Analisando os fatos da perspectiva do Judaísmo e do Cristianismo, observamos que há uma "andança danada" dos povos bíblicos. Andança de um país para outro. Logo no início Deus manda Abraão sair do meio de sua parentela e ir p/ outro lugar. Depois Jacó vai p/ o Egito onde José era governador. Moisés tira o Povo Hebreu do Egito e leva em direção a Terra prometida. Depois são levados p/ a Babilônia. Depois voltam da Babilônia.
No Cristianismo há o "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas". Há os cristãos saindo da região do Oriente Médio e se espalhando pela Europa e depois pela América.
Em alguns casos essas coisas aconteceram de forma compulsória. Foram levados em cativeiro. Em outros estavam fugindo de nações tirânicas, etc. E no último caso o compromisso/obrigação dos cristãos de ir por todo o mundo.
Em outras religiões também há essas viagens e andança. Contadas de forma diferente. Mas olhando de um nível alto, é a mesma coisa. Mudam nomes locais, pessoas, mas os fatos, os caminhos e os objetivos são os mesmos: chegar a um lugar de luz, verdade, justiça e paz. E essa busca está em todas as religiões.
Tudo isso evidencia a proximidade entre religião e globalização. As religiões buscam globalizar-se por sua própria natureza. Querem sair de um lugar de trevas e caminhar em direção a luz. Todos querem construir um mundo de luz, verdade, justiça e paz. E todos querem habitar nesse mundo, principalmente, na perspectiva religiosa.
Sem globalização, as fronteiras são levadas e caminhar de um país p/ o outro não é fácil e nem sempre permitido. Isso pode ser observado com clareza na época da Guerra Fria e hoje em nações como a China (o Dalai Lama teve que fugir por causa da invasão do Tibet), Irã, Coréia do Norte, etc. Países onde as religiões não são vistas com bons olhos e o governo quer controlá-las. Inclusive, dizem, não sei se é verdade, que p/ reencarnar na China, certos espíritos tem que permitir autorização ao governo comunistas.
Com a globalização, os religiosos e suas religiões poderão se movimentar de forma livre por todo o mundo. Certamente, estou falando de religiões que respeitam as diversidades, se adaptam às culturas e não usam a força e nem a violência para se imporem sobre os povos e populações.
Esse fato também mostra um outro ponto: não só de globalização, mas as religiões também necessitam de democracia e estado de direito. Países autoritários querem controlar as religiões, dominá-las ou extinguí-las, vê-as como elementos subversivos. Já nos países democráticos há o respeitos por todas as religiões e são protegidas pelo estado de direito.
Na verdade, não é uma proteção à religião, como instituição, mas sim uma proteção ao indivíduo e à consciência da pessoa, garantido a ele o direito de frequentar a religião que quiser, esteja onde estiver. Por isso as religiões podem estar em todos os lugares, para que as pessoas tenham a oportunidade de frequentá-las, sem nenhuma interferência de qualquer tipo. A liberdade do indivíduo, a consciência da pessoa, é protegida no estado democrático de direito.
Religião é uma instituição, uma coisa, são pessoas que dão vida às religiões, às coisas.
Sem pessoas essas instituições, essas coisas, perecem, desaparecem. Porém, havendo pessoas, essas coisas se movimentam, ganham vida, ganham um corpo, tornando-se, em alguns casos, quase pessoas imortais. Por isso temos religiões de milhares de anos, pois passaram de geração p/ geração.
Nesse sentido, eu já escrevi que: As instituições podem ser mudadas a qualquer tempo. Constituições são apenas papéis. Democracia é apenas um meio de ação. Nazismo, Comunismo, Fascismo, Totalitarismo são apenas, e tão somente, sistemas e regimes sem vida e sem vontade. São os homens que dão vidas às coisas. Homens maus transformam coisas sem vida em instrumentos do mal. Homens bons transformam coisas sem vida em avanços p/ a humanidade.
Certamente, estou excluindo aqui o fanatismo religioso, as tiranias e autoritarismos, pois nesses casos não há livre manifestação da consciência, as coisas sem vida se impõe sobre às consciências, causando violência e destruição, inibindo a manifestação das pessoas ou mantendo-as em silêncio pela violência e pelo medo.
Além disso, um mundo onde há radicais, fanaticos e terroristas, extremistas em geral, é um mundo difícil de ser globalizado, pois os caminhos de liberdade e de acesso livre, construídos p/ pessoas pacíficas, podem ser usados pelos extremistas p/ se movimentar e causar destruição. Uma pessoa maligna no meio de muitas pessoas pacíficas pode causar muita destruição. É o que vimos na Noruega.
Além disso, temos que mudar essa idéia de que religiões são o ópio do povo. É preciso tirar das religiões o componente de fanatismo, tirar o componente de que as religiões criam pessoas alienadas, indiferentes ao mundo e ao sofrimento social diante dos demais, criação de pessoas corruptas e indiferentes. Religião não serve p/ pregar indiferença diante do mal, esteja este mal na política, esteja na sociedade, esteja onde estiver. Religião serve p/ pregar e ensinar resistência diante do mal. Servem p/ ensinar luta e resistência contra as forças malignas.
Resistência que, como fez Gandhi, Luther King, ou faz o Dalai e Lama, não é armada, mas é pacífica. Resistência baseada na não-violência. Porque faz parte da natureza das religiões construir pessoas pacíficas. Religião não pode construir pessoas alienadas e indiferentes, pessoas dominadas ou fanáticas, não servem p/ construir radicais ou extremistas, mas sim pessoas pacíficas que resistem e lutam contra o mal.
Inclusive, as religiões podem ser colocadas ao lado do Direito como componente de pacificação social, de construção de uma sociedade tranquila, de luz, verdade, justiça e paz. Construção de uma sociedade livre.
Ver texto: http://www.leonildo.com/e-gov94.htm
Atualmente encontramos uma concentração muito maior de pessoas honestas, retas e justas entre religiosos e seguidores sérios de uma religião do que em quaisquer outro meio...