Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

24/05/2009

O que falta ???
Se essa gente ora/reza tanto por que não são iluminadas, por que a mão de Deus não os direciona ??? O que falta ???

Sobram palavras, mas falta fé. Repetem coisas decoradas sem compreender o significado.

E os pregadores ??? Pregam coisas nas quais não acreditam. São lobos vestidos de cordeiros para andar no meio das ovelhas e atacá-las sem serem percebidos. Lobos vestidos de cordeiros no meio das ovelhas, trabalhando para enganá-las, desencaminhá-las, derrubá-las, destruí-las... E toda a destruição é feita com doçura, pacificamente, sem resistências as ovelhas seguem para o matadouro...

Sermão da Sexagésima
Padre Antonio Vieira
No pregador deve-se considerar a pessoa, a ciência, a matéria, o estilo, a voz.

A pessoa: uma coisa é o semeador, outra o que semeia; uma coisa é o pregador outra o que prega. As ações é que dão ser ao pregador: Hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. De nada vale a funda de Davi sem as pedras.

Até o Filho de Deus, enquanto Deus, não é obra de Deus, é palavra de Deus. No céu Deus é necessariamente amado porque é Deus visto, o que não acontece na terra onde é apenas Deus ouvido. Os sermões fazem pouco efeito porque não são pregados aos olhos mas aos ouvidos. Seguir o exemplo do Batista. Os ouvintes e as ovelhas de Jacó. Contra esse argumento lá o exemplo do profeta Jonas.

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Mas como em um pregador há tantas qualidades e em uma pregação há tantas leis, e os pregadores podem ser culpados em todas, em qual consistirá esta culpa? No pregador pode-se considerar cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a matéria, o estilo, a voz. A pessoa que é, a ciência que tem, a matéria que trata, o estilo que segue, a voz com que fala. Todas estas circunstâncias temos no Evangelho. Vamos examinando uma por uma, e buscando estas cousas.

Será porventura o não fazer fruto hoje a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será porque antigamente os pregadores eram santos, eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu e outros como eu? Boa razão é esta.

A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia: Ecce exiit qai seminat semiitare. Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma coisa é o soldado, e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador, e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador, e outra o que semeia: uma coisa é o pregador, e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome, o que semeia e o que prega é ação, e as ações são as que dão o ser ao pregador.

Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? E o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente convertia-se o mundo; hoje por que se não converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos; antigamente pregavam-se palavras e obras.

Palavras sem obras são tiro sem bala: atroam mas não ferem. A funda de Davi derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo senão com a pedra: infixus est lapis in fronte ejus. As vozes da harpa de Davi lançavam fora os demônios do corpo de Soul, mas não eram vozes pronunciadas com a boca, eram vozes formadas com a mão: David tollebat citharam, et percutiebat manu sua. Por isso Cristo comparou o pregador ao semeador. O pregar, que é falar, faz-se com a boca: o pregar, que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras: para falar ao coração, são necessárias obras.

Diz o Evangelho que a palavra de Deus multiplicou cento por um. Que quer isso dizer? Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? Não. Quer dizer que de poucas palavras nasceram muitas obras. Pois palavras que frutificam obras, vede, se podem ser só palavras? Quis Deus converter o mundo, e que fez? Mandou ao mundo seu Filho feito homem. Notai. O Filho de Deus, enquanto Deus, é palavra de Deus, não é obra de Deus: Gertitum, nonfactum. O Filho de Deus enquanto Deus e Homem, é palavra de Deus e obra de Deus juntamente: Verbum caro factum est De maneira que até de sua palavra desacompanhada de obras, não fiou Deus a conversão dos homens.

Na união da palavra de Deus com a maior obra de Deus consistiu a eficácia da salvação do mundo. Verbo divino é palavra divina, mas importa pouco que as nossas palavras sejam divinas, se forem desacompanhadas de obras. A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos. No céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra há tão poucos que o amem; todos o ofendem. Deus não é o mesmo, e tão digno de ser amado no céu como na terra? Pois como no céu obriga e necessita a todos ao amarem, e na terra não?

A razão é porque Deus no céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido. No céu entra o conhecimento de Deus à alma pelos olhos: Videbimus eum sicut est na terra entra-lhe o conhecimento de Deus pelos ouvidos: Fides ex ouditu. E o que entra pelos ouvidos, crê-se, o que entra pelos olhos, necessita. Viram os ouvintes em nós o que nos ouvem a nós, e o abalo e os efeitos do sermão seriam muito outros.

Vai um pregador pregando a Paixão, chega ao pretório de Pilatos, conta como a Cristo o fizeram rei de zombaria, diz que tomaram uma púrpura e lha puseram aos ombros; ouve aquilo o auditório muito atento. Diz que teceram uma coroa de espinhos, e que lha pregaram na cabeça; ouvem todos com a mesma atenção. Diz mais que lhe ataram as mãos e lhe meteram nela uma cana por cetro; continua o mesmo silêncio e a mesma suspensão nos ouvintes. Corre-se neste passo uma cortina, aparece a imagem do Ecce homo: eis todos prostrados por terra, eis todos a bater nos peitos, eis as lágrimas, eis os gritos, eis os alaridos, eis as bofetadas. Que é isto? Que apareceu de novo nesta igreja?

Tudo o que descobriu aquela cortina tinha já dito o pregador. Já tinha dito daquela púrpura, já tinha dito daquela coroa e daqueles espinhos, já tinha dito daquele cetro e daquela cana. Pois se isto então não fez abalo nenhum, como faz agora tanto? Porque então era Ecce homo ouvido, e agora é Ecce homo visto; a relação do pregador entrava pelos ouvidos, a representação daquela figura entra pelos olhos. Sabem, padres pregadores, porque fazem pouco abalo os nossos sermões? Porque não pregamos aos olhos, pregamos só aos ouvidos. Porque convertia o Batista tantos pecadores?

Porque assim como as suas palavras pregavam aos ouvidos, o seu exemplo pregava aos olhos. As palavras do Batista pregavam penitência: Agite poenitentiam: Homens fazei penitência (Mt. 3,2) e o exemplo clamava: Ecce homo: eis aqui está o homem que é o retrato da penitência e da aspereza. As palavras do Batista pregavam jejum e repreendiam os regalos e demasias da gula, e o exemplo clamava: Ecce homo: eis aqui está o homem que se sustenta de gafanhotos e mel silvestre. As palavras do Batista pregavam composição e modéstia, e condenavam a soberba e a vaidade das galas, e o exemplo clamava: Ecce homo: eis aqui está o homem vestido de peles de camelo, com as cerdas e cilicio à raiz da carne. As palavras do Batista pregavam despegos e retiros do mundo, e fugir das ocasiões e dos homens, e o exemplo clamava: Ecce homo: eis aqui o homem que deixou as cortes e as cidades, e vive num deserto e numa cova. Se os ouvintes ouvem uma coisa e vêem outra, como se hão de converter?

Jacó punha as varas manchadas diante das ovelhas quando concebiam, e daqui procedia que os cordeiros nasciam manchados. Se quando os ouvintes percebem os nossos conceitos, têm diante dos olhos as nossas manchas, como hão de conceber virtudes? Se a minha vida é apologia contra a minha doutrina, se as minhas palavras vão já refutadas nas minhas obras, se uma coisa é o semeador e outra o que semeia, como se há de fazer fruto?

Muito boa e muito forte razão era esta de não fazer fruto a palavra de Deus, mas tem contra si o exemplo e experiência de Jonas (Jon. 1,2-4). Jonas, fugitivo de Deus, desobediente, contumaz, e ainda depois de engolido e vomitado, iracundo, impaciente, pouco caritativo, pouco misericordioso, e mais zeloso e amigo da própria estimação que da honra de Deus e salvação das almas, desejoso de ver sovertida a Nínive, e de a ver soverter com seus olhos, havendo nela tantos mil inocentes. Contudo, este mesmo homem com um sermão converteu o maior rei, a maior corte e o maior, reino do mundo, e não de homens fiéis, senão de gentes idólatras. Outra é logo a cousa que buscamos. Qual será?