Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

24/10/2007

A educação que liberta e a mão que escraviza

O título deriva do artigo "A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza" publicado no Le Monde Diplomatique:
http://diplo.uol.com.br/2007-10,a1968

A educação pode ser um instrumento de dominação e controle, uma forma de perpetuação de um grupo dominante no poder, um mecanismo de escravidão da coletividade. Assim como todas as coisas, a educação pode ser usada para o bem ou para o mal. Pode ser uma educação que liberta ou uma educação que escraviza. O grande problema é saber quando estamos diante de uma ou diante de outra, pois o principal truque dos grupos dominantes, que usam a educação como instrumento de poder, é esconder nas instituições fundamentais da sociedade mecanismos de dominação, controle e perpetuação do status quo. Isso se aplica a todas as instituições: Direito, Democracia, Judiciário, Legislativo, Universidades Públicas, religião, etc...

Neste texto vou tratar da educação que liberta e da mão que escraviza, ou seja, da mão que usa a educação para escravizar e da educação que tem poder para decepar a mão que escraviza... Parece meio enrolado o negócio, mas você vai entender...

O que você precisa compreender é que nós estamos imersos em um mundo de desigualdades, pobreza e miséria. Nesse mundo de desigualdade, probreza e miséria existem grupos dominantes poderosos que enriquecem dia após dia. De um lado você tem a maioria da população na pobreza e na miséria. De outro lado você tem grupos dominantes e indivíduos super-ricos. Não há riqueza na pobreza e na miséria, contudo a pobreza e a miséria podem gerar grandes riquezas...Os grupos dominantes atuais sabem e usam isto com grande maestria. Os grupos dominantes atuais usam a pobreza e a miséria da maioria da população como sua principal fonte de riqueza.

Mas quem são os grupos dominantes atuais ? Quem é a tal classe dominante ?

Hoje no Brasil, com dados do IBGE de 1996:

Elite -- Profissionais pós-graduados, empresários e altos administradores. -- 4,9%

Classe média alta -- Pequenos proprietários, técnicos com especialização e gerentes de grande empresa. -- 7,4%

Classe média média -- Pequenos fazendeiros, auxiliares de escritório -- e profissionais com pouca especialização. -- 13,3%

Classe média baixa -- Motoristas, pedreiros, pintores, auxiliares de serviços gerais, mecânicos, etc. -- 26,9%

Pobres -- Vigias, serventes de pedreiros, ambulantes e outros trabalhadores sem qualificação. -- 23,4%

Muito pobres -- Trabalhadores rurais, bóias-frias, pescadores, peões de fazendas, catadores urbanos,etc. -- 24%

Esses dados estão descritos em um estudo disponível em:
http://www.ai.com.br/pessoal/indices/CLASSES.HTM

Mas como eles operam isto ? Como conseguem gerar riqueza usando a pobreza e a miséria da maioria da população ? A resposta é simples: mão-de-obra barata. E aqui entra uma idéia interessante que aparece no filme Matrix. No filme Matrix as pessoas eram cultivadas para gerar energia. Ficavam inerte dentro de um recipiente gerando energia para as máquinas. No mundo atual as pessoas também são cultivadas para gerar energia. E sua energia é usada, nas fábricas, indústrias e comércio, para produzir produtos e serviços que são vendidos no mercado. A energia vira produto e serviços. Ao menos no filme Matrix a pessoa não precisava fazer nada, ficava inerte gerando energia. Na atualidade a pessoa tem que se virar, tem que encontrar um local, um emprego, que aceite a sua energia e lhe paque uns trocados em troca. A realidade é bem mais perversa e sangrenta do que o filme Matrix.

A riqueza é gerada pela energia dos pobres e miseráveis que trabalham muito para ganhar pouco ou quase nada. O lucro daquilo que eles produzem é embolsado pelos grupos dominantes e pelos super-ricos.

Neste contexto entra em cena um outro ponto fundamental. O excedente de produção tem que ser vendido para pessoas que tenham renda. Um país de pobres e miseráveis tem pouca renda disponível para aquisição, logo, devem buscar outros mercados. Aqui entra o comércio internacional como um elemento que faz a cadeia de exclusão e exploração continuar girando e gerando riquezas. Sem o comércio internacional o sistema quebraria, pois sem consumidores não há produção. E só há consumidores onde há renda. Um país com um grande número de pobres e miseráveis tem pouca renda e poucos consumidores. Pobre não compra TV de plasma, geladeira com internet, carro da moda, etc.

Olhe para a construção civil. Quem mais trabalha e quem realmente constrói os prédios são os pedreiros e os serventes de pedreiro. Porém, quem realmente lucra e ganha com essas construções são as grandes construtoras e os investidores. Olhe para a indústria canavieira. Quem mais trabalha e quem movimenta as usinas são os trabalhadores rurais, cortadores de cana, bóia-frias. Porém, quem realmente lucra e ganha com a cana são os usineiros. Olhe para a indústria de suco de laranja, fábrica de automóveis, indústria têxtil, etc. Olhe para o comércio. Quem trabalha realmente ganha muito pouco. Quem mais lucra com o comércio são os comerciantes capitalistas.

O salário que esses trabalhadores ganham não dá para nada. Não lhes permite escapar da escravidão e crescer na vida. Estes indivíduos estão presos dentro da exclusão e da exploração e não conseguem se libertar, pois o sistema os mantém cativos. São pobres e miseráveis e continuarão a ser pobres e miseráveis, apesar do emprego que possuem... São pilhas que produzem energia para o sistema. Energia que vira produtos e serviços que serão vendidos no mercado internacional. Quem mora na favela e ganha um salário mínimo não possui nenhuma chance de sair da favela...Quem mora no campo e ganha um salário mínimo não possui nenhuma chance de escapar do circulo de pobreza e miséria...

Além disso, o sistema não tem interesse em acabar, ou reduzir ao mínimo, as desigualdades, a pobreza e a miséria, pois se isso for feito não haverá mais mão-de-obra barata e nem reserva de escravos para movimentar as indústrias. Os grupos dominantes ganham, e muito, com as desigualdades, com a pobreza e com a miséria. Basta ver que são grupos dominantes que se enriquecem cada vez mais, mesmo estando inserido em um mundo de desigualdades, pobreza e miséria.

Quem opera este sistema perverso ? A resposta aparece na tabela dos grupos dominantes. Quem ganha com as desigualdades, com a pobreza e com a miséria no Brasil é a elite e a classe média alta. São estes indivíduos os inimigos da coletividade e do Povo Brasileiro. Eles é que alimentam e perpetuam esse sistema de exclusão e exploração. Eles é que impedem a implantação de políticas públicas que ocasionem transformação social relevante. Eles ganham com a desgraça do Brasil e do Brasileiros. Não só ganham como financiam a desgraça do Brasil e dos Brasileiros.

Elite -- Profissionais pós-graduados, empresários e altos administradores. -- 4,9%

Classe média alta -- Pequenos proprietários, técnicos com especialização e gerentes de grande empresa. -- 7,4%

Nesta tabela onde está as Universidades Públicas ? Onde está a burocracia ? A resposta é só uma: na elite. Por isso, meu caro, não espere que uma Universidade Pública faça alguma revolução ou transformação social relevante, pois os professores das Universidades Públicas pertencem à elite. Eles ganham com as desigualdades, com a pobreza e com a miséria da população e do Povo Brasileiro... Eles enriquecem, mesmo estando inseridos em um mar de desigualdades, pobreza e miséria.

Eu vejo isso claramente e compreendo, por exemplo, porque a USP aprova e apóia projetos de banco para pequeno número de alunos da classe média, mas não aprova e nem apóia projetos de grande relevância e repercussão social que beneficia a coletividade como um todo. A USP não quer política de cotas, alguns professores da USP não querem o Projeto OCW-USP. Não querem porque esta Universidade é um centro de formação dos herdeiros da classe dominante, eles são classe dominante, são elite e a elite não quer mudança social, quer que o status quo se mantenha, que as coisas continuem como estão. Eles ganham com as desigualdades, com a pobreza e com a miséria da coletividade. Eles ganham com a escravidão.

Portanto, a educação que liberta não virá dessa mão que escraviza. A mão que escraviza não quer uma educação que liberta os seus escravos. Logo, as Universidades Públicas não buscam resolver os problemas sociais ou desenvolver políticas sérias que acabem com as desigualdades, com a pobreza e com a miséria. Inclusive é comum ouvirmos professores falando que não é função da Universidade resolver problemas sociais. Dizem que é função da Universidade educar e formar mão-de-obra especializada. Porém, não dizem que a Universidade ministra, para aqueles que conseguem romper a barreira econômica, uma educação que ocasiona escravidão mental; assim como forma os herdeiros dos grupos dominantes, ou seja, perpetua a elite da exclusão e da exploração. A Universidade atual domestica as mentes rebeldes e tenta conformar os inconformados, fazendo-os aceitar como natural e impossível de mudança a realidade perversa que nos assola.

A revolução tem que ser construída nas favelas e nas periferias, pois a mão que escraviza não produz uma educação que liberta. Os oprimidos, os excluídos e os explorados terão que se levantar para tomar o sistema. Os herdeiros dos grupos dominantes e os próprios grupos, apesar do discurso social, não querem nenhuma mudança social relevante. Por isso, desenvolvem planos e idéias que mudam tudo sem mudar nada. Esta é uma das especialidades da USP, fazer planos e projetos que muda tudo sem mudar nada. Ao invés de adotarem as cotas na Universidade, criaram mais um cursinho pré-vestibular...

Mas qual é a educação que liberta ? Qual é a educação que nos livra e nos salva da mão que escraviza ? Certamente, não é a educação atual, pois a educação que temos hoje reproduz e perpetua as desigualdades. É uma educação que usa as desigualdades econômicas para promover desigualdades intelectuais. Os ricos são doutores, pós-doutores, etc... Os pobres chegam no máximo até a oitava série. As Universidades particulares são caríssimas. Logo, excluem os pobres. As Universidades Públicas usam provas vestibulares dificílimas para que os alunos que queiram ser aprovados tenham que fazer cursinhos caríssimos. Logo, as Universidades Públicas também excluem os pobres. Excluem na obrigatoriedade indireta de fazer cursinho caros para ingresso... Este é o mecanismo de poder dos grupos dominantes. Um mecanismo inserido na instituição Universidade Pública para dominar, controlar e perpetuar a elite no poder.

O primeiro mecanismo da elite é impedir que os pobres e miseráveis estudem. E se, apesar da exclusão e exploração, o indivíduo consegue terminar o segundo grau, o mecanismo seguinte, implantado pela elite, é impedir que ele entre na Universidade. E se ele entra, o próximo passo é impedir que ele termine o curso...Certamente, não há uma única pessoa operando isto. Há um sistema por trás disto. Um sistema que foi construído ao longo do tempo e que foi enraizando na nossa cultura. Isso parece natural... Os vestibulares parecem coisas naturais... Os cursinhos parecem coisas naturais... Mas não são. São mecanismos criados para dar oportunidades e estudos para quem tem poder econômico e, simultaneamente, excluir das Universidades Públicas quem não tem poder econômico.

Quem tem poder econômico protege o poder econômico e busca perpetuar os mecanismos de opressão, exclusão e exploração. Quem não tem poder econômico quer mudar tudo isto. Quer quebrar o sistema e instaurar uma nova ordem... Por isso, o poder econômico tenta impedir o acesso das classes baixas à Universidade, à educação e ao cerne do sistema. O vestibular é um mecanismo seletivo econômico. Ele é feito para impedir o acesso às Universidades Públicas dos alunos das classes baixas...Somente quem paga cursinho caro entra nos cursos importantes. Certamente, existem excessões, mas são pontos fora da reta...

Portanto, a educação que liberta tem que ser gratuita e aberta a todos, sem nenhum tipo de barreira econômica excluindo, oprimindo e explorando. A educação que liberta é democrática, é acessível, é transformadora. O conhecimento tem que ser democratizado e socializado. Eu vejo na tecnologia atual uma grande possibilidade de se implantar, como política pública, a educação que liberta. Eu chamo esta educação qe liberta de Ensino Público Gratuito via Internet. E este sistema de ensino público via internet começa com um projeto OCW, ou seja, o Projeto OCW é o primeiro passo para se estabelecer um sistema de ensino público via internet.

Sobre o Projeto OCW-USP
http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/ocw-usp.htm

Repercussões do Projeto OCW-USP
http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/ini9-5.htm

O Projeto OCW-USP e o Ensino Público via Internet
http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/ocw6.htm

O Projeto OCW-USP e o INCLUSP
http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/ini9-7.htm

Os cursos a distância não democratizam o conhecimento e nem socializam os saberes
http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/ini9-8.htm

Comentando o Projeto MIT-OCW
http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/ocw8.htm

Internet e democratização do conhecimento: repensando o processo de exclusão social
http://www.leonildoc.ocwbrasil.org/ini9-11.htm


-------------
O elitismo do ensino superior

Antonio Gois - Coluna Aprendiz
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/a_gois/id240603.htm

O IBGE divulgou neste mês, na Síntese dos Indicadores Sociais, um dado inédito que ajuda a entender o perfil do estudante que consegue chegar na universidade pública.

Pela primeira vez, o instituto pesquisou o perfil socioeconômico do universitário de instituições públicas. O resultado confirma o que já se sabia: a maioria dos estudantes (60%) dessas instituições pertencem à camada dos 20% mais ricos da população brasileira.

Entre os 20% mais pobres, apenas 3,4% estão representados nas universidades públicas. Esses números não deixam dúvida quanto ao caráter elitista da universidade pública. No entanto, sua análise fora de contexto pode levar a conclusões simplistas.

Infelizmente, o IBGE não fez o cálculo do perfil socioeconômico dos alunos das universidades privadas. A pergunta que deveríamos nos fazer é: a universidade particular é mais ou menos elitista do que a pública?

Os números do IBGE não permitem obter essa resposta. No entanto, uma pesquisa já citada muitas vezes nesta coluna, do sociólogo Simon Schwartzman, mostra que o ensino superior como um todo é elitista.

Schwartzman fez o mesmo cálculo com base na Pnad de 1999, quando não era possível separar a rede pública da particular nas análises dos resultados. Sabemos, no entanto, que 70% dos estudantes do ensino superior brasileiro estão na rede privada.
Sabemos também, a partir dos estudos de Schwartzman, que os estudantes que pertenciam aos 20% mais ricos ocupavam 71% das vagas de todo o ensino superior em 1999.

Esse dado não deixa dúvida: não é só a universidade pública que é elitista. Esse é um problema de todo o sistema, e não apenas das instituições mantidas com o nosso dinheiro.

Os dados do IBGE também mostram outra faceta desse elitismo. É comum ouvir o argumento de que o problema do elitismo nas nossas universidades não é delas, mas sim do ensino médio. Em outras palavras, as universidades - públicas ou particulares - receberiam os alunos mais ricos porque o filtro social aconteceria mais cedo, no ensino médio, porque muitos estudantes pobres não conseguiriam completar o ensino médio, condição fundamental para entrar na universidade.
O IBGE mostra que essa afirmação é uma meia verdade.

Do ensino fundamental para o ensino médio, é inegável que existe um filtro social e que muitos estudantes pobres ficam pelo caminho. Na faixa etária de 7 a 14 anos, todas as faixas de renda pesquisadas, da mais pobre à mais rica, a taxa de freqüência escolar é superior a 90%.

Dos 15 aos 17, essa taxa já começa a variar. Entre os 20% mais pobres, 71% estudam. Entre os 20% mais ricos, 94% estudam. Isso mostra que os pobres começam a abandonar o estudo mais cedo, mas nenhum filtro é tão elitista quanto o dos vestibulares.
É na passagem do ensino médio para o ensino superior que as estatísticas mostram que ocorre a maior elitização. Provavelmente, em qualquer lugar do mundo as universidades acabam atraindo os alunos mais ricos. No caso do Brasil, no entanto, os dados deixam claro que essa elitização é mais perversa.

É por isso que é tão importante discutir sobre temas como cotas, aumento de vagas nas universidades públicas, bolsas de estudo, financiamento, cursos para carentes ou qualquer outra proposta com o objetivo de aumentar o acesso dos pobres à universidade, incluindo a mais do que óbvia necessidade de melhorar a qualidade do ensino dado aos mais pobres.

-------------
Escolaridade afeta diretamente o PIB

Estadão Online -- Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA
http://www.estado.com.br/editorias/2007/06/26/ger-1.93.7.20070626.1.1.xml

Em uma geração, País deixa de ganhar R$ 300 bilhões, o equivalente a 16% do Produto Interno Bruto, diz Banco Mundial.

Habituados a ouvir dizer que a baixa escolaridade trava o desenvolvimento, os brasileiros têm agora um número calculado pelo Banco Mundial (Bird) que ajuda a provar o tamanho do estrago social e econômico.

Segundo o banco, o Produto Interno Bruto (PIB) do País deixa de crescer meio ponto porcentual por ano porque um grande contingente de jovens não consegue terminar a escola. Essa porcentagem significa que, em uma geração (40 anos, neste caso), o Brasil deixa de ganhar R$ 300 bilhões, o equivalente a 16% do Produto Interno Bruto.

O estrago e a conta estão no relatório “Jovens em Situação de Risco no Brasil”, divulgado ontem em Brasília. E os custos são muito mais amplos: violência, gravidez precoce, aids, desemprego, abuso de drogas e álcool. Os problemas que cercam os jovens em risco custam caro, tanto em despesas diretas do País quanto no que esse jovens deixam de produzir, para si e para o Brasil.

O diagnóstico do Banco Mundial é duro: “A baixa acumulação de capital humano permite antecipar uma futura geração que não será competitiva nem na região, nem no mundo”, diz o estudo. “Não apoiar os jovens é um custo alto para o País. É um grupo sobre o qual o governo tem de pensar mais”, disse a autora do estudo, Wendy Cunningham, economista sênior do Banco Mundial.

Apesar de uma certa evolução - os jovens brasileiros hoje têm, em média, 8,5 anos de estudo, um a mais do que a geração anterior -, a escolaridade no País é considerada baixa. O estudo mostra que o número de jovens que chegam ao ensino superior no Brasil é o menor da América Latina.

Ingrid Faria Adamo, de 18 anos, parou de estudar em março. Ela cursava o 3º ano do ensino médio noturno quando seu horário de trabalho foi alterado e ela passou a ter de permanecer na empresa de telemarketing até as 21 horas. Enquanto esperava sua transferência para o período matutino na escola, acabou conseguindo trocar novamente de turno no serviço. Ao informar a escola de que poderia voltar a estudar à noite, conta, o diretor disse que ela já havia perdido muitas aulas e provas e que deveria procurar um supletivo. “Ele praticamente me expulsou porque faltei duas semanas”, diz. Hoje, Ingrid - que trabalha desde os 15 anos - ainda procura uma vaga na Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo. “Eu gostava de estudar e quero muito fazer uma faculdade de Arquitetura.'

A CADEIA DA POBREZA

Os R$ 300 bilhões calculados pelo Banco Mundial referem-se diretamente a esse problema: se os jovens brasileiros que deixam a escola completassem apenas o nível de ensino seguinte ao que deixaram de fazer - se um jovem que deixa a escola na 8ª série do ensino fundamental, por exemplo, terminasse o ensino médio -, ele receberia um salário maior. Somados, esses salários (não recebidos) da geração que largou a escola somariam mais R$ 300 bilhões girando na economia nacional.

A pobreza faz com que todos os demais riscos aumentem. Jovens pobres abandonam mais cedo a escola, têm mais dificuldades de encontrar emprego, morrem mais cedo, envolvem-se mais com drogas e correm mais riscos de serem pais ainda muito cedo.

Entre os jovens mais pobres, a taxa de analfabetismo é três vezes a da média nacional. Os que trabalham com carteira assinada representam apenas 1/8 da média do País e 90% dos jovens desempregados vêm de famílias com renda inferior a dois salários mínimos.

De acordo com o Banco Mundial, o Brasil tem uma das menores taxas de desemprego entre jovens da América Latina. Mas, quando comparada com a dos adultos, é alta demais para um País com o nível de atividade econômica que o Brasil tem.

9,5 MILHÕES

O estudo não quantifica quantos jovens brasileiros poderiam ser considerados em situação de risco. O governo brasileiro trabalha com um grupo de 9,5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que estão fora da escola e desempregados. Desses, 4,5 milhões ainda não conseguiram completar nem mesmo o ensino fundamental.

“Esse é o público mais importante. Se atacarmos esses problemas, podemos alcançar os demais”, disse o secretário nacional de Política para a Juventude, Beto Cury.