Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

13/05/2009

QI

Tenho observado que andam disseminando, na web, testes de QI... Pelo visto estão interessados em descobrir pessoas com QI alto... Por que será ???

De uma forma ou de outra considero os testes de QI uma estupidez... Acertar esses testes é uma questão de técnica e de fazê-los antecipadamente... Basta obter os modelos dos testes para acertar todas as questões... O que mostra que tais testes não medem inteligência.

Além disso, é válido considerar que grandes cientistas tem, supostamente, QI alto. Porém, a maioria daqueles que tem QI alto não são grandes cientistas ou coisa parecida...

E eu iria além...faria a intersecção de dois grupos: de um lado aqueles que tem QI alto, do outro lado aqueles que fizeram coisas relevantes para a humanidade... Bem, se há relação entre ambos, os números devem ser próximos... Contudo, certamente, se observará que o número daqueles que fizeram coisas relevantes para a humanidade é infinitamente menor do que o número daqueles que tem QI alto...

Portanto, tem muita gente que tem QI alto que não faz nada relevante para a humanidade e nem são melhores do que as demais pessoas...

Isso mostra que ter QI alto não significa nada... Não significa que o indivíduo é mais inteligente e nem que fará alguma coisa relevante para a humanidade... As motivações são outras !!!

Inclusive, acho que é uma estupidez relacionar testes de QI com inteligência... Na minha perspectiva inteligência é capacidade de estabelecer conexões, de estabelecer novas conectividades, de conectar coisas não conectadas... Inteligência é ver as coisas de uma forma diferente e resolver problemas de forma otimizada, com perdas e danos mínimos...

Por um fio
Alexandre Calandra

Há algum tempo, fui procurado por um colega que me perguntou se eu estaria disposto a ser árbitro numa disputa com um aluno de física num exame final. Ele queria dar nota zero na prova, enquanto o aluno insistia que deveria receber nota dez se o sistema fosse justo. O professor e o aluno concordaram em submeter a questão a um árbitro isento, e eu fui escolhido.

Fui à sala do meu colega e li a questão: "mostre como é possível determinar a altura de um prédio de vários andares com o auxílio de um barômetro."

O estudante havia respondido: "leve o barômetro ao topo do edifício, amarre um fio e deixe o barômetro descer até o chão. Traga-o para cima medindo o comprimento do fio. O comprimento do fio será igual à altura do edifício".

Eu disse ao meu colega que o aluno tinha razão de exigir a nota máxima, pois tinha respondido a questão correta e completamente. Por outro lado, a nota dez indicaria uma alta competência em física, o que não parecia ser o caso. Sugeri então que fosse dada uma nova oportunidade ao aluno. Meu colega concordou mas, surpreendentemente, o aluno reagiu. Afinal, aceitou, e dei a ele seis minutos para uma nova tentativa, não sem antes alertá-lo de que a resposta deveria demonstrar algum conhecimento de física.

Ao final de cinco minutos o aluno não havia escrito nada. Perguntei-lhe se queria desistir e ele respondeu que não. Disse que tinha várias respostas ao problema e estava pensando qual delas seria a mais adequada. No minuto seguinte, escreveu a resposta: "leve o barômetro ao topo do edifício. Deixe o barômetro cair, cronometrando o tempo que leva para atingir o solo. A altura do edifício é a aceleração da gravidade vezes o quadrado do tempo que o barômetro levou na queda livre."

Perguntei então ao meu colega se ele queria desistir. Concordou e dei ao aluno nota oito.

Saindo da sala, lembrei-me que o aluno havia dito que tinha outras soluções para o problema e quis saber quais eram.

"Bem”, disse ele, “há muitas formas de se conseguir medir a altura de um edifício alto com ajuda de um barômetro. Por exemplo, você poderia pegar o barômetro em um dia ensolarado, colocá-lo de pé, e medir a sua sombra. Depois medir a sombra do edifício e, através de uma simples regra de três, concluir a altura do edifício."

"Muito bem", disse-lhe," e as outras?"

"Sim, tenho uma solução que vai agradá-lo. Comece a subir as escadas marcando na parede o tamanho do barômetro. Quando chegar ao topo conte quantas marcas fez na parede e terá a altura do edifício em unidades de barômetro. Depois é só multiplicar pela altura do barômetro. Um método bastante direto. E se você quiser um método mais sofisticado, é só amarrar o barômetro com um fio, balançando-o como um pêndulo e determinar a aceleração da gravidade ao nível do solo, depois repetir a operação no topo do edifício. Pela diferença de g você pode, em princípio, determinar a altura do edifício. Há muitas maneiras de medir a altura do edifício, talvez a melhor seja ir ao subsolo e procurar a sala do síndico. Bata na porta, e quando o sindíco atender, diga-lhe: Senhor síndico, eu tenho aqui um excelente barômetro. Se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro."

A estas alturas, perguntei ao aluno se ele realmente não conhecia a resposta convencional a este problema. Ele confessou que sabia, mas estava cansado de professores que queriam ensiná-lo a pensar usando o enfoque científico de uma forma padronizada, explorando as soluções de forma previsível, ao invés de ensinar a estrutura dos assuntos abordados.

Alexandre Calandra é membro do Departamento de Física da Universidade Washington, St. Louis, Missouri. Este artigo foi extraído do seu livro "The Teaching of Elementary Science".