Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

17/02/2008

Quem cria o totalitarismo ?
O totalitarismo é o resultado de uma série de eventos sociais. Porém, todos estes eventos estão ligados com a dominação, opressão, exclusão e exploração. Por isso, eu considero que o totalitarismo é exacerbação de tudo isto. Se a dominação antes estava na escala dez, no ambiente totalitário chega na escala 1000. A dominação se torna dominação completa. A opressão se torna opressão total. A exclusão é exclusão mesmo (pega o indivíduo queima em um forno, etc). E a exploração é a exploração máxima.

Tudo isto é gestado e criado de gota em gota, de ato em ato, desemprego em desemprego, dia após dia. Ninguém olha para as conseqüências da pobreza, da miséria, das violações de direito, das injustiças. São apenas, dizem todos, borboletas batendo suas asinhas, qual é o dano que uma pequena borboleta pode causar ? Um físico responderia: uma borboleta que bate as asas no Japão, pode causar um furacão no Caribe.

Eu pegaria isto e diria, pequenas borboletas de dominação, opressão, exclusão e exploração batendo suas asinhas hoje, pode gerar o totalitarismo nas décadas futuras. O efeito em cadeia é dado e transmitido pelo ódio social. Um ódio que contamina a sociedade, passando de pessoa para pessoa. Este ódio acumulado na cadeia ao longo do tempo explode em um sistema totalitário. O ódio social é a energia do totalitarismo.

Isto é teoria de sistema. É Teoria do Caos. Inegavelmente, o totalitarismo tem relação com o caos. Ele pretende destruir um mundo e construir outro sobre as cinzas. Um novo mundo no qual a sociedade é parecida com uma sociedade de formiga. E os homens são homens-formiga. Cada um faz exatamente o que tem de fazer, sem mudar as regras, sem criatividade, sem individualidade. Todas formigas arianas.

O ódio social está dentro da consciência totalitária. Ele pode ser fixado na consciência totalitária como um dogma, por exemplo, o anti-semitismo, anti-capitalismo, comunismo, etc. Inclusive o vazio de pensamento fixa o dogma com muito mais facilidade quando ele está diretamente ligado com uma emoção, com o ódio por alguém ou por alguma coisa. A mídia e propaganda, contando histórias mentirosas, podem potencializar infinitamente este ódio.

Uma dominação hoje, duas amanhã, dez no ano que vem e, de repente, dominação total... O mal vai entrando aos poucos, se tornando corriqueiro e comum e cada vez mais superficial em nosso pensamento. De tanto ver o mal, de tanto vê-lo todos os dias, chega uma hora que estamos completamente anestesiados. Olhamos para o mal, mas não o vemos. Praticamos o mal e não percebemos. Não refletimos sobre aquela ação, as conseqüências daquela ação. Nesta hora podemos falar em banalidade do mal. O mal se tornou banal em nossas vidas...

Não necessariamente esta dominação é feita por antigos dominadores, opressores e exploradores. Os antigos podem ser suplantados pelos dominados, oprimidos e explorados. Logo, a dominação total é feita por estes últimos e os antigos são perseguidos, capturados e exterminados.

Assim, uma das razões da exacerbação, seria o fato da ação dos líderes totalitários ser, não apenas a materialização dos dogmas que pregavam, mas sobretudo, uma vingança do ódio social acumulado. Vingança contra aqueles que são objeto desse ódio...

De acordo com Nerone, na obra "Hannah Arendt e o declínio da esfera pública":

"O totalitarismo, ponto de partida para o pensamento de Hannah Arendt em busca do sentido da política, é por ela conceituado como um fenômeno distinto das tiranias antigas e das ditaduras, posto que almeja impor o domínio total sobre a sociedade e cuja ideologia pretende, numa segunda etapa, açambarcar toda a população mundial.

Mediante a hipertrofia da política, "na qual toda a vida humana foi politizada por completo", e a destruição da esfera pública mediante o fim da liberdade, o governo totalitário objetiva controlar todas as dimensões da vida das pessoas através do terror. Para tanto, os movimentos totalitários tentaram abolir a separação entre as esferas públicas e privadas, e eliminar a própria essência da política: a liberdade.


Para Arendt, o totalitarismo, nas suas formas stalinistas e nazistas, foi conseqüência da conjugação dos seguintes fatores: por um lado, o surgimento da sociedade de massas, a dissolução de classes sociais e a atomização dos indivíduos sob a Revolução Industrial; por outro, a crise socioeconômica e do sistema partidário decorrente da Primeira Grande Guerra. (...) (p. 87)

Essas massas, desesperançadas pelo advento das altas taxas de infração e desemprego que se seguiram ao fim da Primeira Guerra, tenderam para o nacionalismo especialmente violento e foram arregimentadas e organizadas pelos movimentos totalitários, que delas exigem lealdade total e irrestrita, base psicológica do domínio total e subjugação internalizada.

O movimento totalitário aproveitou-se do ódio popular com relação aos partidos políticos para destruir esse sistema de representação. No entender de Hannah Arendt, tais episódios comprovariam que as liberdades democráticas necessitam de alguma forma de organização institucionalizada ou de hierarquia social e política para que possam funcionar adequadamente, afirmação que se coaduna com sua concepção de que a política é fruto da ação coletiva e que exige um espaço organizado para que a liberdade possa ser exercida, a esfera pública.

A atomização dos indivíduos sob o sistema produtivo industrial, acirrado pelo individualismo politicamente apático da sociedade de consumo, esta pautada pela concorrência interpessoal, teria reduzido a conexão dos indivíduos com seus semelhantes e eliminado a solidariedade comunitária. O individualismo da ideologia liberal, para quem a mera soma dos interesses individuais constitui o milagre do bem comum, incitava uma indiferença, e até mesmo uma hostilidade com relação à participação nas atividades da esfera pública, considerada como perda de tempo e energia; sob o totalitarismo, nada foi tão fácil de destruir quanto a privacidade e a moralidade pessoal de homens que só pensavam em salvaguardar suas vidas privadas. (p.88)

O domínio totalitário teria se instaurado mediante três etapas: a destruição dos direitos civis (a morte da sua pessoa jurídica), a destruição da pessoa moral do homem (corrupção da solidariedade) e por fim a destruição da individualidade (singulariedade e espontaneidade humana). O isolamento dos indivíduos atomizados teria sido a base para o domínio totalitário, concebido exclusivamente como força, que objetivou a abolição da liberdade e até mesmo a eliminação de toda espontaneidade humana em todos os aspectos da vida.

Para Hannah Arendt, a destruição do mundo comum e o isolamento dos indivíduos no âmbito de uma esfera privada controlada são as precondições para a instalação do governo totalitário, pois anulariam a capacidade de iniciativa de novas ações políticas. (p.89)"

Enfim, vou refletir mais sobre tudo isto...