A pobreza é sofrimento. E sofrimento é contrário ao Reino dos Céus.
Existe uma ordem, na Igreja Católica, que tem a pobreza como fundamento. Porém, é uma ordem. E os membros dessa ordem fizeram uma escolha livre e espontânea. Ninguém deve interferir ou modificar isso. Se eles querem ser assim e fizeram tal escolha, logo, tem que ser respeitada.
Porém, outra coisa é usar a pregação de Jesus que diz: "Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." para justificar a existência de pobreza ou de desigualdades sociais.
Em uma sociedade com baixos índices de desigualdade social, onde todos são ricos, essa idéia não se aplica, pois não há pobres. Não há o sofrimento da pobreza.
Inclusive, em sociedades ricas, o ensinamento que diz: "Vá e distribua tudo o que possui para os pobres" também não se aplica, pois não há pobres. Logo, vai distribuir para quem ?
Além disso, é preciso considerar, paralelo a essa explicação, as ilustrações das parábolas bíblicas que falam em agricultores que possuem ou compram campos, que emprestam, que encontram tesouros, que comercializam pérolas. São figuras de pessoas abastadas que ilustram as parábolas bíblicas do Reino dos Céus.
Logo, se a pobreza fosse base do Reino dos Céus esse tipo de ilustração não seria utilizado.
A pobreza é sofrimento e isso tende a aproximar a pessoa de Deus, uma vez que a pessoa quer fugir dessa situação maligna e miserável. E busca em Deus a solução para esse problema material.
Porém, esse tipo de aproximação não justifica a manutenção de uma sociedade desigual, com acentuada pobreza, ou seja, não podem dizer que pelo fato de pobres buscarem mais a Deus que se manterá disseminará a pobreza.
A pobreza é sofrimento. É obra maligna. Não faz parte do Reino dos Céus.
Além disso, é preciso considerar que a pessoa pobre se aproxima de Deus a fim de encontrar solução para os problemas materiais. Não porque quer elevar-se espiritualmente, ou estejam espiritualmente em paz para buscar a Deus.
Mais do que a riqueza, a pobreza ocasiona um excesso de preocupações materiais. Ao invés da pessoa pensar em Deus e estar em paz consigo mesma, ela pensará na alimentação, como sustentar-se a si mesma e a sua família, onde arranjar emprego, etc.
Essas preocupações com a própria sobrevivência material desviam a visão de Deus, se sobrepõe à visão espiritual. O tempo que a pessoa dedicaria a Deus é gasta com preocupações de sobrevivência, com pensamentos materiais, com sofrimento espiritual.
E essa pessoa se torna presa fácil para forças malignas: criminalidade, bebidas, drogas, prostituição, etc.
Por isso, a pobreza não faz parte do Reino dos Céus, é contrária a vontade de Deus. É obra daqueles que batalham contra Deus. É obra maligna.
Basta observar que os objetivos do Reino dos céus é eliminar todas as formas de sofrimento, incluindo doenças, mortes e expulsar os demônios, inclusive os demônios que causam pobreza, miséria, violência e desgraça.
Entretanto, é preciso considerar a explicação bíblica. Por que Jesus falou que "É mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." ? A explicação está na indiferença, no mal ocasionado pela indiferença em uma sociedade desigual, onde os ricos não se interessam por resolver, de forma efetiva, o problema da pobreza.
A indiferença aparece no exemplo bíblico em: "reparte-o aos pobres" e "ficou muito triste, porque era muito rico", ou seja, o homem rico considerava mais importante as riquezas materiais do que resolver o problema da pobreza dos seus semelhantes. Além de não querer repartir o que possuía, também não fazia nada para resolver o problema. Era indiferente ao sofrimento oriundo desse mal social. Esse tipo de comportamento bloqueia o acesso dos ricos ao Reino dos Céus. Deus é justo e faz justiça.
Logo, nas sociedades desiguais, onde há poucos ricos e muitos pobres, onde a pobreza serve como elemento de dominação e controle, o ensinamento de Jesus que diz: "Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." se aplica de forma total.
Critica-se a indiferença e o mal ocasionado por ela. Não o fato de ter ou não riquezas. A indiferença diante do sofrimento alheio. O apego excessivo aos bens materiais em detrimentos dos semelhantes que estão próximo e padecem o mal da pobreza. É esse o fundamento do ensinamento de Jesus.
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O mal causado pela indiferença aparece em outros ensinamentos, tais como:
- Então devemos lutar contra os homens maus, mas há outro tipo de mal que devemos enfrentar com mais força. Esse mal é a indiferença dos homens bons.
- "A indiferença diante do mal" - Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar. (Poema do pastor luterano alemão, Martin Niemöller, da época do nazismo.)
- "Uma sociedade de banalidades e indiferença" - Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes. (Henry Thoreau)
- 19 Bilhões de dólares por ano acabariam com a fome no mundo. O mundo gasta 18 Bilhões de dólares por ano com maquiagem. 10 Bilhões de dólares anuais proveria água de qualidade p/ todos. O mundo gasta 15 Bilhões de dólares por ano em perfumes.
- “A pobreza não é algo natural, ela é criada pelo homem e pode ser superada pela ação dos seres humanos.” Nelson Mandela:
- Na base da mensagem do profeta de Israel está o domínio universal da justiça, da justiça social entre os homens e da justiça pública no convívio entre as nações. Todos, indivíduos ou povos, estão sempre submetidos ao juízo do eternamente Justo, Javé, o Protetor dos pobres, dos órfãos e das viúvas, nunca dos ricos e famosos. Por acostumar-e a ver nos males econômicos a raiz da decadência das nações, sucumbe-se facilmente à tentação de perceber os profetas vestidos de visionários da redenção da humanidade por intermédio de plataformas sociais. É uma linguagem sem dúvida sedutora, mas não se pode transformar Amós em precursor de Marx sem privar a mensagem profética de sua inalienável dimensão religiosa. (Hans Borger)
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Portanto, a luta contra a pobreza não constitui apenas ação governamental, tem que ser uma orientação de todos os níveis, material e espiritual. O que as igrejas fazem para acabar de forma definitiva com a pobreza, o que fazem contra o sofrimento oriundo da pobreza ? O que os ricos fazem para acabar de forma definitiva com esse mal ? O que as outras instituições fazem ? Fazem alguma coisa ou todos são indiferentes ? Será que a frase de Jesus terá que ser ampliada também para: Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que essa igreja/instituição/casa entrar no reino de Deus ? Igreja/instituição/casa no sentido de agrupamento de pessoas.
Outros textos sobre essa temática: Agricultura familiar integrada -- Agência da ONU para Alimentação -- Direitos sociais são Direitos Humanos -- Erradicação da fome e da desnutrição -- Alimentação como direito fundamental.
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A fome e os direitos humanos
Eu achei muito interessante a nova propaganda do governo brasileiro que relaciona a fome com os demais direitos humanos, mostrando que sem a garantia de alimentação os demais direitos não podem ser exercido...Essa propaganda deveria ser veiculada repetidamente em todos os canais de TV, pois ela mostra uma verdade fundamental, ou seja, existem direitos que são pilares para o exercício de outros direitos.
Inclusive, uma das estratégias do mercado globalitário é manter grande parcela das populações do mundo vivendo na subnutrição...
A única preocupação dessa parcela subnutrida é lutar pela própria sobrevivência, vendendo sua força de trabalho por migalhas... Migalhas que são suficiente apenas para manter a sobrevida... Gera força suficiente para o indivíduo continuar trabalhando, um dia após o outro, até sua morte...
As migalhas que recebe não permitem a acumulação da riqueza, não permitem a acumulação de conhecimentos e saberes, não permitem que o indivíduo escape dessa escravidão, ilumine a sua consciência, evolua...Inegavelmente, o mercado transformou uma grande parcela da população em um pilha, em uma fonte de energia para geração de riquezas... Você é uma pilha de quem ??? Para quem você vende a sua energia ???