Intelectuais lançam manifesto de     apoio a Emir Sader
                Clarissa Oliveira - Estadão Online - 03 de novembro de 2006
        SÃO PAULO - Um grupo de intelectuais e acadêmicos     lançou um manifesto em apoio ao sociólogo e professor da     Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Emir Sader, segundo     apurou o Estado, contestando sua condenação em um processo por     injúria movido pelo presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen.     Sader, que em um artigo chamou Bornhausen de ´racista´, atacava uma     declaração feita pelo senador em referência ao Partido dos     Trabalhadores, quando eclodiu o escândalo do mensalão. Na época,     Bornhausen disse que, em função das denúncias, se veria ´livre dessa     raça por, pelo menos, 30 anos´.
        O manifesto foi idealizado por um grupo de     intelectuais integrado pela editora Ivana Jinkings. ´Esta decisão é     absurda e totalmente despropositada´, disse ela, acrescentando que     Sader recorrerá da decisão e deverá obter uma revisão de sua     sentença, que além de ordenar a prestação de serviços comunitários     pede também a perda do cargo de professor na Uerj . ´Não tenho a     menor dúvida de que isso não resiste a um recurso´, completou Ivana.
        No texto divulgado junto com o pedido de     assinaturas, os intelectuais afirmaram que a decisão judicial     ´transforma o agressor em vítima e o defensor dos agredidos em réu´.     ´Numa total inversão de valores, o que se quer com uma condenação     como essa é impedir o direito de livre expressão, numa ação que visa     a intimidar e criminalizar o pensamento crítico. É também uma ameaça     à autonomia universitária que assegura que essa instituição é um     espaço público de livre pensamento´, afirma o documento.
        Até o final da tarde de quarta-feira, segundo     Ivana, aproximadamente 3 mil pessoas já tinham assinado o manifesto.     Desde que a decisão da Justiça foi anunciada, nesta semana, o PT     também endossou a petição, ao postar uma cópia do texto em sua     página na Internet. No mesmo dia, a Central Única dos Trabalhadores     (CUT) também emitiu uma nota em apoio ao sociólogo. ´A sentença -     que, acreditamos, não passará em nova análise - é um atentado às     liberdades individuais e absolutamente injusta´, afirmou a entidade.
        No artigo que escreveu contra Bornhausen, Sader     chamou o senador pefelista sucessivamente de ´racista´, ´banqueiro´     e ´direitista´, afirmando se tratar também de uma ´das pessoas mais     repulsivas da burguesia brasileira´.
        Sader foi condenado pelo juiz Rodrigo César     Muller Valente, da 11ª Vara Criminal de São Paulo. Inicialmente, a     sentença determinava reclusão de um ano, mas a pena acabou sendo     alterada diante do fato de Sader ser réu primário.
            ------------------------------------------------------------------------------------
            Justiça condena Emir Sader por     injúria contra Bornhausen
    
            Fabiana Marchezi - Estadão Online - 01/11/2006
        SÃO PAULO - O sociólogo e cientista político Emir     Sader foi condenado, no último dia 24, à pena de um ano de detenção,     em regime inicial aberto, por crime de injúria contra o presidente     do Partido da Frente Liberal (PFL), senador Jorge Bornhausen, de     Santa Catarina. Da decisão, ainda cabe recurso.
        De acordo com a Justiça, em artigo publicado no     site da Agência Carta Maior, no dia 28 de agosto de 2005, Sader     classificou Bornhausen de uma série de adjetivos que levaram o     senador a impetrar uma queixa-crime contra o sociólogo.
        Segundo a decisão do juiz auxiliar da 22ª Vara     Criminal da Capital, Rodrigo César Muller Valente, "a injúria foi     largamente difundida, alcançando caráter difuso a número     indeterminável de pessoas".
        Como o réu é primário, sua pena será substituída     por prestação de serviços à comunidade. O juiz também determinou,     como efeito secundário da sentença, a perda do cargo de Emir Sader,     que é Coordenador de Políticas Públicas do Instituto de Filosofia e     Ciências Humanas do Departamento de Ciências Sociais da Universidade     do Rio de Janeiro (UERJ).
        O advogado de Sader, Marcelo Bettamio, afirmou     que recorrerá da decisão. Para ele, houve cerceamento do direito de     defesa durante o trâmite do processo, pois "o juiz não intimou as     testemunhas de defesa, cujo comparecimento ao Tribunal fora pedido     pelo defendente”, segundo informou o site Carta Maior.
            ------------------------------------------------------------------------------------
            Leia o artigo do Professor Emir     Sader
    
            Emir Sader - Carta Maior - 28/08/2005
    
    O ódio de classe     da burguesia brasileira
        "A gente vai se ver livre desta raça (sic), por,     pelo menos, 30 anos", disse o senador Jorge Bornhausen (PFL). Ele     merece processo por discriminação, embora no seu meio - de fascistas     e banqueiros - é usual referir-se ao povo dessa maneira - são     "negros", "pobres", "sujos", "brutos".  Emir Sader
        “A gente vai se ver livre desta raça (sic), por,     pelo menos, 30 anos” (Jorge Bornhausen, senador racista e banqueiro     do PFL)
        O senador Jorge Bornhausen é das pessoas mais     repulsivas da burguesia brasileira. Banqueiro, direitista, adepto     das ditaduras militares, do governo Collor, do governo FHC, do     governo Bush, revela agora todo o seu racismo e seu ódio ao povo     brasileiro com essa frase, que saiu do fundo da sua alma – recheada     de lucros bancários e ressentimentos.
        Repulsivo, não por ser loiro, proveniente de uma     região do Brasil em que setores das classes dominantes se consideram     de uma raça superior, mas por ser racista e odiar o povo brasileiro.     Ele toma o embate atual como um embate contra o povo – que ele     significativamente trata de “raça”.
        Ele merece processo por discriminação, embora no     seu meio – de fascistas e banqueiros – sabe-se que é usual     referir-se ao povo dessa maneira – são “negros”, “pobres”, “sujos”,     “brutos”, - em suma, desprezíveis para essa casa grande da política     brasileira que é a direita – pefelista e tucana -, que se lambuza     com a crise atual, quer derrotar a esquerda por 30 anos, sob o apodo     de “essa raça”.
        É com eles que anda a “elite paulista”,     ultra-sensível com o processo de sonegação contra a Daslu, mas que     certamente não dirigirá uma palavra de condenação a seu aliado     estratégico (da mesma forma que a grande mídia privada). São os     amigos de FHC e de seus convivas dos Jardins, aliados do que de mais     atrasado existe no Brasil, ferrenhamente unidos contra a esquerda e     o povo.
        Mas não se engane, senhor Bornhausen, banqueiro e     racista, muito antes do que sua mente suja imagina, a esquerda, o     movimento popular, o povo estarão nas ruas, lutarão de novo por uma     hegemonia democrática, anti-racista, popular, no Brasil. Muito antes     de sua desaparição definitiva da vida pública brasileira, banido     pelo opróbio, pela conivência com a miséria do país mais injusto do     mundo, enquanto seus bancos conseguem os mairores lucros     especulativos do mundo, sua gente será defintivametente derrotada e     colocada no lugar que merece – a famosa “lata de lixo da história”.
        Não, senhor Bornhausen, nosso ódio a pessoas     abjetas como a sua, não os deixará livre de novo para governar o     Brasil como sempre fizeram – roubando, explorando, assassinando     trabalhadores. O seu sistema, o sistema capitalista, se encarrega de     reproduzir cotidianamente os que se opõem a ele, pelo que representa     de opressão, de expoliação, de desemprego, de miséria, de     discriminação – em suma, de "Jorges Bornhausens".
        Saiba que o mesmo ódio que devota ao povo     brasileiro e à esquerda, a esquerda e o povo brasileiro devotam à     sua pessoa – mesquinha, desprezível, racista. Ele nos fortalece na     luta contra sua classe e seus lucros escorchantes e especulativos,     na luta por um mundo em que o que conte seja a dignidade e a     humanidade das pessoas e não a “raça” e a conta bancária. Obrigado     por realimentar no povo e na esquerda o ódio à burguesia.
        Emir Sader é professor da Universidade     do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Laboratório de     Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da     História".
        ------------------------------------------------------------------------------------