Democratizar o conhecimento e socializar os saberes como ferramenta para transformação social e econômica. Democratizar e socializar para reduzir as desigualdades regionais. Democratizar e socializar para dar oportunidades. Democratizar e socializar para dar esperanças e certezas de um futuro melhor. O poder transformador do conhecimento, monopolizado e retido nas melhores Universidades Públicas, tem que ser disseminado, gratuitamente, para toda a sociedade.

27/06/2006

Docentes da USP criticam novo vestibular


As caixas postais da Universidade de São Paulo amanheceram ontem lotadas de e-mails --mais de cem deles comentando o manifesto lançado por um grupo de professores contrários à forma encontrada pela instituição para mudar o seu vestibular.

Figurões da vida acadêmica, como os docentes Henrique Fleming, do Instituto de Física, Eunice Ribeiro Durhan, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, e Sylvio Ferraz Mello, do Instituto Astronômico e Geofísico, uniram-se a (até ontem à noite) 87 colegas na subscrição de um texto que critica a "falta de definição clara das regras do vestibular": "Em qualquer concurso público, o formato dos exames deve ser conhecido pelos candidatos com antecedência".

O próximo vestibular, que escolherá os ingressantes de 2007 na USP, será o 30º da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular). Uma das alterações previstas é a redução do número de questões da primeira fase.

Os cem testes deverão ser reduzidos a 90, e as perguntas deverão ter "caráter interdisciplinar", ou seja, deverão relacionar disciplinas --como acontece no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), considerado mais fácil.

A discussão entre os professores da USP já vinha acalorada desde que o Conselho Universitário aprovou "premiar" com um bônus de 3% na nota final do vestibular todos os candidatos que cursaram o ensino médio em escolas públicas --medida considerada "populista" por muitos docentes.

O tom elevou-se após a pró-reitora de graduação (que tem assento no conselho curador da Fuvest), Selma Garrido Pimenta, dizer em entrevista não saber se será feita a divulgação prévia do número de questões por matéria, como vem ocorrendo há anos.

Dirigentes de cursinhos e vestibulandos criticaram a resposta, dizendo que gerava incertezas que aumentavam ainda mais a tensão do candidato.

Apesar disso, ontem, o professor José Coelho Sobrinho, coordenador de Comunicação da Fuvest e docente da Escola de Comunicações e Artes, reafirmou que o manual do próximo vestibular, a ser ultimado "em meados de julho", não deverá conter informações sobre o número de questões de cada disciplina. "Segundo as informações de que disponho, constará apenas o número total de questões: 90", disse.

Os 90 signatários do manifesto são ainda poucos, se comparados ao total de docentes da USP (5.000). Mas resolveram fazer barulho porque acham que as "mudanças bruscas nos métodos de avaliação [dos candidatos a ingressar na universidade] feitas sem estudos e discussões mais aprofundadas podem levar a resultados indesejados, colocando em risco a qualidade do ensino na USP".

A matriz das mudanças em curso no vestibular da USP atende pelo nome de Inclusp, programa de inclusão social da USP. A idéia-força do Inclusp é aumentar a presença na universidade de estudantes provenientes da escola pública --hoje, apenas 23,6% do total de ingressantes na USP.

Por intermédio da assessoria de imprensa, a reitoria disse "que as mudanças no vestibular estão sendo analisadas há quatro, cinco anos pelos conselhos de todas as unidades e que, mesmo não tendo recebido oficialmente o texto do manifesto, pedirá aos órgãos técnicos da instituição que o analisem para eventual aproveitamento".