No texto abaixo, que escrevi em 02/01/2007, eu só corrigiria o ponto que fala do confronto entre narcotraficantes e as milícias. O confronto não foi, e nem está sendo, tão sangrento quanto eu esperava. Possivelmente, pelo fato das milícias serem formadas por policiais corruptos que já tinham relação direta com os bandidos ou já conheciam os bandidos. Porém, eu não descartaria a possibilidade das últimas matanças, ocorridas nas favelas do Rio, terem o dedão de policiais das milícias.
Portanto, se as autoridades públicas tivessem ouvido o meu alerta naquela época e agido rapidamente contra as milícias, a coisa não teria crescido tanto. Enfrentar narcotraficantes semi-analfabetos é uma coisa. Enfrentar paramilitares, treinados pelas forças armadas, é outra. Além disso, a maioria desses paramilitares são policiais do Rio. Logo, conhecem detalhadamente o sistema, sem contar que eles tem poder suficiente para sequestrar e ameaçar todas as autoridades públicas que podem desmontar esta organização ou colocá-los na prisão.
Certamente, o "agir" que aparece no parágrafo anterior não significa matar, mas sim prender e processar. Não há pena de morte no Brasil, seja para quem for.
Os grupos paramilitares no Rio de Janeiro
Os grupos paramilitares que estão se disseminando no Rio de Janeiro mostram, mais uma vez, a estupidez das políticas de repressão às drogas, ou seja, o surgimento desses grupos paramilitares é conseqüência direta da criminalização dos entorpecentes e do aparato militar, seja legal ou ilegal, que acompanham tais políticas.
Mais do que isso, esses grupos paramilitares estão se estruturando e construindo em cima das fraquezas das facções criminosas que dominavam as comunidades. Facções que se caracterizavam pela fragmentação e disputa de territórios. Além disso, os avanços dos paramilitares está catalisando a união das antigas facções criminosas e formando as condições necessárias para a explosão de uma guerra civil sem fim.
É válido observar ainda que, a partir da entrada dos paramilitares nessa história, podemos falar, sem nenhuma dúvida, que está ocorrendo uma "colombianização" do Brasil. A única coisa que está faltando nessa guerra civil é o discurso político contra o governo central.
Outro ponto que deve ser observado deriva do fato dos grupos paramilitares constituírem uma reorganização da criminalidade, ou seja, os narcotraficantes, pertencentes a facções fragmentadas e sem um comando centralizado, estão sendo expulsos e dando lugar aos grupos paramilitares estrategicamente organizados e com comando centralizado.
Apesar do discurso de proteção das comunidades, esses grupos não deixam de ser uma vertente da criminalidade, agora sim, organizada. O discurso social serve apenas para ganhar o apóio e a confiança das comunidades, legitimando a presença e posição desses elementos nesses locais.
O lado criminoso dos paramilitares evidencia-se na exploração de serviços clandestinos de TV a cabo, na cobrança de ágio na venda de gás e na cobrança compulsória de mensalidade dos moradores. Logo, esses grupos são constituem a mesma forma de opressão e de exploração das comunidades pobres e excluídas.
Certamente, mais dias ou menos dias, após expulsarem todos os narcotraficantes, os grupos paramilitares anunciarão o retorno do negócio das drogas, ou seja, colocarão na entrada das comunidades uma placa bem grande dizendo: "NARCOTRÁFICO SOB NOVA DIREÇÃO". Essa afirmação é uma conseqüência lógica da essência desses grupos que é a obtenção de lucros e dinheiro fácil. Certamente, não irão abandonar o narcotráfico, que é um negócio de milhões, pela exploração clandestina de TV a cabo.
Além desses grupos paramilitares não possuírem as fraquezas das organizações criminosas tradicionais, são constituídos por policiais, bombeiros, guarda-civis, menbros de serviços de inteligência, etc. Nesse contexto a questão que se impõe é a seguinte: quando esses paramilitares assumirem o negócio das drogas, virando narcotraficantes, e blindarem as comunidades, transformando-as em fortaleza, quem irá combatê-los ? Com que força ? Se o Estado não conseguiu derrotar narcotraficantes desorganizados e estúpidos, como poderá derrotar grupos paramilitares treinados pelo próprio Estado ?
Portanto, mais uma vez a única saída possível, capaz de conter e quebrar essa escalada de violência e morte, é a descriminalização das drogas, ou seja, temos que secar a fonte de recursos que financiam as armas, os atentados, as facções, os paramilitares e a violência.
Uma coisa é certa: os ataques no Rio de Janeiro estão sendo praticados pela criminalidade meio organizada. Contudo, quem está atacando: os narcotraficantes das favelas ou as milícias disfarçadas de narcotraficantes tentando legitimar as suas ações e as sua presença nas comunidades ?
O surgimento dessas milícias criam o ambiente adequado para a explosão de uma guerra civil sem fim. De um lado os paramilitares, de outro os narcotraficantes e no meio os moradores das comunidades. E o que está em jogo é o negócio da drogas. Os paramilitares estão cativando as comunidades para assumirem o lugar dos narcotraficantes e se instalarem definitivamente nesses locais. Depois de instalados e controlando os moradores, etc, reabrirão as bocas de fumo com uma placa bem grande na porta: "SOB NOVA DIREÇÃO".
Além disso, os ataques dos últimos dias tiveram outro grande efeito: desviaram as atenções que denunciavam as manipulações da GLOBO na política brasileira. As denúncias e matérias que descortinavam as tramóias e conspirações orquestradas nas redações da GLOBO foram substituídas por manchete de ônibus queimados, ataques a polícia, etc. Acontecimentos tão convenientes que eu chego a pensar que tem o dedo da GLOBO nos ataques. Será ?!!!
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