sua população. Ou seja, há escassez de mão-de-obra qualificada.

Mesmo assim, apesar das adversidades históricas, de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), 10 mil doutores foram formados em 2006. Entretanto, boa parte deles poderá ficar desempregada. Vejamos parte de reportagem de janeiro de 2007 do Jornal da Ciência: “O Brasil tem mais doutores, mas não há empregos. No ensino superior, doutor é o que menos tem vaga no quadro docente. No momento em que a Capes anuncia que o Brasil atingiu a meta de formar 10 mil doutores ao ano em 2006, muitos titulados buscam espaço no mercado. Especialistas afirmam que nossa produção científica (1,8% do total mundial) precisaria dobrar para alcançar a média de países como Canadá e Itália, que, em 2005, detinham, respectivamente, 4,8% e 4,4%, segundo a Fapesp (no topo, os Estados Unidos, com 32%).

Infelizmente, sabemos que essa cruel realidade para os vencedores que conseguem obter o título de doutor no Brasil é apoiada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB 9394/96), que explicita no seu artigo 52 a não exigência da presença de doutores trabalhando em cursos de graduação certificados pelo Ministério da Educação. As instituições superiores podem optar por mestres ou doutores. Estes são preteridos tendo em vista os menores valores de hora-aula pagos aos menos graduados.

Nesse sentido, vejamos as afirmações feitas pelo professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp Roberto Romano, em entrevista concedida à Folha de S. Paulo em julho de 2003, acerca da reforma previdenciária pela qual passa o Brasil: “A expulsão de cérebros do País não se resume apenas à reforma da Previdência em si, mas é reforçada pelos ‘ataques’ do presidente Lula à universidade, ao criticar professores que se aposentam aos 55 anos de idade. Pessoas tratadas como criminosas no seu país de origem e que recebem um salário quase de fome, que são estimuladas a trocar o Brasil pelas universidades norte-americanas ou européias, formam um exército intelectual de reserva. E temos uma política de terra arrasada”.

Interessados nesse debate apresentam propostas para que essa fuga de cérebros não ocorra no Brasil. Nesse conjunto, podemos destacar a criação de mecanismos pelo governo de modo que empresas privadas financiem a pesquisa, cujos resultados beneficiarão diretamente as mesmas e ainda o aumento das verbas governamentais.

Apesar disso, observemos os seguintes dados, que podem ser obtidos facilmente em diversas páginas da internet sobre o assunto.

A bolsa anual de um pesquisador em nível de mestrado (com recursos da própria universidade ou privados), nos Estados Unidos, fica, em média, em torno de R$ 100 mil por ano (aproximadamente R$ 10 mil por mês), além de o aluno receber ainda uma quantia extra para cobrir os custos da anuidade do curso e, na maior parte dos casos, também do alojamento universitário. No Brasil, a bolsa anual de pesquisador no mesmo nível é de cerca de R$ 9.600 anuais, ou seja, R$ 800 por mês, sem nenhum outro benefício, sendo que, se esse mestrando estudar em alguma instituição particular de ensino, terá que pagar mensalidades do curso não inferiores a R$ 500. Numa matemática muito elementar, concluímos que: o que o mestrando brasileiro recebe no ano, o mestrando nos Estados Unidos recebe no mês, e o que o mestrando nos Estados Unidos ganha por mês não é salário da maior parte dos professores doutores – que ainda não estão desempregados – no Brasil.

Perguntamos: quais os motivos reais que farão com que os 7.672 estudantes brasileiros de graduação e de pós-graduação nos Estados Unidos voltem para o Brasil?

Segundo o pesquisador L. Marmora, os cérebros, quando se estabelecem como residentes nos países de recepção, fazem remessas de dinheiro para seus países de origem e ainda promovem parcerias entre as universidades dos países que os acolheram com as dos seus países de origem, contribuindo com a sociedade que, por meio do pagamento de impostos, os formou.

Do nosso ponto de vista, o pesquisador ou cientista que emigra não é aproveitado da melhor maneira pela sua sociedade de origem. Ou seja, há uma perda de capital. E assim, em conformidade com o sociólogo francês Pierre Bourdieu, os emigrantes levam para outros países um conjunto de habilidades, experiências, qualificações e relações sociais que constituirão um capital cultural e social que, ao contrário do capital material, se valoriza com o tempo.

Entretanto, neste quadro de miséria social, entendemos que não é apenas a falta de investimento que coloca em risco a produção de conhecimento no Brasil. Dentre vários motivos, como a proliferação de instituições de ensino superior que não se preocupam com qualidade de ensino e o sucateamento de diversas instituições públicas e privadas, destacamos que a estrutura, a organização e o modus operandi das próprias universidades públicas, no Brasil, preponderantemente, podem ser fatores que emperram o desenvolvimento pessoal e profissional de seus pesquisadores.

Leiamos trecho da reportagem de S. Bittencourt para a Folha de S. Paulo, de Heidelberg, de 30 de março de 2004, por ser inspirador na tentativa de discutirmos o clima socioafetivo da universidade brasileira: “Após 13 anos trabalhando como pesquisador na área de biologia molecular, o inglês Karl Gensberg, 41, pretende abandonar a carreira acadêmica no mês que vem, quando termina seu contrato temporário com a Universidade de Birmingham (Inglaterra), e adotar uma nova profissão: encanador. A razão? A possibilidade de ganhar até o dobro do que obtém como pesquisador, £ 23 mil por ano (cerca de R$ 130 mil). O caso de Gensberg foi explorado à exaustão no mês passado pela mídia britânica.”

Seria apenas a questão salarial que expulsou esse pesquisador da referida universidade inglesa? Teria Gensberg a mesma realização pessoal como pesquisador ou encanador?

A universidade, assim como a sociedade brasileira, revela uma estrutura social fraturada, reproduzindo institucionalmente um divisor social para o qual a detenção de mérito e a aquisição de conhecimentos se revelam insuficientes para anular determinados estigmas. Esse divisor separa a universidade em pelo menos dois grupos: a) os indivíduos incluídos socialmente e também integrados na universidade; e b) os indivíduos excluídos socialmente, que ingressaram na universidade, certamente em busca da inclusão social, via instituição escolar, e que são vítimas das artimanhas da exclusão institucional. Ou seja, apresentamos a possibilidade de que em muitas instituições de pesquisa ocorra um sistema de inclusão perversa, em que algumas unidades recebem mais verba para pesquisa do que outras e que, dentro das unidades, pessoas, independentemente do mérito de seus trabalhos, tenham mais condições para realizá-los.

Passamos a questionar qual ou quais as funções da universidade nos dias de hoje. Retomemos as palavras de Roberto Romano: “Contra as teses populistas, enfim, outro lado da perversidade burocratizante, precisamos definir, sem paradoxo algum: a função social da universidade é de ser universidade, deixando de constituir-se numa caixa de ressonância de interesses partidários, ideológicos, religiosos. Estes últimos perseguem seus fins, legítimos na instância devida. Nos campi, todos são bem-vindos, desde que não desejem reduzir o saber ao metro curto de seus alvos conjunturais”.

Acrescentamos que a universidade não deveria conceber os interesses de cunho absolutamente pessoal. Porém, sabemos que muitos dos protagonistas dessas instituições, longe de serem inventores, cérebros e descobridores, se tornam oportunistas, exploradores de vidas miseráveis, vaidosos e arrogantes. Os artifícios desse processo de particularizar o universal aparecem, na maior parte das vezes, como resultantes das contigüidades entre os procedimentos de ordem científica e os de ordem burocrática. E assim, do nosso ponto de vista, inúmeros pesquisadores e professores passam por uma carreira tão brutal de humilhação social e profissional no seio das universidades que, tendo em vista o estado emocional a que são reduzidos, conseguiriam apenas fazer colares de miçangas.

se modo, as razões apontadas impossibilitam a construção da identidade de pesquisador em muitos dos profissionais brasileiros nas universidades. Isso porque eles se sentem desvalorizados pelas políticas públicas e são rejeitados no âmbito das próprias instituições.

Muitos de nós, graduados e titulados, e mesmo aqueles estudantes brasileiros que estudam nos Estados Unidos, talvez fiquemos por aqui mesmo, na medida em que inúmeras oportunidades de trabalho menos qualificado estarão nos esperando no exterior e com elas todos os preconceitos pertinentes ao “ser brasileiro” – exemplo máximo encontrado na figura do jovem Jean Charles de Menezes, que foi morto a tiros no metrô pela polícia londrina ao ser confundido com um terrorista.

Em suma, talvez não precisemos nos preocupar com a fuga de cérebros brasileiros. Ela não ocorrerá em breve. Talvez ainda nos acomodemos covardemente à falta de verbas e à burocracia kafkiana existente em nossas universidades, que tem facilitado a metáfora também kafkiana, transformando-nos em insetos ou, como diria Henfil em seu Diário, em cucarachas.

Nilce da Silva é professora da Faculdade de Educação da USP e coordenadora do Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão

Amazônia não será prejudicada com o aquecimento, diz Ab´Sáber

16 de março de 2007 - Paulo Toledo Piza - Estadão Online

SÃO PAULO - A tese de que a floresta Amazônica e a Mata Atlântica sofrerão grandes mudanças com o aquecimento global é considerada "uma besteira" por uma das mais importantes autoridades da geografia brasileira: o professor Aziz Ab´Sáber, 83 anos.

Divulgado em fevereiro, o relatório das Nações Unidas sobre o aumento da temperatura mundial afirma que, entre outros desastres, a Amazônia se transformará em cerrado. Porém, segundo o geógrafo, os organizadores do relatório se esqueceram de um detalhe: as flutuações do nível do mar nos últimos milhares de anos.

Ab´Sáber, professor honoris causa pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirmou que entre 22 mil e 11 mil anos atrás, época da última era glacial, o mar desceu algumas dezenas de metros devido a um grande congelamento de águas marinhas nos pólos norte e sul.

Há cerca de 12 mil anos o planeta começou uma transição para climas mais quentes, fenômeno chamado "retropicalização". Com o tempo, segundo Ab´Sáber, o gelo concentrado nos pólos derreteu e o nível do mar subiu. "Entre 6 mil e 5 mil anos atrás, o calor ficou tal que o nível do mar esteve a 2,80, 3 metros mais alto", afirmou o geógrafo.

Nessa época, a corrente marítima quente sul-brasileira, que entra pelo nordeste e desce até a Região Sul, barrou as águas frias que vêm do pólo sul. "Essa corrente quente, capaz de aumentar a evaporação das águas costeiras, empurrou massas de ar úmidas para dentro do continente."

Optimum Climático

Segundo o geógrafo, esse período é tão importante que recebe um nome genérico: optimum climático. Ou seja: "Maior calor, nível do mar mais alto, mais capacidade de evaporação das águas costeiras e empurrão dessa umidade para dentro do continente", explica.

Antes do optimum climático, desde Santa Catarina até São Paulo se estendiam vegetações do tipo das araucárias. Após esse fenômeno, São Paulo sofreu uma retropicalização, transformando a vegetação local em Mata Atlântica. "Isso é a maior prova que o aumento do nível do mar estendeu as florestas. Essas florestas atlânticas receberão mais calor, mas também mais umidade do mar."

Ab´Sáber afirma, porém, que há grandes problemas relacionados a essa elevação de temperatura, e o que mais o preocupa é o aumento do nível do mar.

Litoral

O geógrafo aponta como exemplar o alerta dado no relatório das Nações Unidas sobre o perigo que as regiões litorâneas correm. Com o derretimento das geleiras, o nível do mar subirá e, com isso, "todas as regiões costeiras (como Santos, Rio e Recife) sofrerão um alagamento muito grande, e os estuários também."

Segundo Ab´Sáber, caso o aquecimento não seja revertido, as cidades costeiras terão de se adaptar urbanisticamente, tornando-se o que ele chama de "mini-Venezas" (em referência à cidade italiana flutuante). Outra saída seria a construção de muros "para separar o mar das regiões já urbanizadas, como existe na Holanda".

Amazônia

Ab´Sáber demonstra ceticismo nos dados do relatório relacionados à Amazônia, mas mostra-se preocupado com a atual situação na maior floresta do mundo. "Falam muito do fim da Amazônia pelo aquecimento, mas se esquecem de tudo aquilo que está acontecendo hoje em dia na Amazônia."

Para ele, o desflorestamento causado pelas madeireiras e pelos fazendeiros é muito mais grave e urgente do que a suposta desertificação da floresta. "Ouvi da boca de um fazendeiro: ´A terra é minha, e faço com ela o que quiser e quando quiser.´ Hoje ele desmata para a agropecuária, mas depois, se quiser, desmata mais da floresta para plantar soja ou cana-de-açúcar."

Ab´Sáber acredita que a destruição atual da floresta é preocupante e que o governo pouco faz para contê-la. "Só conheço dois Estados paralelos no Brasil: os morros do Rio e a Amazônia."