Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

02/01/2007

A universidade pública hoje

A universidade pública, atualmente, é um centro de formação dos herdeiros dos grupos hegemônicos. Por isso, ela é indiferente aos problemas e às questões sociais e trabalha, quase exclusivamente, na reprodução dos instrumentos de opressão e dominação institucionalizados e vigentes na sociedade. Pior do que isso, esses instrumentos de dominação e controle são reelaborados e redesenhados, nas pesquisas científicas da universidade, para serem mais eficientes e mais lucrativos na exploração das classes excluídas pelos grupos dominantes. Assim, os temas de interesses sociais ou de interesse da maioria da população são relegados ao último plano, para não dizer censurados e arquivados, nos conselhos universitários.

Os alunos, graduandos das universidades públicas, tem um único objetivo, enquanto estão nos bancos universitários, encontrar um caminho rápido para o enriquecimento. Se não são ricos, querem ficar ricos. Se são ricos, querem ficar ainda mais ricos. Já os professores preferem buscar mecanismos que dobrem a renda pessoal e levem-nos rumo ao estrelato acadêmico de forma rápida e fácil. Quem não faz isso, quem não pensa assim, são excluídos do sistema, das bolsas e das pesquisas, pois ameaçam a "ordem que mascara a realidade e que manipula interesses: uma ordem que reinventa a moral sob o signo da necessidade e que caminha leve e inescrupulosamente com a hipocrisia, ou seja, que muda tudo para nada mudar."

Pior, pensar em problemas e questões sociais dentro da universidade pública, principalmente na USP, é caminhar para o insucesso acadêmico, pois ninguém está disposto a orientar pesquisas e estudos que versem sobre esses temas ou que possam repercutir socialmente. Por exemplo, não se estuda a criminalidade organizada nos presídios, a descriminalização das drogas, etc. Preferem perder tempo e dinheiro público produzindo "basura" intelectual.

Certamente, existem professores, pesquisadores, funcionários e alunos, assim como grupos de pesquisas, que lutam ferozmente e bravamente contra esse tipo de mentalidade e comportamento. Contudo, esses lutadores são minoria e como toda minoria são massacrados pelos imperialistas da universidade. Quando esses atores minoritários buscam verbas para pesquisas sociais recebem, logo no primeiro pedido, um não bem grande e ameaçador. Não há dinheiro para pesquisas e projetos que beneficiem a coletividade ou a maioria da população. Porém, sobram recursos para projetos que beneficiam empresas privadas.

Basta observar os movimentos de patenteamento de tecnologias desenvolvidas nas universidades públicas. Em nome de quem são registradas essas patentes, ou seja, quem é o dono da patente e quem ganha com a exploração dos produtos?

Inclusive, é pertinente citar aqui, eu fiz alguns projetos de pesquisa para estudar a criminalidade organizada nos presídios, outro para analisar a descriminalização das drogas, etc e fui devidamente ignorado pelos professores para os quais enviei tais projetos. Não há interesse em estudar essas questões ? Por que ? Por isso, eu decidi bancar sozinho essas pesquisas e, quando terminá-las, irei apresentá-las em universidades estrangeiras, ou seja, bem longe dos intelectuais macunaímas que povoam as universidades públicas brasileiras. Esse é o caminho mais rápido para se contornar o poder dos grupos dominantes que controlam, desvirtuam e parasitam as finalidades das universidades públicas.

Nesse contexto, os interesses sociais que deveriam ser perseguidos pela universidade pública, alimentada com recursos coletivos, são meros detalhes inconvenientes que devem ser esquecidos e ignorados. Assim, predomina dentro dessas instituições o pacto universitário dos parasitas macunaímas, ou seja, ninguém fala, trabalha ou cobra ações, pesquisas e interesses sociais ou coletivos no âmbito da universidade. Com isso, os problemas e as questões sociais são afastadas das políticas e pesquisas universitárias, sem ocasionar dor de consciência em ninguém. E se alguém de fora insinua algo sobre esse assunto, mudam logo de conversa então adotam a estratégia versátil: fazer uma exposição justificadora em linguagem arcaica, ou seja, explicar minuciosamente a questão sem dizer absolutamente nada. Essa última estratégia é muito utilizada pelo João Plenário no programa Praça é Nossa do SBT. Nas universidades públicas isso está em toda parte, principalmente nas salas de aulas.

Eu não defendo a destinação exclusiva de recursos públicos para pesquisas sociais. O que eu defendo é uma divisão igualitária desses recursos. Metade para tecnologia e metade para estudos sociais. Hoje mais de 80% dos recursos são destinados para tecnologia. Por que isso ? De que adianta ter tanta tecnologia e continuar imerso num mundo de violência, criminalidade e miséria.

Os docentes universitários, principalmente da USP, preferem orientar trabalhos de pouca relevância e repercussão social pois, assim, não são questionados em suas tarefas, ou seja, ganham dinheiro sem ter que mostrar resultados relevantes. Logo, ninguém vai observar a falta de qualidade, criatividade e a irrelevância do trabalho ou a repetição de coisas que já foram feitas em pesquisas de outras universidades, etc. Se não acredita no que estou dizendo, rastreie as pesquisas que estão sendo desenvolvidas hoje nas universidades públicas brasileiras, assim você vai verificar que 90% dessas pesquisas não servem para nada, são dinheiro público jogado no lixo, ou melhor, dinheiro público jogado no bolso dos pesquisadores e orientadores macunaímas, ou seja, a coletividade paga caro pela produção de basura intelectual.

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