Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

04/11/2006

Intelectuais lançam manifesto de apoio a Emir Sader

Clarissa Oliveira - Estadão Online - 03 de novembro de 2006

SÃO PAULO - Um grupo de intelectuais e acadêmicos lançou um manifesto em apoio ao sociólogo e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Emir Sader, segundo apurou o Estado, contestando sua condenação em um processo por injúria movido pelo presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen. Sader, que em um artigo chamou Bornhausen de ´racista´, atacava uma declaração feita pelo senador em referência ao Partido dos Trabalhadores, quando eclodiu o escândalo do mensalão. Na época, Bornhausen disse que, em função das denúncias, se veria ´livre dessa raça por, pelo menos, 30 anos´.

O manifesto foi idealizado por um grupo de intelectuais integrado pela editora Ivana Jinkings. ´Esta decisão é absurda e totalmente despropositada´, disse ela, acrescentando que Sader recorrerá da decisão e deverá obter uma revisão de sua sentença, que além de ordenar a prestação de serviços comunitários pede também a perda do cargo de professor na Uerj . ´Não tenho a menor dúvida de que isso não resiste a um recurso´, completou Ivana.

No texto divulgado junto com o pedido de assinaturas, os intelectuais afirmaram que a decisão judicial ´transforma o agressor em vítima e o defensor dos agredidos em réu´. ´Numa total inversão de valores, o que se quer com uma condenação como essa é impedir o direito de livre expressão, numa ação que visa a intimidar e criminalizar o pensamento crítico. É também uma ameaça à autonomia universitária que assegura que essa instituição é um espaço público de livre pensamento´, afirma o documento.

Até o final da tarde de quarta-feira, segundo Ivana, aproximadamente 3 mil pessoas já tinham assinado o manifesto. Desde que a decisão da Justiça foi anunciada, nesta semana, o PT também endossou a petição, ao postar uma cópia do texto em sua página na Internet. No mesmo dia, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) também emitiu uma nota em apoio ao sociólogo. ´A sentença - que, acreditamos, não passará em nova análise - é um atentado às liberdades individuais e absolutamente injusta´, afirmou a entidade.

No artigo que escreveu contra Bornhausen, Sader chamou o senador pefelista sucessivamente de ´racista´, ´banqueiro´ e ´direitista´, afirmando se tratar também de uma ´das pessoas mais repulsivas da burguesia brasileira´.

Sader foi condenado pelo juiz Rodrigo César Muller Valente, da 11ª Vara Criminal de São Paulo. Inicialmente, a sentença determinava reclusão de um ano, mas a pena acabou sendo alterada diante do fato de Sader ser réu primário.

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Justiça condena Emir Sader por injúria contra Bornhausen

Fabiana Marchezi - Estadão Online - 01/11/2006

SÃO PAULO - O sociólogo e cientista político Emir Sader foi condenado, no último dia 24, à pena de um ano de detenção, em regime inicial aberto, por crime de injúria contra o presidente do Partido da Frente Liberal (PFL), senador Jorge Bornhausen, de Santa Catarina. Da decisão, ainda cabe recurso.

De acordo com a Justiça, em artigo publicado no site da Agência Carta Maior, no dia 28 de agosto de 2005, Sader classificou Bornhausen de uma série de adjetivos que levaram o senador a impetrar uma queixa-crime contra o sociólogo.

Segundo a decisão do juiz auxiliar da 22ª Vara Criminal da Capital, Rodrigo César Muller Valente, "a injúria foi largamente difundida, alcançando caráter difuso a número indeterminável de pessoas".

Como o réu é primário, sua pena será substituída por prestação de serviços à comunidade. O juiz também determinou, como efeito secundário da sentença, a perda do cargo de Emir Sader, que é Coordenador de Políticas Públicas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas do Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ).

O advogado de Sader, Marcelo Bettamio, afirmou que recorrerá da decisão. Para ele, houve cerceamento do direito de defesa durante o trâmite do processo, pois "o juiz não intimou as testemunhas de defesa, cujo comparecimento ao Tribunal fora pedido pelo defendente”, segundo informou o site Carta Maior.

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Leia o artigo do Professor Emir Sader

Emir Sader - Carta Maior - 28/08/2005

O ódio de classe da burguesia brasileira

"A gente vai se ver livre desta raça (sic), por, pelo menos, 30 anos", disse o senador Jorge Bornhausen (PFL). Ele merece processo por discriminação, embora no seu meio - de fascistas e banqueiros - é usual referir-se ao povo dessa maneira - são "negros", "pobres", "sujos", "brutos". Emir Sader

“A gente vai se ver livre desta raça (sic), por, pelo menos, 30 anos” (Jorge Bornhausen, senador racista e banqueiro do PFL)

O senador Jorge Bornhausen é das pessoas mais repulsivas da burguesia brasileira. Banqueiro, direitista, adepto das ditaduras militares, do governo Collor, do governo FHC, do governo Bush, revela agora todo o seu racismo e seu ódio ao povo brasileiro com essa frase, que saiu do fundo da sua alma – recheada de lucros bancários e ressentimentos.

Repulsivo, não por ser loiro, proveniente de uma região do Brasil em que setores das classes dominantes se consideram de uma raça superior, mas por ser racista e odiar o povo brasileiro. Ele toma o embate atual como um embate contra o povo – que ele significativamente trata de “raça”.

Ele merece processo por discriminação, embora no seu meio – de fascistas e banqueiros – sabe-se que é usual referir-se ao povo dessa maneira – são “negros”, “pobres”, “sujos”, “brutos”, - em suma, desprezíveis para essa casa grande da política brasileira que é a direita – pefelista e tucana -, que se lambuza com a crise atual, quer derrotar a esquerda por 30 anos, sob o apodo de “essa raça”.

É com eles que anda a “elite paulista”, ultra-sensível com o processo de sonegação contra a Daslu, mas que certamente não dirigirá uma palavra de condenação a seu aliado estratégico (da mesma forma que a grande mídia privada). São os amigos de FHC e de seus convivas dos Jardins, aliados do que de mais atrasado existe no Brasil, ferrenhamente unidos contra a esquerda e o povo.

Mas não se engane, senhor Bornhausen, banqueiro e racista, muito antes do que sua mente suja imagina, a esquerda, o movimento popular, o povo estarão nas ruas, lutarão de novo por uma hegemonia democrática, anti-racista, popular, no Brasil. Muito antes de sua desaparição definitiva da vida pública brasileira, banido pelo opróbio, pela conivência com a miséria do país mais injusto do mundo, enquanto seus bancos conseguem os mairores lucros especulativos do mundo, sua gente será defintivametente derrotada e colocada no lugar que merece – a famosa “lata de lixo da história”.

Não, senhor Bornhausen, nosso ódio a pessoas abjetas como a sua, não os deixará livre de novo para governar o Brasil como sempre fizeram – roubando, explorando, assassinando trabalhadores. O seu sistema, o sistema capitalista, se encarrega de reproduzir cotidianamente os que se opõem a ele, pelo que representa de opressão, de expoliação, de desemprego, de miséria, de discriminação – em suma, de "Jorges Bornhausens".

Saiba que o mesmo ódio que devota ao povo brasileiro e à esquerda, a esquerda e o povo brasileiro devotam à sua pessoa – mesquinha, desprezível, racista. Ele nos fortalece na luta contra sua classe e seus lucros escorchantes e especulativos, na luta por um mundo em que o que conte seja a dignidade e a humanidade das pessoas e não a “raça” e a conta bancária. Obrigado por realimentar no povo e na esquerda o ódio à burguesia.

Emir Sader é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".

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