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26/08/2006

Carro elétrico já Acelera mais que a Ferrari

Novo modelo, o Tesla Roadster, deixa para trás a imagem de veículo pequeno, lento e de bateria fraca

Dan Glaister - 26/08/2006 - Estadão Online

Algo muito, mas muito errado está ocorrendo. Estou voando pelas estradas ladeadas de ciprestes de Pebble Beach, na Califórnia, sendo perseguido pelo barulho de um secador de cabelo. Ou ao menos é esse o tipo de som que estou ouvindo.

“Está acostumado a dirigir muitos carros de alto desempenho?”, pergunta Mike Harrigan, um executivo da Tesla Motors. Ele está sentado no banco do passageiro enquanto eu assumo o volante do seu veículo de US$ 100 mil, e observa meu progresso como se o futuro do planeta dependesse deste carro - o que, de certa forma, talvez faça sentido. O Tesla é um veículo diferente de todos os outros, um carro elétrico que desconcerta as expectativas sobre a direção amigável ao meio ambiente. Eu respondo de forma afirmativa, embora não esteja certo de que meu Toyota Corolla se encaixa na definição dele de alto desempenho.

Construído pela Lotus na Inglaterra usando componentes de várias partes do mundo - a bateria vem da Tailândia, o painel de instrumentos, da África do Sul - e desenhado por uma equipe de engenheiros que trabalha no Vale do Silício, o Tesla é uma resposta silenciosa e muito rápida à idéia que todos os veículos elétricos têm de se parecer com carrinhos de golfe, andar devagar e precisar ser recarregados a cada sinal de trânsito.

A julgar pelas alegações do fabricante, o Tesla se garante contra outros carros de alto desempenho, mais tradicionais. Certamente, tem aparência clássica e pedigree: é montado na linha de produção do Lotus Elise em Norwich. Acelera mais rápido que uma Ferrari Spider e é suficientemente veloz para deixar um Mercedes SL550 para trás. Ainda assim, calcula-se que o custo com eletricidade do Tesla para andar seja de apenas um cent por milha. A empresa se vangloria de o carro ter o dobro da eficiência no consumo de combustível em relação a carros híbridos como o Toyota Prius.

Diferentemente de outros carros elétricos, o Tesla tem duas caixas de câmbio que conduzem o carro à sua velocidade máxima de 210 quilômetros por hora - uma com opção de alto torque e uma segunda com um ritmo de aceleração mais lento.

Como o Lotus, o Tesla tem carroceria de fibra de vidro, mas é mais pesado. Do seu peso total de 1.133 quilos, 450 quilos correspondem ao peso da bateria, composta de 6.831 células de íons de lítio arrefecidas por líquido do tipo usado para fazer funcionar laptops. A Tesla promete que a bateria pode ser recarregada em cerca de três horas de uso, tem autonomia de 400 quilômetros e uma vida útil de ao menos 160 mil quilômetros, após o que pode ser reciclada.

Quando Harrigan me entregou a chave, eu a enfiei no contato da coluna da direção, girei-a e esperei. Nada aconteceu. “Primeiro você precisa pôr o cinto de segurança, se não o carro não anda”, diz Harrigan.

Pus o cinto e girei a chave. Uma série de símbolos se acenderam no painel de instrumentos. Virei a chave um pouco mais até ouvir dois cliques fracos separados por alguns segundos. Harrigan me diz que eu posso ir. Pressupus que estivesse brincando. Onde está o rosnado o feroz do motor? Mas não há nenhum rosnado.

“Será que vocês não deviam instalar um alto-falante com uma gravação do motor de um carro esportivo?”, pergunto a Harrigan. Ele sorri, não achando muita graça. “Você não acreditaria quanta gente sugere a mesma coisa”, diz. “Mas este é um carro com emissão zero e isso inclui emissão de ruído zero. Todos nós tivemos que nos acostumar ao barulho de secador e gostamos dele.”

A empresa já vendeu 100 unidades do Tesla Road, com início das entregas previsto para o início do próximo ano. Mas, por enquanto, só está à venda em algumas cidades dos EUA.