Segundo relatório, censura eletrônica estaria acontecendo praticamente em todos os continentes
Regimes repressivos estão tirando vantagem da facilidade de censurar e restringir o debate na internet, afirma um relatório dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o grupo de pressão que denuncia ameaças à liberdade de expressão e de imprensa.
O relatório sobre ameaças à liberdade de expressão tem uma parte dedicada à internet e ao aumento da censura à rede.
A censura eletrônica estaria acontecendo praticamente em todos os continentes.
Apesar de a internet estar mudando a forma com que a mídia trabalha, com o aparecimento de blogs, de fóruns de discussão e de sites de relacionamento como o Orkut, que transformam consumidores passivos em críticos ativos, não são só os cidadãos que se beneficiam do poder da tecnologia, alerta o relatório.
Ditadores
Julien Pain, um dos autores, afirma que "todo mundo está interessado na internet - especialmente os ditadores".
Pain afirma que muitos têm sido "eficientes e inventivos" ao usar a internet para espionar os cidadãos e censurar o debate.
Em vários países a internet era o único meio de comunicação sem censura e o lugar onde as pessoas buscavam notícias que não ouviriam nunca de fontes oficiais.
Mas, de acordo com o relatório, os governos acordaram para o fato de que os dissidentes estão ativos online. Muitos agora censuram blogs e prendem seus autores.
No Irã, por exemplo, Mojtaba Saminejad está preso desde fevereiro de 2005 por divulgar na rede material considerado ofensivo do Islã.
A China foi a nação que mais recebeu críticas em seus esforços de censurar e monitorar os internautas.
De acordo com o relatório, o país estaria interessado no início em monitorar dissidentes políticos. Mas de dois anos para cá, o governo chinês estaria tentando monitorar insatisfações mais gerais da população, justamente porque a internet facilita a comunicação.
O sucesso da censura na China significa que o país conseguiu produzir uma versão "limpa" da internet para os 130 milhões de cidadãos que usam a rede com freqüência.
Empresas ocidentais têm sido criticadas por ajudar a filtrar a internet para os chineses, que seria o governo que mais prendeu pessoas pelo que elas disseram online. O total chegaria a 62.
Internautas também foram presos no Egito, no Irã, na Líbia, nas Maldivas, na Síria, na Tunísia e no Vietnã.
E o Zimbábue estaria, segundo os Repórteres Sem Fronteiras, comprando tecnologia diretamente da China para ampliar seus esforços de censurar a internet.
Outras nações acusadas de censura eletrônica incluem Burma, Cuba, Nepal, Coréia do Norte e Arábia Saudita.
Normalmente o filtro envolve impedir o acesso a sites pornográficos, mas há casos em que os bloqueios envolvem sites críticos de governos ou sites religiosos.
No Turcomenistão é proibido ter conexão de internet em casa e o governo restringe o uso de internet cafés, mais fáceis de controlar.
Em Burma, páginas como a do Hotmail e do Yahoo têm acesso proibido e a cada cinco minutos há uma varredura do que as pessoas estão acessando em internet cafés.
Mas não foram só os estados repressores os criticados pelo relatório.
A União Européia também recebeu críticas por deixar a decisão de bloqueio de sites nas mãos das empresas provedoras.
Segundo os RSF, a UE criou um "sistema privado de justiça" no qual técnicos tomaram o lugar dos juízes.
Os RSF também criticaram as empresas ocidentais por venderem tecnologias para governos repressores e ajudá-los a monitorar o que as pessoas fazem online.