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16/03/2007

Amazônia não será prejudicada com o aquecimento, diz Ab´Sáber

16 de março de 2007 - Paulo Toledo Piza - Estadão Online

SÃO PAULO - A tese de que a floresta Amazônica e a Mata Atlântica sofrerão grandes mudanças com o aquecimento global é considerada "uma besteira" por uma das mais importantes autoridades da geografia brasileira: o professor Aziz Ab´Sáber, 83 anos.

Divulgado em fevereiro, o relatório das Nações Unidas sobre o aumento da temperatura mundial afirma que, entre outros desastres, a Amazônia se transformará em cerrado. Porém, segundo o geógrafo, os organizadores do relatório se esqueceram de um detalhe: as flutuações do nível do mar nos últimos milhares de anos.

Ab´Sáber, professor honoris causa pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirmou que entre 22 mil e 11 mil anos atrás, época da última era glacial, o mar desceu algumas dezenas de metros devido a um grande congelamento de águas marinhas nos pólos norte e sul.

Há cerca de 12 mil anos o planeta começou uma transição para climas mais quentes, fenômeno chamado "retropicalização". Com o tempo, segundo Ab´Sáber, o gelo concentrado nos pólos derreteu e o nível do mar subiu. "Entre 6 mil e 5 mil anos atrás, o calor ficou tal que o nível do mar esteve a 2,80, 3 metros mais alto", afirmou o geógrafo.

Nessa época, a corrente marítima quente sul-brasileira, que entra pelo nordeste e desce até a Região Sul, barrou as águas frias que vêm do pólo sul. "Essa corrente quente, capaz de aumentar a evaporação das águas costeiras, empurrou massas de ar úmidas para dentro do continente."

Optimum Climático

Segundo o geógrafo, esse período é tão importante que recebe um nome genérico: optimum climático. Ou seja: "Maior calor, nível do mar mais alto, mais capacidade de evaporação das águas costeiras e empurrão dessa umidade para dentro do continente", explica.

Antes do optimum climático, desde Santa Catarina até São Paulo se estendiam vegetações do tipo das araucárias. Após esse fenômeno, São Paulo sofreu uma retropicalização, transformando a vegetação local em Mata Atlântica. "Isso é a maior prova que o aumento do nível do mar estendeu as florestas. Essas florestas atlânticas receberão mais calor, mas também mais umidade do mar."

Ab´Sáber afirma, porém, que há grandes problemas relacionados a essa elevação de temperatura, e o que mais o preocupa é o aumento do nível do mar.

Litoral

O geógrafo aponta como exemplar o alerta dado no relatório das Nações Unidas sobre o perigo que as regiões litorâneas correm. Com o derretimento das geleiras, o nível do mar subirá e, com isso, "todas as regiões costeiras (como Santos, Rio e Recife) sofrerão um alagamento muito grande, e os estuários também."

Segundo Ab´Sáber, caso o aquecimento não seja revertido, as cidades costeiras terão de se adaptar urbanisticamente, tornando-se o que ele chama de "mini-Venezas" (em referência à cidade italiana flutuante). Outra saída seria a construção de muros "para separar o mar das regiões já urbanizadas, como existe na Holanda".

Amazônia

Ab´Sáber demonstra ceticismo nos dados do relatório relacionados à Amazônia, mas mostra-se preocupado com a atual situação na maior floresta do mundo. "Falam muito do fim da Amazônia pelo aquecimento, mas se esquecem de tudo aquilo que está acontecendo hoje em dia na Amazônia."

Para ele, o desflorestamento causado pelas madeireiras e pelos fazendeiros é muito mais grave e urgente do que a suposta desertificação da floresta. "Ouvi da boca de um fazendeiro: ´A terra é minha, e faço com ela o que quiser e quando quiser.´ Hoje ele desmata para a agropecuária, mas depois, se quiser, desmata mais da floresta para plantar soja ou cana-de-açúcar."

Ab´Sáber acredita que a destruição atual da floresta é preocupante e que o governo pouco faz para contê-la. "Só conheço dois Estados paralelos no Brasil: os morros do Rio e a Amazônia."