Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

21/07/2009

A verdade e a fábula

Contam que a verdade era muito amiga do sultão Harun Al Rachid, o emir de todas as Arábias. Sabendo que o seu grande amigo estava sendo enganado por um dos seus ministros que se apropriava de bens e patrimônio do povo, deixando-o na miséria, a verdade resolveu visitar o emir e contar-lhe o que estava acontecendo. Foi ao palácio e disse àqueles que vigiavam a sua porta principal que desejava uma entrevista com o grande sultão.

A mensagem foi passada de um para outro homem até chegar aos ouvidos do ministro. Ele perguntou ao que lhe trazia a solicitação quem desejava falar com o sultão Harun Al Rachid e o mensageiro lhe disse: “É a verdade.”

O ministro, ao ouvir o nome da verdade, estremeceu e proclamou: “Se ela falar com o sultão, eu e todos nós seremos presos e mortos. Devemos impedi-la.”

“Como é que ela se apresenta?” E o mensageiro lhe respondeu: “É uma mulher de rara beleza, mas completamente nua.” “Nua?”, disse o ministro. “Uma mulher assim não pode falar com o sultão, diga-lhe que é impossível, pois ela não tem roupas.”

Quando a verdade ouviu a resposta do ministro, ficou muito aborrecida e retornou à sua morada onde ficou pensando como fazer para falar com seu amigo e teve uma idéia.

No dia seguinte, outra vez foi ao palácio e pediu uma entrevista. O ministro perguntou de quem se tratava e o mensageiro lhe disse: “É a realidade.” “A realidade?”, espantou-se o ministro, ”ela não pode entrevistar o sultão, também seremos presos e mortos, devemos impedi-la. Como é que ela se apresenta?”

E o soldado lhe disse: ”Tem os cabelos desgrenhados e sujos, as roupas rasgadas e fedorentas.” “Diga-lhe, então, que uma mulher suja e mal-vestida não pode falar com o emir.” A verdade, aborrecida, retornou ao oásis onde morava e pensou.

E no dia seguinte voltou e pediu de novo uma entrevista com o sultão. O ministro perguntou de quem se tratava e lhe disseram que era a fábula. “Como ela se apresenta?” E os soldados lhe disseram: “Chegou antecedida de arautos que tocavam anunciando a sua vinda. Chegou numa carruagem de ouro e de pedras preciosas e quando se deteve, alguns escravos depuseram ao chão verdadeiras riquezas, arcas que foram abertas e em cuja intimidade se encontravam pedras preciosas e muitas moedas de ouro. E ela anunciou: ‘Trago presentes para o sultão.’”

‘Uma mulher tão rica, tão bem vestida como uma rainha, certamente tem muito a nos oferecer”, pensava o ministro, pensando também em um novo patrimônio que desviaria para si. Autorizou a entrada da fábula no palácio e na câmara real permitiu-lhe encontrar-se o grande sultão.

Considerando que ela não era perigosa, o ministro despachou seus guardas e ficou a sós com o monarca. E então a fábula, diante do sultão Harun Al Rachid, rasgou as suas roupas e apresentou-se nua como era, a verdade.

O sultão, vendo-a, lhe disse: “Verdade? Você aqui? O que desejas?” E ela lhe contou o que estava acontecendo. O ministro foi preso e o povo voltou outra vez a ser feliz.

A verdade, muitas vezes, não pode ser ministrada aos homens como ela é. Por isso ela se disfarça ou é disfarçada como a realidade ou, principalmente, quando o ser humano é muito jovem, como a fábula.

Quando contamos histórias, aparentemente simples, as pessoas escutam de boa vontade e deixam que as notícias lhe penetrem o mundo interior. Lá dentro, com o passar do tempo, a fábula se transforma em verdade e o homem se esclarece.