O Deus de Abrão pouca semelhança tem com os modelos politeístas contemporâneos. Não foi criado, não nasceu nem morre, não tem colegas nem rivais, ascendência ou descendência, não tem corpo, sexo ou origem, não exige templos ou sacerdotes. E abomina o rito pagão do sacrifício de vidas humanas, o qual é abolido a partir da não-consumada imolação de Isaac - o filho que Abrão tem com sua esposa, Sarai - no grandioso cenário da Akedah.
Os encontros e os colóquios dos patriarcas com seu Deus possuem uma qualidade nova, que é transmitida de geração em geração: a convivência, o diálogo, a intimidade - se assim se pode dizer - com esse Deus dos Pais, Deus que não só se revela aos fiéis como - também isto é novo - busca os homens, vai atrás deles, cuida do destino humano, sem intermediários profissionais.
Entre outros povos da Antiguidade - Egito, Suméria, Assíria - teria havido espaço para um processo mitológico, Abrão tornando-se ele próprio a divindade de um novo culto. Mas aqui, no Gênesis, não nasce o deus abrão, mas o Deus de Abrahão.
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Em decorrência do Pacto, e como que simbolizando as mudanças com que ele impregnou suas personalidades, o nome de Abrão passa a ser Abrahão e o de Sarai, Sarah. (...)